Eu cresci nessa cidade do interior, pacata e tranquila, nunca quis sair daqui, mas depois de tanto tempo nesse lugar, eu me sinto aprisionado, olhando assim, eu percebo que quase nada mudou exceto pelo fato de que a população aumentou, há mais casas por aqui agora.
Mas se tem algo que eu gostaria que mudasse é a estrada de terra depois da Escola. Aquele lugar sempre me deu arrepios. Lembro de como eu e meus amigos tínhamos medo de andar por lá, dizem os mais velhos que algo terrível aconteceu naquele lugar, mas nós não sabíamos exatamente o quê. Eles nunca falavam sobre isso. Talvez por quê éramos crianças demais para entender alguma coisa, mal sabem eles que foi a nossa ignorância que nos levou até aquele lugar.
Sempre nos orientavam a não irmos pra lá, mas eu e meus amigos erámos teimosos demais, apesar do medo que sentíamos, nos desafiamos a descobrir o que havia por trás de tanto mistério e acabamos fazendo o oposto do que nos disseram.
A príncipio parecia só uma estrada comum, talvez um pouquinho mais assustadora, lembro como o chão era cheio de árvores e plantas mortas, haviam alguns túmulos sem identificação no meio do caminho, depois de alguns minutos caminhando, chegamos a uma pequena cabana, parecia abandonada. Parecia.
Nós observamos enquanto um homem grande e forte ia em direção à porta, ele arrastava um saco grande e preto, éramos crianças, mas inteligentes o suficiente para perceber que aquilo era um corpo, nós corremos e nos escondemos atrás de uma rocha.
Mas eu caí feio e quebrei a perna, meus amigos saíram correndo e prometeram voltar com ajuda, eu não conseguia andar, então concordei em esperar.
Hoje faz exatamente 75 anos que eles se foram, não sinto dor onde quebrei a perna, não sinto mais fome ou sede, calor ou frio, Quando chove, não consigo sentir os pingos frios da chuva, meu coração não bate mais, não consigo mais respirar e minha carne apodreceu até desaparecer completamente, mas eu continuo aqui, esperando por eles.
