Eu vivo nessa cidade já faz um tempo, estou empolgada em começar a faculdade e poder morar sozinha, bem, quase isso, uma das minhas amigas do colégio vai vir junto também, mas, mesmo assim, não ter os seus pais pegando no seu pé o todo tempo é um alívio, mesmo que a casa deles esteja a apenas quatro quarteirões da minha.
A faculdade começa na próxima semana, temos três dias pra organizar tudo na nossa casa nova. Eu fico encarando a casa cheia de expectativas, quando ouço o barulho do carro da minha colega se aproximando, ela estaciona em frente a pequena garagem, parece tão empolgada quanto eu.
-Oii, é inacreditável, não é? - Ela me envolve em um abraço.
-É sim! - Eu respondo animada. -Vem vamos entrar, temos muuito o que fazer por aqui.
Nós destrancamos a porta, e entramos. Eu olho desacretitada, a casa está limpa, sem um grão de poeira, nem teias de aranha, como se alguma família muito zelosa ainda estivesse morando na casa.
-Nossa, que impressionante! Isso reduziu drasticamente o nosso trabalho.
-É. Eu acho, agora só precisamos organizar.
Depois de algum tempo descarregando as caixas, com nossos livros, móveis e outros pertences, nós notamos, um pequeno caixote de madeira, com um aspecto antigo, em um dos armários da despensa. Eu encaro minha amiga, enquanto ela dá de ombros.
-Deve pertencer aos antigos moradores da casa.
-Ou talvez eles não quisessem mais.
-Nós devemos abrir? -Eu pergunto com uma pontinha de curiosidade.
-Acho que devemos, pode ser só tranqueira, ou pode ser algo importante. -Ela me olha, com aquele brilho travesso nos olhos.
Nós avaliamos melhor a caixa, e percebemos uma fechadura. Depois de algumas tentativas falhas, eu ergo as mãos em sinal de derrota.
-Não dá, está muito bem trancada.
-Deve haver uma chave por aqui, em algum lugar.
-Por que você acha isso?
-Por que alguém quer que nós abramos.
Ou talvez alguém queira que nós não abramos. Eu penso. Mas antes que eu possa protestar de alguma forma, ela aparece balançando uma pequena chave entre os dedos. Com um olhar triunfante, ela me estende o objeto. Eu o encaro, antes de colocar na fechadura, com um clique a caixa abre.
Minha colega me olha com um ar de interrogação. Dentro da caixa estão alguns brinquedos, parecem antigos maltratados pelo tempo, em cada um deles falta alguma parte, uma perna, um olho, o nariz, uma orelha, é meio bizarro, pra falar a verdade. Nós começamos a rir da situação, e deixamos a caxinha de lado.
-Acho que entendo por que eles deixaram para trás, são só trapos.
-Tem razão, vamos colocar junto com as coisas que vão pro lixo.
-Que coisas?
- Tipo aquela sua blusa dos anos 70, que foi um presente do seu ex.
-Acho que eu não posso discordar.
Depois de umas boas risadas, continuamos a organizar o interior da residência, separamos algumas coisas velhas, juntamente com a caixinha que encontramos e colocamos na lata do lixo.
Mais tarde naquela noite fria, ouvi um barulho que parecia vir do lado de fora da porta do meu quarto. Eu acendi as luzes, e me levantei, coloquei o ouvido na porta, quando o barulho se repetiu, eu a abri devagar, tudo ficou silencioso de repente. Ouvi novamente o barulho, dessa vez mais nítido, parecia um grito abafado, eu peguei meu celular, pronta para ligar para a polícia, então me dirigi ao quarto da minha colega, bati e chamei por ela, mas ninguém respondeu, eu empurrei a porta e percebi que estava destrancada, e foi quando eu olhei dentro, que eu percebi que em cima da cama, havia uma boneca de pano loira, faltavam-lhe uma das pernas e o olho, e no chão ao lado da cama uma criança, segurava aquela caixa, seu cabelo pendia em uma trança bagunçada, o vestido estava rasgado e sujo, ela me encarava friamente. Eu acendi a luz do quarto e ela desapareceu. Tudo estava perfeitamente arrumado, como se ninguém houvesse estado ali.
Eu comecei a discar o número da polícia, preocupada com o que podia ter acontecido a minha amiga. Quando uma vozinha aterrorizante sussurrou nos meus ouvidos enquanto me estendia a maldita caixa.
-Você quer brincar comigo?