Capítulo 7 - Tus ojos de miel

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Subi para a sala 308 como combinamos, quando abri a porta ela já estava lá. Entrei na sala e ela não percebeu a minha chegada, pois estava olhando a vista da janela. Segurei a vontade tentadora de abraça-la por trás.

- Eu vim entregar os livros. – Falei colocando os livros em cima da mesa. – Muito obrigada, foi de grande ajuda.

- Conseguiu ler todos? – Perguntou, caminhando e se sentando a minha frente. Os livros não eram tão longos, então acabei lendo em três semanas.

- Sim, e tirei xerox de algumas páginas.

- Não sei se você sabe, mas eu sou coordenadora de um evento científico. – Começou a falar e se aproximou da mesa. Claro que eu sabia, fiz uma busca no site da universidade e vi que ela era bem influente dentro da instituição. – Vai ser em poucos meses, então você deveria submeter o seu artigo e apresentar lá.

- Mas vai ser em outro estado, não?

- Sim, é um problema pra você? Eu posso te levar sem problema.

- Na verdade é um grande problema. Mas se você me levar eu posso ir. Eu vou submeter o artigo e ver se vou ser aceita.

- Eu tenho certeza que sim, você é inteligente. Disse mostrando um largo sorriso.

Ela levantou-se repentinamente da cadeira, o que me fez recuar involuntariamente. Ela olhou-me confusa, sem entender a minha reação. Na verdade minha reação foi em resposta à aproximação dela, sempre que ela chegava tão perto de mim o meu corpo entrava em colapso.

- O que foi?

- Nada. – Tentei demonstrar neutralidade.

- Tem certeza? – Perguntou se aproximando novamente de mim. Pegou minhas mãos e levantou. E claro que estavam geladas e trêmulas, como sempre ficava quando eu estava perto dela. – Por que você fica tão nervosa assim perto de mim?

- Porque eu gosto de você. – Saiu automaticamente da minha boca. - Creio que é normal ficar nervosa. – Ela suspirou e sorriu sem graça, poucas as vezes que a vi ser tão natural, geralmente ela estava sempre com uma armadura, séria.

- Giulia... - Falou baixinho soltando minhas mãos e levando suas mãos aos fios do meu cabelo.

Os lábios dela estavam tão chamativos que não esperei ela continuar a fala, simplesmente a beijei. Corríamos o risco de alguém aparecer na sala, mas o corredor fazia bastante barulho e com certeza ouviríamos caso tivesse alguém se aproximando. Ela desceu as mãos para a minha cintura e me puxou mais ao seu corpo, intensificando nosso beijo. Com toda a certeza do mundo aquele beijo era diferente de tantos outros que já senti, nossa conexão era indescritível, transcendental. Finalizamos o beijo e ficamos com as testas coladas, quando abri os olhos, ela ainda estava com os dela fechados, mas abriu quando me afastei o suficiente para olhar dentro daqueles olhos que a cor se assemelhava a um mel, olhos esses que me encantaram desde a primeira vez que se cruzou com os meus. Ela sorriu e se afastou completamente.

- Quem é aquele garoto? – Perguntou ainda me olhando nos olhos. Dei um sorrisinho sabendo que ela se referia ao Artur.

- Ciúmes? – Brinquei e ela revirou os olhos negando, sorriu em seguida.

- Óbvio que não. Eu só preciso saber se estou beijando uma pessoa compromissada.

- Sei... - semicerrei os olhos. – Não se preocupe, ele não é ninguém importante.

- Eu preciso ir, e não se esqueça do seminário na próxima quarta. – Disse.

Fiquei na sala assistindo ela sair. Fiquei perdida em meus devaneios, rebobinando na minha memória todos os beijos que havíamos dado e a sensação que me causavam. Sem dúvidas eu estava completamente apaixonada e fodida.

-

A quarta-feira amanheceu chuvosa e bastante fria, era o ultimo dia de aula do semestre, e para fechar com chave de ouro, eu estava atrasada e o meu grupo era o primeiro a se apresentar. Enquanto eu estava a caminho meu celular vibrava de maneira incessante com mensagens das meninas.

Adentrei o prédio da central de aulas ás pressas, corri desesperadamente pela escada de um lance de uns cinquenta degraus ate chegar ao andar que eu estudava.

Cheguei à sala e a cara da Paula era de poucos amigos, com toda a certeza ela estava bastante estressada com o meu atraso, que acabou atrasando os outros grupos também. Consegui dar uma resumida na minha parte sem perder os pontos importantes e terminei sem prejudicar os outros grupos. Após o fim da aula pedi para as minhas amigas me esparrem no hall, eu precisava conversar com a Paula e pedir desculpas.

- Esqueci o meu guarda-chuva, que droga! – Proferiu enquanto organizava as coisas dela.

- Eu tenho um guarda-chuva na minha mochila se você quiser. – Falei, aproximando-me da mesa dela. Ela maneou a cabeça em concordância. Desculpei-me e descobri que a chateação dela não era totalmente o meu atrasado. Precisei descer com ela até o estacionamento.

- Quer contar o que aconteceu? – Perguntei assim que chegamos ao estacionamento. Já que estava chorando, a morena pediu para que entrássemos no carro.

- Eu vou ter que ir visitar a minha família. – Respondeu.

- E isso não é bom?

- Mais ou menos. – Disse, abrindo a porta do carro e sentando-se de lado no banco. - É a minha mãe, nós não nos damos muito bem e sempre que eu volto lá começa uma briga sem fim. – Suspirou pausadamente, estendi o braço e fiz carinho em seu rosto, ela sorriu com o gesto e segurou a minha mão, depositando um beijo em seguida. – Geralmente o meu pai e o meu irmão vinham me visitar, mas o meu pai está tão debilitado e não pode mais viajar, então eu terei que encarar ela.

- Você sempre exaltou muito o seu pai, acredito que ele é bastante importante para você. – Falei, recordando às vezes em que a mais velha falou orgulhosamente do pai nas aulas.

- O meu pai é o meu amor, sempre me apoiou incondicionalmente, sem se importar com qual fosse a minha decisão. Essa foi a parte mais difícil de ter vindo morar tão distante, deixar ele lá, mas ele sabia dos conflitos que eu tinha com a minha mãe e me encorajou a vir. – Eu a ouvia atentamente e me perguntei que conflito era esse, mas deixei para que ela me contasse assim que se sentisse confortável. Mas eu desconfiava de que se tratava da sexualidade dela. – Você desceu até aqui, então vai ter que ir pra casa comigo. – Brincou.

- Não brinca que eu vou mesmo.

- Você quer ir mesmo?

- Ué, claro que sim.

- Então vamos, entra aí.

Fiquei surpresa, já que ela era uma pessoa bastante reservada, difícil às vezes. Aquilo já era um grande passado, significava que eu estava indo pelo caminho certo. O estacionamento estava vazio e saímos de lá para o centro da cidade onde ficava a casa dela. Mandei mensagem para a minha mãe avisando que eu passaria o dia na universidade, e logo depois para as minhas amigas, que surtaram quando souberam o meu destino.

Obrigada pelos comentários, incentivam muito para a continuação da história 

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