Mundo de tempestades

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Os minutos se arrastavam e o carro nunca parecia chegar ao pé da montanha.

Camila estava mais concentrada que nunca no trajeto e, percebendo que o tempo só piorava, Lauren entendeu e respeitou seu silêncio.

Os limpadores de pára-brisas não conseguiam dar conta do volume da chuva.

Os galhos mais baixos batiam no carro e troncos derrubados pela tempestade ameaçavam bloquear a passagem.

Além dos destroços que se amontoavam na estrada, ameaçando a segurança, Camila ainda tinha que se preocupar em não deixar o carro atolar na lama.

As flores no caminho estavam curvadas com a violência da chuva e não se via um pássaro sequer.

O único som que se ouvia era o zunido das rajadas de vento.

Mais de uma vez, Lauren pensou que não conseguiriam terminar a viagem.

Na melhor das hipóteses, teriam que abandonar o jipe e andar o resto do caminho.

Mas isso não a assustava.

Com Camila a seu lado, não tinha medo de nada.

Finalmente, fizeram a última curva daquela estrada sinuosa e entraram na estrada pavimentada que os levaria para a aldeia.

Mesmo coberta de lama, aquela estrada era um sinal bem-vindo de civilização.

Lauren não conteve um suspiro de alívio.

Mal podia esperar a hora de tirar aquela roupa molhada e mergulhar numa banheira cheia de espuma.

Subitamente, notou que não estavam indo para a aldeia e ficou perplexa.

— Para onde estamos indo, Camila?

— Para a minha casa. — foi tudo que disse, ainda mostrando relutância em falar.

— Mas... preciso voltar para a clínica. Vão precisar de mim, ainda mais se a tempestade continuar tão forte por muito tempo.

Camila continuou irredutível.

— Você não poderá ajudar ninguém, se pegar uma pneumonia.

— Mas...

— A minha casa fica muito mais perto. Levaríamos mais meia hora para chegar na sua. — Como Lauren não parecesse satisfeita, Camila acrescentou, com um meio sorriso: — Não se preocupe. Prometo que a levarei para casa assim que estiver seca.

Lauren ficou vermelha e não conseguiu pensar em nenhum argumento para não aceitar aquela sugestão que embora parecesse razoável, ficou perturbada.

O silêncio durou até Camila estacionar diante da Casa Grande, tão imponente sob aquela chuva como sob o mar de uma noite tropical.

Lauren saiu correndo para a varanda, seguida por Camila.

— Subindo as escadas, à esquerda — Camila instruiu, vendo-a hesitar. E como Lauren continuasse parada, ela concluiu que estava cansada demais para se mexer e sugeriu: — Quer que eu carregue você até lá em cima?

— Oh, não! Posso ir sozinha, mas é que... Bem, para onde devo ir?

— Tem um quarto de hóspedes no fim desta escada. É a primeira porta à esquerda. Achei que gostaria de tirar essa roupa molhada, tomar um banho, sei lá. Faça o que quiser.

Lauren estava exausta e não conseguia pensar com clareza.

Toda agitação daquele dia; desde o desafio da viagem ao topo da montanha, a falsa emergência que a levou até uma cabana desabitada e o difícil retorno com Camila, tudo isso abalaria os nervos de qualquer um e Lauren ficou confusa. Não sabia o que fazer ou o que dizer.

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