A trilha da morte

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           Hoje o dia amanheceu claramente agradável, ouço os pássaros cantando, uma brisa leve balança as folhas das árvores, é quase como ouvir a natureza compor uma canção para você. É meu dia de folga do trabalho, e depois de semanas, trancado e preenchendo uma tonelada de papéis, eu preciso respirar ar puro, por isso eu resolvi fazer uma trilha, para espantar as más energias.
            Eu confiro a minha mochila antes de sair, para ver se não está faltando nada que eu possa vir a precisar, eu dou uma espreguiçada, me preparando animadamente para o dia, e entro na floresta. Me distraío observando tudo ao meu redor, caminho por mais ou menos uma hora, até chegar em uma clareira, há uma pedra ali, eu me sento nela, tomo um gole de água, respiro fundo e me levanto, para dar continuação á trilha.
Eu sinto um cheiro, parece fogo, eu me deixo guiar por ele e depois de apenas alguns passos, eu vejo, treze velas posicionadas em um círculo, apesar da brisa que movimenta as folhas, elas permanecem acesas e o fogo é sempre constante, eu fico confuso, observando aquela cena, provavelmente alguém tentando assustar os turistas, eu me afasto rapidamente e continuo a caminhada.
           Depois de alguns minutos caminhando, eu me sinto estranhamente cansado, meu corpo inteiro pende e eu me deixo desabar no chão, tomo mais um gole de água, retiro um sanduíche de peito de Peru e uma garrafa de suco natural, e como devagar, eu fecho os meus olhos e me concentro no sons que a natureza produz, para tentar acalmar meu coração que bate rapidamente. Tudo calmo, não ouço pássaros, nem um pequeno animal correndo pelos arredores, mesmo a brisa suave, havia desaparecido, parecia um quarto vazio e abandonado.
            Um toque de leve no meu ombro me desperta do meu devaneio, eu abro rapidamente os olhos, tudo parece normal, exceto pela quantidade absurda de velas ao meu redor, eu me apresso para sair dali, caminho rapidamente, mas cada lugar me parece irreconhecível, como se eu nunca tivesse estado ali, eu ando por alguns minutos sem saber exatamente para onde estou indo, é quando percebo que eu estou de volta ao ponto de partida. Mas dessa vez, eu não estou sozinho.
           O lugar está cheio de pessoas, ajoelhadas próximas as velas, encarando-as, como se não houvesse mais nada ali. Então uma delas levanta a cabeça e me olha insistentemente, lentamente, ela levanta o dedo e aponta para atrás de mim, mas antes que eu possa me virar e ver o que ela quer me mostrar, mãos esqueléticas  com dedos compridos e unhas negras apodrecidas, agarram meu pescoço com força, e quando eu sinto que estou morrendo, ele me solta devagar e me força a encarar seu rosto retorcido em um ângulo estranho, fico abismado com a figura grotesca diante de mim, sua boca repleta de dentes afiados, esboça um sorriso maligno, eu tento me desvencilhar, mas é muito tarde, com uma das mãos ele atravessa o meu corpo, como uma faça afiada, até eu sentir o sangue escorrer quente e depois frio e com a outra ele me estende uma pequena vela branca.  
           Sem nenhuma vontade de lutar contra aquilo, eu vou para junto das outras pessoas, e apenas observo, enquanto ele, vorazmente, devora cada pedacinho do que antes, era o meu corpo.

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