Incógnitas

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Depois que Camila saiu, Lauren começou a examinar a destruição do consultório. Em toda parte, encontrava evidência da ação dos vândalos que tinham depredado o lugar.

Só podiam ser criminosos.

O que estava além de sua compreensão era por que tinham feito aquilo.

Os olhos de Lauren se encheram de lágrimas.

Parecia que toda vez que começava a sentir-se em casa naquela ilha, toda vez que sentia a aceitação e gratidão das pessoas, alguma coisa acontecia para frustrar sua felicidade.

Tinha ajudado Kiri Lawrence a ter seu filho e, mais importante ainda, começava a se integrar realmente naquela comunidade.

Quando o bebê nasceu, Kiri tinha sorrido timidamente para as vizinhas que vieram para oferecer seu apoio.

Lauren se identificava um pouco com Kiri, primeiro assustada e desorientada, para depois ser aceita pelas pessoas que a cercavam.

No seu caso, porém, parecia que alguém não estava satisfeito com sua presença na ilha.

E a reação de Camila, tão inesperada quanto cruel, foi um duro golpe. Já era ruim saber que não era desejada e ver seu consultório destruído, mas o desprezo de Camila... esse não podia suportar.

Pensando com calma, percebeu que estava sendo injusta com os moradores da ilha. A maioria parecia não só aceitar a nova médica, como também gostar dela.

As poucas pessoas com quem comentou sobre os incidentes misteriosos na clínica insistiram em afirmar que se tratava do trabalho de uma só pessoa ou, quando muito, de um pequeno grupo.

Não ousaram insinuar nomes, mas todos eram unânimes em dizer, repetidas vezes, que sua vinda para a ilha foi a melhor coisa que aconteceu e que gostariam que ficasse mais tempo.

E para ser honesta com Camila, compreendia que uma reação de raiva era natural, já que era evidente que estava sendo pressionada.

Ainda assim sentia uma pontada no coração quando lembrava que Camila não tinha negado seu envolvimento com Ariana.

Ficou parada no meio do consultório, remoendo a dor.

Camila tinha dito que mandaria gente para limpar o lugar e por isso não mexeu em nada, a não ser nas fichas dos pacientes.

Não as deixaria espalhadas pelo chão ou sobre a mesa, onde qualquer um poderia pegar.

Mas deixou a bagunça intacta.

Por mais que Camila estivesse zangada, não fugiria ao seu dever.

— Pelo menos, não vai querer incomodar sua querida Ariana. — disse para si mesma, enquanto procurava uma folha de papel para começar a fazer o levantamento. — Camila cumprirá sua obrigação moral com a clínica... contanto que eu olhe por Ariana. Muito justo!

Tremendo de raiva, teve que se concentrar para começar a fazer o levantamento.

Andou com todo cuidado pelo consultório, examinando as caixas viradas de ponta cabeça e as prateleiras dos armários para ver o que estava faltando e o que estava quebrado.

A lista foi aumentando aos poucos.

Era um frasco de remédio faltando na prateleira e outro espatifado no chão, uma cadeira com a perna quebrada, que pelo menos ainda podia ser consertada, ao contrário de alguns equipamentos médicos, irreparavelmente danificados.

O trabalho parecia não render enquanto os minutos se arrastavam e, depois de quase uma hora, começou a sentir o corpo exausto.

Era como se a tensão emocional causada tanto pela depredação da clínica quanto pela discussão com Camila fossem demais para seu organismo suportar.

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