Naquela semana eu não aguentei ficar no mesmo ambiente que a Paula, então acabei sendo tomada por um impulso irracional e abandonei a aula abruptamente. Fiquei vagando pela universidade esperando minha próxima aula da tarde. Minha grade curricular era diferente do restante da turma, por isso eu ficava sozinha no período da tarde. Almocei pela universidade e logo tratei de encontrar uma sala vazia para carregar o meu celular. Escolhi uma sala no terceiro andar e fiquei por lá assistindo uns episódios de uma série. Tamanho foi o meu susto quando a Paula entrou na sala, acabei me engasgando com o chiclete que eu estava mascando.
- Assustada? – Zombou. Fechou a porta e sentou-se numa carteira ao lado da minha. – Não sei gostei da forma que você se comportou hoje.
- Do que você está falando? – Perguntei, me rocompondo do susto e do engasgo.
- Saiu da sala daquele jeito. – Disse. Eu ri e retirei meus fones de ouvido.
- Eu sou obrigada a continuar assistindo a sua aula?
Paula me lançou um olhar indecifrável e permaneceu calada. Arrependi-me, mas não demonstrei.
- Você que sabe. - Levantou-se indo até a porta e saindo da sala.
Ela me deixou na sala sozinha como sempre, perdida em meus devaneios e me perguntando como ela conseguia ser tão indiferente e fria.
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Uma semana depois nós já tínhamos organizado toda a festa e havíamos entrado em um acordo de que seria no rancho do amigo do Antônio. Éramos em torno de dezenove pessoas, de início o curso tinha quarenta alunos, mas alguns desistiram pelo caminho. Pauline se encarregou de nos levar para o rancho e ainda daríamos carona para uma colega nossa. Então ficou divido assim, quem tinha carro dava carona para os que não tinham e ainda teria uma mini van que levaria o restante. Combinamos de sair direto da universidade para o tal rancho e assim passar à tarde da sexta-feira e voltar no final do sábado.
- Ansiosas para a melhor festa? – Arthur perguntou ao se aproximar. Ele era o amigo do Antônio e um ex crush que nunca tive a oportunidade de ficar, porque na época que o conheci havíamos entrado de férias. Ele passou um braço em volta do meu pescoço e beijou o topo da minha cabeça. Antônio chegou e eu entendi a atitude do garoto, com certeza o Antônio tinha o mandando tomar aquela atitude.
- É claro que estão. Será a melhor festa da vida de vocês. – Antônio disse ao se aproximar e piscando para nós. Sorri ao ver que Pauline havia revirado os olhos.
- Que animação é essa? – Paula questionou. Levei um susto, pois eu não havia notado a chegada dela. Olhou para o Artur, que ainda estava com o braço em volto no meu pescoço e depois direcionou o olhar para mim.
- Sobre a festa que eu te falei recentemente. – Antônio explicou. Ela maneou a cabeça em concordância. – Você não quer se juntar a gente.
- Olha a minha idade garoto, você acha que eu vou me meter no meio de um bando de jovens? – Riu e revirou os olhos. - Boa festa para vocês. Se cuidem, eu ainda quero ver vocês na segunda-feira. – Disse brincando. Nossos olhares se encontraram mais uma vez e ela saiu, indo em direção ao auditório.
Nós esperamos o restante da turma e fomos para o estacionamento nos organizar para irmos para o rancho. Demoramos cerca de trinta minutos para chegar até o rancho. O lugar era muito bonito, principalmente naquela estação do ano. A turma se dividiu entre aproveitar a música, a bebida e a piscina.
- Você trouxe biquíni? – Margot perguntou, fiz que sim com a cabeça. - Então vamos para a piscina.
Ficamos na piscina até anoitecer, entre drinks e mais drinks eu fui ficando um pouco exaltada e quando me dei conta estava dançando com o Artur, que em um gesto rápido tomou meus lábios. Se eu realmente queria esquecer a Paula, eu teria que me dar uma chance, então retribui o beijo dele. Ainda de olhos fechados percebi uma claridade no rosto e quando abri os olhos, o Antônio estava filmando a área da piscina, dei de ombros e arrastei o Artur para o outro lado, onde estava o restante da turma.
Acordamos no dia seguinte e minha cabeça parecia que ia explodir de tanta dor, pedi um remédio e por sorte uma colega havia levado. Praguejei quando me dei conta de que o meu celular estava descarregado e eu havia me esquecido do carregador, e mais ninguém tinha o tipo do meu celular. Passei o resto do dia vegetando enquanto observava a galera se divertindo.
- Giulia! – Pauline me chamou, virei-me e a vi vindo correndo na minha direção, logo atrás a Margot. - Pedi o celular do Antônio emprestado para apagar umas fotos minhas que esse louco postou, e uma das primeiras é uma sua e do Artur. – Arregalei os olhos e me inclinei na direção dela para conferir. - E a Paula visualizou.
- Se eu tinha poucas chances de ter algo com ela, agora às chances são nulas.
- Mas pense pelo lado bom, ela está com o ego nas alturas, vendo essas fotos ela vai se tocar que você não tem só ela.
Passei o resto do dia evitando o Artur e apesar de ter dito que não ia beber, acabei bebendo horrores e precisei ser rebocada até o carro para ir embora. Eu não era de beber, então não sabia qual era o meu limite para álcool. Cheguei em casa e agradeci os céus por minha mãe estar dormindo no sofá, aquilo iria me poupar de explicações.
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Na segunda-feira fui a primeira a chegar à sala, eu queria saber o que a Paula diria. Ela me causava uma ansiedade fora do normal, talvez pelo comportamento imprevisível dela. Tamanho foi o meu susto assim que abri a porta da sala e dei de cara com ela.
- Bom dia, como foi a festa? – Perguntou-me, o seu semblante estava sério.
- Se arrependimento matasse... – Falei. Suspirei fundo e encostei o meu corpo na carteira me lembrando da ressaca que tive. Ela me olhou por uns segundos e voltou à atenção para o aparelho celular.
- Festas de jovens, né? Muita bebida, amassos. – Disse ainda com os olhos no celular. Dei um sorrisinho sabendo que ela estava se referindo as minhas fotos que ela visualizou. – E o Antônio ainda me convidou. - Riu e fez um gesto de negação.
- E por que você não iria? Você é jovem, ué. – Perguntei, ela me direcionou um olhar como se a resposta fosse obvia.
- Eu me sentiria deslocada. – Respondeu dando de ombros.
- Nada a ver, você teria eu, ou melhor, o Antônio, já que vocês são bem próximos. Com certeza ele faria você se sentir confortável.
- Você acha que eu sou mais próxima dele do que de você? - Questionou com a sobrancelha arqueada.
- Sim.
- Bem, talvez ele, mas não por sermos próximos, mas por você estar com o carinha lá. – Disse levantando-se. Dei uma risada e maneei a cabeça em negação.
- Você sabe que não. – Falei. – Preciso falar com você depois da aula.
- Certo, me espera na sala 308.
Logo a sala ficou cheia e a aula transcorreu de forma leve e descontraída, o que não acontecia há algum tempo. Infelizmente estávamos chegando ao fim do período e a Paula pediu que apresentássemos um seminário para o encerramento. Com o fim do período ficaria mais difícil ter um contato mais próximo com ela.
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Eres tú
RomanceGiulia Morelli sentiu-se atraída por uma mulher desconhecida no estacionamento da universidade, o que ela não imaginava era que a desconhecida seria sua nova professora de Psicolinguística, P. Sadik, que tenta resistir à química que se desenvolve en...