A Casa da Esquina

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Caminhei por aquelas ruas durante muitos anos da minha vida, lembro que sempre que voltava da escola meus olhos passeavam pela residência antiga que ficava a um quarteirão de onde eu morava.

Sabia que havia algo de errado ali, era quase como se pudesse tocar com as minhas mãos, o terror que aos meus olhos habitava naquele lugar. Meu sorriso sempre se esvaía cada vez que observava o grande portão, cuja ferrugem fora corroendo com o passar dos anos. As paredes decaindo e a hera crescendo ao redor. Tornando o lugar, que em algum século passado parecera fascinante em algo soturno e macabro.

Nunca soube explicar os sentimentos que que o casarão me causara, pois todos os meus amigos permaneciam indiferentes a estranheza do lugar. Então eu sorria e seguia em frente, fingindo que não passava de bobagem da minha cabeça, fiz isso por muitos anos.

Até o dia em que precisei passar naquela rua sozinho. Passada alguns minutos desde que o sol tinha se Escondido e eu me apressei para chegar em casa rapidamente, quase como se estivesse fugindo. Superficialmente minha mente se voltava para coisas que eu precisava fazer mais tarde. E quanto mais me aproximava do lugar que assombrara meus pensamentos na infância, mais eu tinha certeza. A coisa de que eu havia fugido durante todos esses anos me esperava lá. Seja lá o que houvesse ali, tinha permanecido inerte durante vários anos, me desafiando a viver tranquilamente, até chegar o momento de tirar isso de mim. E agora, por alguma razão desconhecida decidira que era a hora de acordar. E estava perto. Cada vez mais perto.

Segui o caminho silenciosamente. Porém aquela sensação de que havia sempre alguém me observando, permanecia arraigada a mim. Parei em frente a grande casa, um silêncio taciturno pairando ao meu redor, tudo estranhamente calmo, como se por um instante o universo que respirava ao meu redor, estivesse morto.

Esperei por segundos, a visão totalmente focada diante do grande portão, que em minha cabeça logo começaria a ranger, abrindo-se forçadamente. Mas ele permaneceu no mesmo lugar e eu suspirei aliviado. Sentindo que minha mente me enganara por longos tempos. Segui em frente com passos firmes. Então meus olhos se voltaram para um montinho de terra no chão, que eu nunca percebera.

Meu coração começou a acelerar à medida que ele se movia em minha direção, quase como se rastejasse. Se tornando maior e maior. O silêncio permanecia. Mas havia um peso em torno de mim, me fazendo afundar. Quando os olhos daquilo brilharam com um intenso fulgor vermelho. Quase como chamas ardentes expressando sua intenção assassina, uma dor lancinante me envolveu e eu desabei no chão, encarando as pernas torcidas num ângulo impossível de descrever. Mãos frias agarraram meu pulso me arrastando em direção ao lugar que eu viera fugindo a vida inteira.

Tentei gritar, ao mesmo tempo que senti seus dedos retorcidos e podres mergulharem no fundo da minha garganta, sua inspiração produzia os sons mais assustadores que eu já pude ouvir. Desejei morrer, mas como uma risada que exalava escárnio e monstruosidade, ele acariciou lentamente a minha cabeça.

-Ainda não.

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