Alguns problemas

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A abertura da clínica no dia seguinte manteve Lauren ocupada, impedindo que se deixasse dominar pela frustração e raiva depois daquele encontro com sua patroa.

A visão da clínica com as portas abertas para os primeiros pacientes a alegrou um pouco.

Ariana veio mais tarde e Lauren sorriu vendo sua assistente entrar, vestida com um conjunto de saia e blusa brancas, como uma enfermeira.

Tudo levava a crer que a moça estava disposta a trabalhar: tinha chegado na hora combinada e estava vestida com discrição.

No decorrer do dia, Ariana se mostrou muito entusiasmada com o novo emprego.

Quando o primeiro paciente entrou, Lauren constatou que a utilidade de sua assistente não se resumia aos talentos de enfermeira.

Ariana conhecia todos os moradores da ilha.

E com muito orgulho de sua posição, apresentava cada paciente à Dra. Jauregui, enfatizando os títulos de Lauren como uma maneira de se valorizar também.

Para quebrar o constrangimento dos pacientes naquela primeira consulta,

Ariana perguntava sobre a família, comentava sobre os últimos acontecimentos dos jornais e sempre encontrava um modo sutil de introduzir o motivo do paciente ter procurado um médico.

O primeiro paciente foi um velho de aparência frágil e seus olhos brilhavam quando falou no retorno do filho à ilha, voltando a ficar severo ao lembrar da partida que deveria acontecer em breve. A observação dessas reações contou mais a Lauren sobre a provável origem das dores de cabeça crônicas do homem, do que qualquer exame neurológico.

— Como está o seu estômago, Sra. Johnston? — Ariana conversava com uma senhora obesa. — Tem conseguido comer direito?

Através daquela conversa aparentemente trivial e da reação da paciente, Lauren teve o palpite de que a Sra. Johnston sofria, na verdade, de hipocondria. Parecia gostar de se vangloriar de suas doenças.

É claro que Lauren não pretendia se basear apenas em diagnósticos intuitivos, mas sabia que a amizade de Ariana com os moradores poderia ser um trunfo. Seria um meio de se aproximar dos pacientes e ser vista como uma pessoa como qualquer outra na ilha e não como uma criatura onipotente, com poderes sobrenaturais.

À primeira vista, o método parecia funcionar. Os pacientes chegavam ansiosos para a consulta, ao mesmo tempo orgulhosos porque a ilha tinha agora seu próprio médico, e curiosos para conhecer a moça de aparência frágil que ocupava esse cargo de prestígio e responsabilidade.

Enquanto Ariana preparava o espírito dos pacientes, Lauren; os observava e sentia que também era observada. Quando a conversa entrava em sua área, tomava as rédeas de sua assistente e mostrava seus conhecimentos, questionando-os com calma.

Nem todos os pacientes daquela primeira manhã de trabalho eram como o velho e a mulher obesa. Isto é, pessoas que procuravam no médico uma assistência mais psicológica do que propriamente física

Alguns vinham com os joelhos esfolados, picadas de abelhas e dor de garganta. Enfim, dores superficiais tratadas em casa por anos a fio e que, uma vez passada a curiosidade pela nova médica, voltariam a ser curadas com receitas caseiras.

Mas, sendo o primeiro dia de funcionamento da clínica, muitos arrumaram um pretexto para ter uma consulta. Afinal, era um acontecimento memorável na ilha.

O movimento começou aos poucos, mas perto da hora do almoço era intenso. Eram duas horas e a sala de espera continuava cheia de gente, e quando Ariana foi fechar a porta às três teve que mandar muitos voltarem no dia seguinte.

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