Capítulo 1 - Sadik

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"Quem se importa com as dores crônicas dos escritores que sentiram a dor da despedida e depois escreveram sobre ela pra se salvar, e acabaram salvando os outros também?" — Igor Pires

Espero que gostem da história. Até breve!

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Faltavam dez minutos para o inicio da nossa primeira aula do semestre, e as minhas amigas haviam resolvido comprar salgados. Eu estava praticamente sendo arrastada pelo braço enquanto elas reclamavam da minha lentidão.

- Vamos, Giulia! – Margot me puxava pelo braço, fazendo-me aumentar os passos. – Ainda precisamos esperar os salgados ficarem prontos e voltar para a sala.

Paramos na frente da barraquinha que vendia os salgados e fiquei encostada na parede de metal enquanto esperava as minhas amigas faziam o pedido. Olhei rapidamente para o estacionamento que ficava em frente à barraquinha e vi uma mulher de cabelo castanho escuro sair de um dos carros, confesso que ela era extremamente bonita, estava trajando vestes formais. O que me chamou atenção foi a blusa social na cor branca que estava com os últimos dois botões abertos, o que me fez alternar o olhar entre o decote e o seu rosto.

- Vai querer qual? – Sai do transe quando ouvi Pauline questionar algo para mim e a risada da Margot logo depois. Olhei-a totalmente área, o que não passou despercebido por elas, que logo buscaram o motivo da minha distração. - Vai querer qual sabor de salgado?

- Giulia e sua quedinha por mulheres mais velhas. – Margot comentou me zoando assim que olhou em direção ao estacionamento e percebeu a mulher mais velha fechar a porta do carro. Revirei os olhos e sorri maneando a cabeça. 

Escolhemos o sabor dos salgados e voltamos apressadas para a sala. Quando chegamos perto da sala ouvimos vozes e logo apressamos o passo, estávamos atrasadas. Margot abriu a porta e tamanha foi a surpresa quando avistei a mulher do estacionamento. Entramos na sala, mas ela não dirigiu o olhar para nós, estava concentrada no celular enquanto a turma anotava alguma coisa no caderno.

- Puta que pariu, quais eram as chances disso acontecer? – Pauline questionou baixinho, enquanto olhava atônica para a mulher mais velha, que ainda estava mexendo no aparelho celular.

Olhei para a lousa e havia um endereço de e-mail e um número de celular, que logo deduzi ser dela. Anotei as informações assim como o restante da turma estava fazendo.

- Bem, suponho que já deu a hora de todos estarem aqui. – Disse ao levantar, pousou o celular na mesa e caminhou até a frente da turma. Observando-a mais de perto, ela era mais bonita, fiquei totalmente sem ação, parecendo uma boba a olhando. Senti os olhares das minhas amigas, mas ignorei, eu sabia o que elas estavam pensando. – Eu sou a professora Paula Sadik e leciono a disciplina de psicolinguística. Deixei o meu e-mail e número na lousa, caso vocês precisem entrar em contato, enviar atestados ou tirar dúvidas.

Eu estava encostada na parede, prestando total atenção no que ela falava, quando pela primeira vez ela direcionou o olhar na minha direção, não sei explicar em palavras o que senti com o olhar dela, posso assegurar que nunca havia visto alguém com um olhar tão penetrante, tão misterioso. O contato durou poucos segundos, mas a sensação foi de que havia se passado minutos.

- Preciso do contato de alguém para que assim eu possa me comunicar, já estou em vários grupos e não estou dando conta. Então, caso eu precise faltar ou tenha algum imprevisto de ultima hora eu irei comunicar a pessoa e ela passará as informações para vocês.

- Ela! – Pauline falou rapidamente, apontando para mim. Temos um presidente de sala, mas ele faltou hoje e  ela é a vice. – Olhei para ela sem acreditar e voltei o meu olhar para a mulher que me encarava.

- Tudo bem para você?

- Sim... – Respondi. A minha voz saiu mais baixa que o habitual, me xinguei mentalmente por isso, mas mantive a pose.

- Seu nome. - Perguntou, mas como eu estava ocupada demais prestando atenção na beleza da mulher, não entendi a pergunta e suponho que ela percebeu o motivo da minha distração. Sorriu discretamente e reformulou a pergunta. - Qual é o seu nome, eu preciso salvar o seu número.

- Giulia. - Respondi desconcertada, esboçando um meio sorriso logo depois.

- Contato salvo, qualquer coisa você pode me mandar mensagem. - Disse com um sorriso no rosto. - Faço isso porque como falei anteriormente, odeio ficar em vários grupos, fico perdida e sem contar o gasto de memória no celular. - Ela reforçou o motivo.

A professora finalizou a aula e continuou na sala mexendo no notebook e anotando algumas coisas no caderno. Eu estava perdida nos meus pensamentos e dei um sorrisinho de lado, quando direcionei o meu olhar para as minhas amigas, elas estavam de forma engraçada na mesma posição me fitando e julgando.

- Cadelinha de mulher mais velha. – Dessa vez foi a vez da Pauline me zoar ao notar meu olhar sob a professora. Eu a fuzilei com o olhar, pois o tom que ela usou dava para a professora ouvir. Olhamos de forma rápida e sincronizada para a mesa da Paula, que tinha um sorriso de canto, mas continuava olhando a tela do notebook, então ficava a questão no ar se ela havia ouvido ou não.

- Vamos sair um pouco até a próxima aula? – Margot propôs. Concordamos e saímos da sala.

Fomos para o hall da universidade, escolhemos uma mesa onde estavam as outras meninas da minha turma e começamos a jogar conversa fora e assim passou o nosso dia.

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Cheguei em casa extremamente cansada, a rotina integral do curso me tirava toda a energia no final do dia. Entrei em casa e a minha mãe não estava, lembrei que ela havia avisado que passaria uns dias na fazenda do meu avô.

Aproveitei para tomar um longo banho, enquanto a música ecoava no quarto, minha mente vagava na bela mulher. Apressei em finalizar o banho, eu não tinha mais a idade de uma adolescente para me iludir por uma professora.

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Semanas haviam se passado e o fim da primeira unidade estava se aproximando, com isso eu estava à beira de um surto, havia inúmeras atividades para serem entregues e o pior era que a minha mente só focava em uma pessoa: Paula Sadik. O pior era que estava no quarto período, com 19 anos, quase 20 e começando a nutrir uma paixão pela professora? O ápice era que nós só havíamos trocados pouquíssimas palavras e todas relacionadas à disciplina.

Eu estava sentada no chão do corredor que dava para a minha sala, perdidas nos meus pensamentos quando ouvi barulho de salto alto se aproximando, levantei o olhar e vi aqueles olhos penetrantes olhando na minha direção, senti meu coração acelerar e minhas mãos suarem. Assim que ela entrou na sala, eu entrei logo atrás, fui para a minha carteira e senti o abraço da Margot.

- Você está bem? – A Margot questionou. Maneei a cabeça positivamente.

- A pressão caiu quando viu a... – Pauline parou quando viu a minha expressão de reprovação. – Parei, estava brincando, mas pela sua reação, eu começo a acreditar que sim. –Margot riu baixinho.

Virei meu tronco para frente e lá estava a Paula, me fitando, fiquei sem graça, pois achei que estava a atrapalhando. Fiquei quieta o restante da aula, apenas surtando internamente cada vez que nossos olhares se cruzavam.


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