O Quadro vazio

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Passei quase o dia inteiro dirigindo para chegar a tempo do enterro da minha avó que morava no interior, estava exausto demais para continuar, observei a placa que anunciava um hotel de beira de estrada que eu nunca havia notado antes.

Era um pouco antiquado para o meu gosto, mas eu só precisava descansar por algumas horas. Me dirigi ao saguão e paguei pela diária. Subi um lance de escadas e fui para o meu quarto. Era antigo, mas estava limpo e a mobília até que continha certo charme, pedi uma pequena refeição e aproveitei para tomar um banho rápido.

Deixei que a água lavasse todas as impurezas daquele dia. Me sequei e passei os olhos pelo espelho diante da pia. Podia jurar que havia visto a figura de um homem alguns anos mais velho que eu. Mas foi tão rápido que atribuí ao cansaço que estava sentindo. Peguei uma muda de roupas confortáveis e aguardei que me trouxessem um jantar leve.

Enquanto aproveitava minha refeição, me peguei observando o lugar, a mobília parecia antiga e cara, os cobertores também carregavam um cheiro que eu sempre associava a coisas velhas, embora estivessem perfeitamente limpos e passados.

A parede tinha um papel que eu mesmo não escolheria, pois dava um ar obscuro ao ambiente, mesmo com todas as luzes acesas, havia também um grande relógio de parede que parecia estar quebrado, pois os ponteiros não se moviam, porém, o mais curioso naquela decoração, era um quadro pintado a mão. Retratava apenas uma grande poltrona vazia, posicionada perto da lareira. Achei curioso que alguém pintasse algo assim.

Terminei minha refeição e me preparei para dormir, precisaria levantar pelo menos as quatro da manhã se quisesse chegar a tempo. Apaguei as luzes e deixei o cansaço do dia me puxar para um sono completamente sem sonhos.

O som do relógio me despertou subitamente e eu abri meus olhos assustado, o coração batendo acelerado. O mesmo relógio que eu julgara estar quebrado. Esperei silenciosamente, ouvindo nada além da minha respiração e aquele tictac irritante, que até então eu não tinha percebido.

Estendi minha mão para interruptor, mas algo me deteve. Um medo primitivo de que tinha alguém me encarando, segurei a mão trêmula diante do peito, enquanto a cama afundava sob o peso de alguma coisa que subia nela lentamente.

De súbito liguei a luz, e o quarto permanecia completamente vazio, a não ser por mim mesmo. Ri aliviado, mas lá no fundo permanecia um certo incômodo. Fiquei sentado por uns bons minutos me certificando de que não estava louco.

Acidentalmente meus olhos se voltaram para o quadro antigo e eu fiquei petrificado, ao fitar o homem que estava sentado na poltrona, usava um terno preto e segurava uma bengala em uma das mãos, sua expressão era austera e severa. Tentei raciocinar e procurar uma explicação lógica para aquilo.

Levantei meus olhos encarando o quadro que agora estava vazio, então cheguei à conclusão de que a experiência toda talvez tivesse me proporcionado aquela ilusão. E me dirigi a cama. Naquele momento em que eu sentira uma calma inexplicável, as luzes começaram a falhar e tudo escureceu.

Então eu ouvi a madeira do piso rangendo como se alguém caminhasse pesadamente, e o som de algo batendo no chão, algo como uma bengala. Agarrei meu celular que estava em cima da cômoda e acendi a lanterna. O homem do quadro estava lá, na minha frente. E sua expressão já não era tão severa. Ele sorria.

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