Logo após a aula, minhas amigas saíram na frente, pois viviam morrendo de fome e queriam pegar salgados antes de ir embora. Organizei a minha mochila e senti o olhar da Paula, levantei a cabeça e tive a confirmação.
- Você está bem? – Ela perguntou ao se aproximar de onde eu estava. Creio que ela percebeu quando entrei na sala cabisbaixa e a Margot me abraçou. Senti o meu coração acelerar e apenas consegui manear a cabeça em concordância. Ela sorriu e suspirou. – Eu acabei me esquecendo de avisar a turma, mas vou precisar faltar na próxima segunda-feira. Mereço uma folguinha no dia do meu aniversário, então você pode falar que estão dispensados.
- Pode deixar. – Falei. - Eu não vou te parabenizar agora, pois creio que "gera azar". – Falei na tentativa de aliviar a tensão que ela me causava. Ouvi o barulho da risada dela e ali percebi que era a primeira vez, nunca a ouvi dar uma gargalhada, ela era sempre muito séria e enigmática.
- Vocês estão tendo aula de metodologia científica? – Questionou quando viu o livro da disciplina na minha carteira.
- Sim. – Respondi olhando para o livro e me lembrando do projeto de pesquisa que estava tirando minhas noites de sono. - Estou quase ficando louca com o projeto, imagina quando eu de fato começar a escrever o artigo?
- Lembro-me da minha graduação, passei pelos mesmos perrengues. – Deu um sorriso ao lembrar. - Mas valeu a pena. Sobre o que você quer escrever?
- Eu ainda não sei um título, mas é voltado para a área da educação.
Antes que pudéssemos seguir com a conversa, um homem apareceu na porta, chamando a Paula, ele era bem mais velho e deduzi que era algum professor. Ela se despediu e saiu junto do homem.
Fiquei na sala me recuperando daquele contato, de fato eu estava começando a nutrir alguma paixão por ela e eu sabia que as chances eram inexistentes, então eu tentaria manter o mínimo de contato possível com ela para não me permitir criar fantasias e ilusões.
Sai da sala em busca das minhas amigas, que logo falaram que já estavam no estacionamento me esperando. Desci até lá e no caminho coloquei no grupo da sala o aviso que eu havia recebido da Paula. Já perto do estacionamento encontrei com a minha melhor amiga, Clarice, que estudava um curso de exatas e raramente conseguíamos nos encontrar pelo campus, então combinamos de passar o dia juntas e colocar a fofoca em dia.
- Glória a Deus que não vai ter aula segunda-feira. – Pauline disse animada assim que me avistou, ela era do tipo que não faltava muito, mas adorava não ter que acordar cedo e ir para a universidade.
- Só falta ser uma banca de tcc, e de última hora ela convidar geral com participação valendo nota. – Margot disse.
- Na verdade, é o aniversário dela. – Falei.
- Pera, aquela ali não é ela? – Pauline questionou. Virei-me em direção ao outro lado do estacionamento e lá estava ela conversando ao celular, encostada na porta do carro. – Nossa, acabei de ter uma ideia brilhante. O presente de aniversário dela.
- Misericórdia, eu não confio nas suas ideias. – Brinquei, mas com um fundo de verdade já que ela tinha umas ideias mirabolantes.
- E quem é ela? – Clarice perguntou sem entender nada.
- A nova paixão da Giulia. Você sabe que ela só se apaixona por mulher de meia idade e por macho hétero top. – Pauline falou enquanto procurava algo no banco de trás do carro. Clarice e Margot seguraram a risada, pois o que Pauline falou não era tão brincadeira. Resmunguei e me assustei assim que ela tirou uma câmera da mochila. – A minha ideia é a seguinte: vamos tirar uma foto dela e mandar para a página da universidade, mas como ela está contra luz, só ela vai saber que é ela. Não vai dar problema. – A página da universidade postava fotos do pessoal pelo campus, com alguma cantada mixuruca e se a pessoa tivesse interesse em saber quem tinha sido, era só perguntar ao administrador da página, claro que só se a pessoa que havia tirado a foto permitisse que eles revelassem o nome. Fiquei pensando se aquilo era uma boa ideia. - Bora, Giulia, daqui a pouco a mulher sai e você não tira a foto.
Tentei ao máximo disfarçar e dei graças a Deus por ela estar de perfil, olhando para frente, e se caso ela não gostasse da foto dela ir parar na página, era só pedir para o administrador retirar a foto e nunca saberia quem havia sido o autor.
- Pronto. – Falei, entregando a câmera para a Pauline, que logo analisou a foto. Eu não tinha lá muita habilidade com câmera, eu apenas aprendi o básico no curso de fotografia que fiz no campus anos atrás.
- Nossa, ficou muito boa. – Margot falou. Logo Clarice e Pauline concordaram.
- O segundo passo é pedir para alguém ir à nossa sala na quarta-feira e entregar o buquê e um bilhetinho junto do print da página, para caso ela não ver a foto dela quando postarem.
- Ai gente, eu não sei... - Falei um pouco pensativa.
- Sabe sim, deixa comigo que eu organizo daqui pra frente.
No fim, Clarice e Margot me convenceram e eu deixei Pauline seguir com o plano, mas no fundo eu já sabia que havia duas opções: A Paula surtaria e mandaria a página apagar a foto ou não daria a mínima e seguiria a vida.
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Passei o final de semana uma pilha de nervosos, ansiosa para a quarta-feira e saber o desfecho daquele plano mirabolante. No fundo eu já estava envolvida naquele sentimento e só estava deixando rolar. Pauline pediu ajuda de um amigo que estudava em um bloco afastando da universidade para não rolar suspeitas e sermos vistas com o rapaz.
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Estávamos na sala esperando pela Paula e como de praxe, eu estava uma pilha de nervos. Antônio, o representante oficial da turma se aproximou de nós, ele havia criado um laço de amizade com a Paula, talvez por ele ser mais extrovertido que eu. Confesso que eu tinha "ciúmes", mesmo sabendo que ele era extremamente apaixonado pela Pauline, que fugia dele igual o diabo foge da cruz.
- Vocês viram que postaram uma foto da Paula na página? A gata tá arrasando corações. – Ele comentou assim que se aproximou de nós. Entreolhamo-nos e bancamos as desentendidas, mas homens geralmente são desatentos e é claro que ele nem percebeu.
- Cadê? – Pauline perguntou. Olhei-a com uma vontade de rir, a cara da garota nem tremia. Antônio nos mostrou a foto e os comentários elogiando a foto, mas ninguém sabia quem era, agradecemos aos céus. - Mas ela viu?
- Sim, eu mandei pra ela assim que vi hoje de manhã. – Disse rindo e guardando o celular.
- E o que ela achou? – Perguntei.
- A... – Ele fez menção de dizer algo, mas foi interrompido quando a professora adentrou na sala. - Falando na gata conquistadora de corações, olha ela aí. – Ele praticamente gritou, senti uma vontade enorme de sair correndo da sala. - Conta pra gente como é sair na página mais badalada da universidade. – Nesse momento a turma estava com celulares em mãos, provavelmente indo ver a tão comentada foto. Alguns elogiaram a mulher mais velha, que mantinha um sorriso no rosto e estava extremamente vermelha.
- Vocês são uma comédia. Certeza foi o Antônio que enviou essa foto para zoar com a minha cara.
- Eu? Que nada, você tá perdendo a chance de descobrir quem realmente foi.
- E o pior é que a pessoa nem colabora, né? – Disse com um tom diferenciado, talvez um tom de ironia, deboche? E piorou quando ela olhou para mim e as meninas. Foi o suficiente para eu surtar internamente. Procurei o olhar da Margot e Pauline, que assim como eu tinham uma expressão de susto na face.
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Eres tú
RomanceGiulia Morelli sentiu-se atraída por uma mulher desconhecida no estacionamento da universidade, o que ela não imaginava era que a desconhecida seria sua nova professora de Psicolinguística, P. Sadik, que tenta resistir à química que se desenvolve en...