Capítulo 5 - No volverá a suceder

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A Paula naquele dia estava totalmente diferente, não fez as brincadeiras que costumava fazer, apenas colocou um filme e pediu para que prestássemos atenção, pois seria conteúdo da nossa prova e da explicação da próxima aula. Ela permaneceu todo o filme concentrada em alguns papéis. Não trocamos nenhum olhar como sempre acontecia nas aulas. Após o término da aula ela saiu da sala sem falar absolutamente nada.

- O que será que aconteceu? – Margot questionou assim que chegamos ao hall da universidade.

- Acho que ela está com medo, confusa... - Pauline tateou os dedos sob a mesa de plástico, gesto que ela sempre fazia quando estava pensativa. – É muita coisa, sabe? Ela é professora, tem um emprego estável e deve estar receosa.

- O que eu faço agora? – Perguntei totalmente chateada com a situação

- Esperar ou mandar mensagem pra ela.

- Eu acho que não seria uma boa ideia, ela deixou o número para ocasiões relacionadas ao curso.

- Ela te beijou, minha querida, eu acho que essa ocasião foi por água abaixo.

Ficamos por lá por uns minutos até que as meninas precisaram ir embora, mandei mensagem para a Clarisse que resolveu me encontrar no hall, segundo ela teria uma palestra em uma hora e com certificado, então eu aceitei ficar. Quando Clarice chegou contei tudo o que havia acontecido e assim como as meninas, ela deu a mesma opinião.

- Aquela ali não é ela? – Disse, olhei rapidamente para a direção em que ela olhava e encontrei a Paula, em pé ao lado do painel da palestra, ela conversava com uma senhora.

Nossos olhares se cruzaram pela primeira vez desde o ocorrido na reitoria. Ela sustentou o olhar, mas logo desviou assim que um homem se aproximou, mostrando uma folha.

- Ela é linda. – Clarice disse ainda olhando em direção a Paula. Sorri e concordei.

Tentei prestar atenção na palestra, mas o meu pensamento só ficava na Paula que vez ou outra olhava na minha direção. Quando ela se levantou e caminhou até o segundo andar, aproveitei para segui-la.

- Precisamos conversar. – Falei ofegante após entrar no banheiro e vê-la arrumando os cabelos em frente ao espelho.

- Que susto, Giulia! – Paula exclamou quase deixando um grito sair, mas se conteve. Olhou-me com um olhar assustado e colocou a mão no seio esquerdo. – Quase me matou, aí não teria como conversar comigo. É Sobre os livros? – Perguntou, lavando as mãos. O jeito que ela bancava a desentendida era algo a ser estudado. Quando não obteve a minha resposta olhou para mim pelo o espelho arqueando a sobrancelha como fazia sempre que esperava por alguma resposta.

- Você sabe...

- Eu sei? – Riu. Caminhou até o secador de mãos. – Não sei. – Disse por fim, colocando as mãos na cintura.

Na impulsividade caminhei até ela e a puxei para um breve selinho, e mais uma vez ela retribuiu. Claro que o ambiente não nos permitia um beijo longo já que alguém poderia aparecer. Senti as mãos dela na minha cintura quando me afastei um pouco.

- Agora você sabe. – Falei com um tom impaciente, o que causou uma risada na mais velha.

- Giulia... isso, nós... nós não podemos levar isso adiante, você sabe, não é? Eu enlouqueci quando me permiti fazer tal coisa. Desculpe-me.

- Por que não? Vai me dizer que você também não quer isso?

- Eu poderia listar inúmeros motivos, mas um vale por todos: eu sou professora dessa instituição e você é a minha aluna, imagina o escândalo que isso não geraria.

- E alguém precisa saber?

- E você acha que vai esconder até quando? – Riu maneando a cabeça em negação. – Isso não voltará a se repetir. – Disse brevemente e saiu do banheiro, me deixando com a sensação que eu havia sido uma trouxa por acreditar que ela realmente havia sentido algo, mas era uma forma dela aumentar o próprio ego.

- Ela saiu daquele banheiro totalmente vermelha. O que rolou? – Clarice perguntou com um sorriso no rosto, mas logo foi substituído por uma expressão de preocupação. Expliquei o que havia acontecido minutos atrás. – Mas é compreensível, né? Não a forma que ela está lidando com isso, mas o medo dela em acontecer alguma coisa e ela perder o emprego ou sabe-se Deus o que. Mas nesse curto tempo em que estamos aqui, ela já olhou tantas vezes que eu perdi as contas.

-

Em um piscar de olhos um mês havia se passado e a minha situação com a Paula não havia mudado nada, ela continuava destinada a me ignorar e até começou a resolver as coisas da disciplina com o Antônio. Ela também se aproximou bastante de uma garota que eu detestava, a garota tinha uns posicionamentos bastante desrespeitosos, eu realmente não entendia o porquê da Paula ter ficado tão próxima dela.

Eu estava tão exausta de tudo que acabei saindo no meio de uma das aulas da Paula, o que causou surpresa até nas meninas. Antes de sair eu senti o olhar dela sob mim, mas ignorei totalmente. Coloquei o meu capuz e fui em direção ao terceiro andar onde não havia movimentação. Sentei-me em um dos bancos e apreciei a vista lá de cima, estava chovendo muito e o frio me fez colocar minhas mãos dentro do bolso do casaco, o que me faz sentir a vibração do meu celular, mas não olhei, eu sabia que eram mensagens da Pauline e Margot.

Fiquei por lá durante toda aula da Paula e quando se aproximou do final da aula eu desci novamente para o segundo andar, eu não queria que ela me visse naquele dia.

Minhas amigas me encheram de perguntas assim que eu voltei para a sala, dei de ombros e não quis falar muito sobre. Antônio estava eufórico na sala, pois estava organizando nossa festa de 50% formados, eu estava decidida em seguir em frente e esquecer tudo o que havia acontecido e concordei em organizar a festa juntamente com ele e outras colegas.

- Aquele garoto que você estava afim vai estar lá também, já que o rancho é da família dele. – Antônio falou. De início seria no apartamento dele, mas os vizinhos iriam surtar e denunciar. - Quem sabe vocês não ficam?

- Que garoto? - Pauline perguntou ao se aproximar de onde estávamos.

- O garoto que a Giulia era afim. – Respondeu. Pauline me olhou mandando a cabeça em negação.

- E você vai ficar com ele? – Perguntou. A julgar pela expressão e entonação ela estava furiosa, então não respondi, pois eu não tinha certeza de nada.

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