Dai-me paciência

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Fosse sonho ou realidade, a verdade é que as palavras de Camila continuavam na cabeça de Lauren quando acordou de um sono profundo e revigorante. Ficou mais algum tempo na cama para aproveitar ao máximo aquele momento de folga antes de voltar ao trabalho.

Ainda nem estava vestida quando a Sra. Grande bateu na porta.

— Entre!

— Bom dia, minha querida. Ouvi seus passos no quarto e achei que gostaria de uma xícara de chá.

— Gostaria sim, muito obrigada. — Lauren pegou a xícara e sentou na beira da cama. — A energia já voltou?

— Sim, voltou algum tempo atrás, logo depois que o Srta. Cabello saiu. Devem ter finalmente conseguido consertar o gerador.

Lauren lembrou das circunstâncias suspeitas em que Pete tinha sido encontrado, mas não sabia o que Camila tinha contado para aquela senhora e decidiu não falar nada.

— E Pete? Dormiu o tempo todo?

— Sim. O Srta.  Cabello me pediu para chamar você se notasse qualquer alteração nele, mas felizmente não aconteceu nada.

— Acho que só consegui dormir tão bem porque sabia que a senhora ficaria de olho nele. Obrigada.

— Ora, não precisa agradecer. Já terminou o chá? — Estendeu a mão para pegar a xícara.

— Sim, obrigada. Agora, a senhora pode ir para casa e descansar. Cuidarei de Pete.
A Sra. Grande balançou a cabeça.

— Nada disso. O Srta.  Cabello me pediu para ficar e ajudar no que fosse preciso hoje, já que está sem assistente e muita gente deverá aparecer depois da forte tempestade de ontem.

Lauren não protestou, embora soubesse que não precisaria de uma assistente. Pete não daria trabalho nos próximos dias, imobilizado como estava pelo gesso.

Por outro lado, não queria dispensar a companhia da viúva. O encontro com Camila na noite passada a deixara apreensiva e não gostava da idéia de ficar sozinha com ela quando se encontrassem de novo.

No final do dia, ficou agradecida pela presença da Sra. Grande. A clínica foi procurada por muitos pacientes e Pete exigiu mais atenção do que se previa quando voltou a si.

Ele precisou ficar em observação por causa da grande quantidade de sangue perdido, que o deixou muito debilitado. Seu organismo aceitava os antibióticos sem problemas, mas rejeitava a medicação para anestesiar a dor.

Estava fraco demais para suportar as doses de narcótico necessárias para aplacar a dor. Quando se aumentava a dosagem do medicamento, sua pressão caía e Pete entrava num estado de semi-inconsciência.
Por outro lado, quando ingeria menos droga, não parava de gemer de dor e não conseguia descansar como deveria para se recuperar rapidamente.

A única solução foi examinar o paciente a pelo menos cada meia hora para ajustar a dosagem de medicação, tendo a precaução de não deixá-lo sozinho em hipótese alguma.

A clínica ficou movimentada e não só por causa de Pete. Muitos rapazes chegavam com contusões sofridas enquanto tentavam tirar das ruas os destroços carregados pelas águas; uma mulher se queimou quando acendia um lampião e grande número de crianças sofreu escoriações leves causadas em acidentes na escuridão.

Durante todo o dia, o movimento de pacientes não parou. Na maioria dos casos eram ferimentos superficiais, mas exigiam cuidados médicos.

A Sra. Grande fazia o que podia, dentro de suas limitações. Não tinha nenhuma noção de primeiros socorros ou de enfermagem e, na verdade, não tinha nenhuma aptidão para aquele tipo de trabalho. Não conseguia gravar os nomes dos aparelhos e, uma vez colocou uma atadura não esterelizada sobre o ferimento aberto no braço de uma criança.

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