Estou de volta!
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Estava dando uma volta pelos corredores da universidade procurando desesperadamente uma sala vazia para carregar meu notebook. Avistei uma sala escura e pensei que estaria vazia, já que as luzes estavam apagadas. Ingenuamente, entrei, e de repente, a luz azul do projetor revelou que a sala estava cheia. Em questão de segundos, acenderam as luzes e, para minha surpresa, dei de cara com a Paula. Engoli seco, pedi desculpas e saí rápido, embora tenham sido só segundos, meu coração estava a mil. Parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento. No corredor, ouvi um "psiu" e, antes de me virar, a voz da Paula ecoou.
- Giulia!
Virei-me com o coração palpitando descontroladamente e os olhos marejados. Minha vontade era sair dali correndo, mas eu não conseguia. Paula percebeu e sua expressão mudou.
-Você precisa de ajuda? Quer que eu te ajude?
- Eu quero que você me deixe em paz. - Falei com a voz trêmula. Percebi os olhos dela marejados também. Em um impulso consegui sair em passos largos. Agradeci aos céus por não ter ninguém nos corredores e por nossas vozes estarem mais baixas que o normal.
Eu estava completamente transtornada, mas tentava não aparentar. Depois de alguns minutos procurando uma sala, finalmente consegui encontrar outra. Conectei meu notebook para carregar e sentei-me à mesa, abaixando a cabeça. Permiti-me desabar, passei algum tempo chorando; encontrar ela não tinha sido uma experiência boa, e todos os sentimentos que eu tinha em relação a ela estavam mais vivos do que nunca.
Eu decidi ir embora, pois eu não estava com condições de ir assistir aula. A noite foi terrível, mal consegui dormir. Revirei na cama, atormentada pelas lembranças e emoções conflitantes que o inesperado encontro com minha antiga professora, Paula, trouxera à tona. No dia seguinte eu tentava esconder a exaustão e a perturbação que sentia. Minha mãe percebeu algo diferente, mas eu optei por contornar a situação. Sorri, tentei me mostrar animada, mas por dentro eu estava acabada.
Um mês se passou e não tardou para que eu a encontrasse novamente, dessa vez foi em uma assembleia geral com todos os professores do campus. Meu orientador achou uma boa ideia me fazer ir exatamente nesse dia.
Cheguei cedo pois imaginei que assim eu conseguiria entregar os documentos do meu TCC e não a veria, mas foi um belo engano. Lá estava ela, eu mal conseguia estabelecer um contato visual com ela.
- Giulia, bom dia! Os seus documentos estão devidamente assinados, os enviarei para a coordenação e seguidamente para a banca. - Disse meu orientador conferindo a pasta com a documentação.
O agradeci e saí de lá, pois a assembleia geral estava prestes a iniciar e não era permitido alunos. Andei devagar observando cada canto daquele lugar, eu sentiria saudades, saudade das amizades, dos tempos felizes e claro, saudade da Paula. Nem consegui raciocinar direito meus pensamentos que vinham na minha cabeça como flashes rápidos, quando a voz da minha ex-professora ecoou atrás de mim.
- Nós precisamos mesmo conversar. - Ela falou em um tom de súplica. Percebi que ela estava estranha e com as bochechas rosadas. Suspirei lentamente e balancei a cabeça em concordância. Por mais que eu tivesse raiva dela pelo jeito que tudo havia terminado, era necessário aquela conversa cara a cara.
Subimos para o terceiro andar, para a sala 613, a sala onde sempre nos encontrávamos. Paula suspirou pesadamente, indicou a cadeira para que eu pudesse me sentar e fez o mesmo.
- Giulia, acredite, eu não queria ter terminado tudo por mensagem, eu sei que errei feio com você, mas esta é uma conversa extremamente difícil, porém, acho que é fulcral nós sermos honestas uma com a outra. Eu, Paula Sadik, professora desta instituição universitária federal, tenho responsabilidades éticas e profissionais que devem ser mantidas, não sei onde eu estava com a cabeça por ter me deixado entrar em uma situação conflituosa dessa. Relacionamentos como o nosso são veementemente repudiados por razões óbvias, pois violam os códigos de conduta da instituição. - Ela falava e eu comecei a notar que ela estava tremendo muito, e parecia estar sob efeito de algum remédio calmante, além de estar com a aparência de quem não dormia há dias. Mas ela continuou: - Eu entendo seus sentimentos, e também compartilho desse amor. A instituição está passando por um processo gigantesco de assédio e todos nós professores fomos chamados na ouvidoria. Nosso caso poderia prejudicar minha carreira, a qual lutei incansavelmente para tê-la.
- É tão difícil aceitar isso. - Sussurrei digerindo tudo o que me foi dito. Eu estava chorando e Paula estava tentando se manter firme, mas percebi os olhos marejados. Eu pensei tanto no que falaria para ela durante anos, mas não consegui elaborar nada. Nada do que eu dissesse iria fazê-la ficar. E eu não seria a pessoa que acabaria a carreira dela. - Vou respeitar a sua decisão. - Falei, me levantei e caminhei em direção a porta. - Meu TCC é um mês, queria convidar você, mas não acho uma boa ideia.
Paula caminhou até mim, estávamos bem próximas, dava pra sentir o cheiro do seu perfume. Meu corpo todo pedia pelo toque dela, eu necessitava senti-la e acho que ela também, pois não recuou assim que pressionei meus lábios ao dela. Ela agarrou-me com força e encostou-me na porta, beijando-me com desejo. Um beijo de despedida carregado de emoções. Nos separamos quando o ar se fez necessário, nosso beijo estava com gosto salgado devido as lágrimas que escorreram dos nossos olhos.
- Foi um prazer tê-la em minha vida, Giulia. Que a vida nos guie para onde precisamos ir.
E assim saiu da sala, fiz o mesmo. Mesmo com a dor avassaladora que eu estava sentindo, não me permiti fraquejar.
O dia da apresentação do meu TCC chegou como uma avalanche diante de mim, avalanche de nervosismo e expectativa. Porém, mesmo com todo nervosismo que me cercou, dos dias pesquisando freneticamente sobre meu tema, a notícia da nota máxima trouxe consigo uma sensação indescritível de realização.
A cerimônia de formatura marcou um ciclo encerrado e um novo começo. Vestida com o capelo e a beca, subi ao palco para receber meu diploma, mas não pude evitar sentir uma pontada de saudade. No meio da celebração, meu olhar encontrou o de Paula. Tamanho foi meu susto ao vê-la loira, pisquei algumas vezes para me certificar daquilo e mesmo assim não acreditei. Ela estava completamente diferente, era como se fosse outra pessoa e tive a impressão de não a conhecer mais. Em seus olhos, notei uma mistura de orgulho e nostalgia. Trocamos olhares carregados de significado, uma comunicação silenciosa que transcendeu a mera formalidade acadêmica. Um encontro fugaz.
Encontrei a Pauline a Margot, nos abraçamos e choramos muito, sabíamos que estávamos começando uma nova jornada e isso implicava que não iriamos nos ver na mesma frequência.
- Você viu a Paula? - Pauline questionou.
- A vi de longe, ela está loiríssima. - Comentei a procurando em meio a multidão de formandos, mas não a encontrei.
- Você fez história, viu? a mulher até mudou a cor do cabelo. - Margot disse e Pauline riu. Fiquei pensativa, dizem por aí que quando uma mulher chega a esse ponto é porque algo aconteceu em sua vida e sabemos bem o que aconteceu.
Antônio desistiu do curso e o restante da turma ficaram divididos, uns estavam se formando e outros ainda iriam se formar. Despedi-me das meninas e de alguns conhecidos e desci as escadas do prédio.
Entretanto, justamente quando eu acreditava que estava prestes a fechar o livro dessa fase intensa, meu orientador me chamou e apresentou uma proposta intrigante para um mestrado na instituição. Era uma oferta tentadora, mas aceitar significaria mais meses de preparação.
Aceitar essa oportunidade também abriria portas para um aprofundamento no conhecimento e na vida profissional, mas também implicaria continuar tendo a Paula como professora e sendo uma pessoa presente na minha vida e eu não sei se aguentaria viver com a certeza de que nunca iriamos poder ter algo. A incerteza tomou conta do meu ser.
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Se algum dia você ler esta história: "Espero que tenha gostado. Usar o meu amor para inflar o teu ego e ainda me convencer a assumir a culpa do fim." - Lothian Andrade"
Bom, não sei se esse é o capítulo final pelo simples fato de que na vida real a história terminou exatamente assim. Nos resta saber se a vida vai dar continuidade a essa história. Um grande beijo para vocês!
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Eres tú
RomanceGiulia Morelli sentiu-se atraída por uma mulher desconhecida no estacionamento da universidade, o que ela não imaginava era que a desconhecida seria sua nova professora de Psicolinguística, P. Sadik, que tenta resistir à química que se desenvolve en...