Lauren acordou algumas horas depois, com a claridade de um dia radiante invadindo o quarto. A tempestade já tinha passado, deixando apenas um cheiro de umidade no ar.
Espreguiçou-se, lembrando que era domingo. Não tinha marcado nenhum compromisso e, a não ser por alguma emergência, teria o dia todo para descansar.
Levantou preguiçosamente da cama, adorando a idéia de ter algumas horas livres.
Não era preciso se vestir correndo e nem tomar um copo de suco de laranja às pressas, antes de atender o primeiro paciente.
Foi até o banheiro lavar o rosto e olhou-se no espelho. Tinha que admitir: o fato de ter o dia livre não era o único motivo de estar tão bem disposta.
Estava apaixonada!
Só de pensar na noite passada, seu coração era invadido por uma avalanche de emoções que não sabia explicar, embora tivesse certeza de que era amor.
Nunca havia se sentido assim e o fato de estar sentindo isso por uma mulher não lhe causava desconforto, muito ao contrário, se sentia extremamente bem com isso.
Em algum ponto da viagem entre Halekai e Boa Providência; em algum momento entre o primeiro olhar de Camila naquela noite e a despedida com um beijo afetuoso; de algum modo, em meio a casais dançando ao som de uma música romântica, Lauren tinha encontrado o amor.
Cada momento daquela noite memorável em Halekai voltou à sua mente. Podia sentir o perfume das flores e ouvir o som dos violinos, como se ainda estivesse naquele jardim encantado.
Seus sentidos pareciam mais aguçados do que na noite anterior e lembrava do gosto da comida e do vinho, assim como das palavras do governador e dos outros convidados, não esquecendo do homem que a tirou para dançar. E lembrava também de Camila.
Tudo sobre Camila estava gravado em sua memória. Era só fechar os olhos e ver a admiração brilhando no fundo daqueles olhos castanhos. A lembrança daqueles braços em sua cintura enquanto dançavam era tão forte que ansiava por poder abraçá-la outra vez. E o toque de seus lábios estava mais vivo do que nunca na memória.
No aconchego do quarto, cada lembrança era muito agradável.
Até mesmo a viagem de volta ganhou um novo significado. O fantasma do medo não a assombrou mais enquanto pensava em Camila pilotando o avião com segurança, através da tempestade.
Lembrou de sua piscada marota, lhe dando mais confiança e esperança. Sem dúvida, era uma mulher em quem se podia confiar. Uma mulher para amar.
Começou a dançar na ponta dos pés pelo quarto, sentindo-se leve como uma pluma. Ninguém iria censurá-la; estava sozinha e podia fazer o que bem entendesse dentro da própria casa. Podia conversar sobre seu amor com a cama ou o guarda-roupa, com a vantagem de que não teria seu segredo traído.
Deu mais um rodopio e parou bruscamente, quando uma idéia perturbadora passou por sua cabeça. Não podia contar a ninguém. Não queria falar com ninguém sobre isso.
Na verdade, estava com medo de falar sobre seus sentimentos, pois não tinha certeza de que era correspondida.
Deitou de novo na cama e ficou com o olhar cravado no teto branco. No silêncio, viu os acontecimentos da noite passada sob um outro ângulo.
Camila não tinha falado de amor. Dissera apenas que a queria, que a desejava.
Não duvidava da sinceridade desse desejo, mas era provável que não existisse mais nenhum sentimento a não ser paixão.
Lauren correspondia a essa paixão, não podia negar, mas sentia muito mais que isso.
Por outro lado, sabia que na noite anterior, tudo contribuiu para aproximá-las. O êxtase da dança, a intimidade das palavras que trocaram, o medo durante a viagem de volta. Suas emoções estavam menos controladas que de costume e suas defesas foram por água abaixo. Precisava ser abraçada e protegida e Camila estava por perto.
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ILHADAS
RomanceVidros de remédio quebrados, aparelhos cirúrgicos destruídos, fichas jogadas pelo chão do consultório... Laurem Jauregui olhava ao redor, sentindo lágrimas embaçarem aquela visão aterrorizante. Que razões alguém teria para querer fazê-la desistir de...