Quando eu era mais jovem, lá pros meus 15 anos, eu não tinha medo de muita coisa, na verdade, eu e meus amigos vivíamos fazendo coisas perigosas.
Mas tinha algo, que pode até parecer bobo, mas que me incomodava demais, era quando o grupo não me esperava e eu tinha que correr para acompanhá-los.
Por que era aí, que o via. Acenando para mim de longe, um senhor, parecia ter em torno dos 65 anos, usava um terno cinza, óculos escuros e uma bengala, eu supunha que ele era cego, ninguém mais parecia notá-lo, então eu apressava o passo e quando eu me aproximava dos meus amigos, tão rapidamente quanto aparecia, ele sumia.
Um certo dia, quando eu fui comprar pão para a minha mãe, eu o vi novamente, sentado, do mesmo modo, me encarando por trás dos óculos, que não me permitiam ver seus olhos, mas dessa vez, ele não acenou, ele se levantou e veio em minha direção, eu olhei para as casas do bairro onde eu morava, ainda era cedo, e tinha apenas algumas pessoas, começando as tarefas do dia a dia.
Eu voltei meu olhar para o local onde o homem estava, e lentamente, ele vinha caminhando, auxiliado pela bengala, até parar na minha frente. Prendi a respiração. Então ele ergueu uma das mãos, e retirou os óculos.
Eu fiquei perplexo, ele não tinha olhos, apenas órbitas vazias, das quais sangue e um líquido desconhecido, escorriam sem parar, a boca dele se abriu em ângulo estranho, ele ergueu os dedos brancos e apontou para os meus olhos, tentava dizer alguma coisa, mas não saía nada mais do que um ruído imcompreensível e assustador.
Na época, eu não consegui entender o que ele me dizia, mas agora, eu compreendo, deve ser por isso, que hoje me encontro sozinho, cansado e sentado no mesmo lugar, com os olhos completamente vazios, enquanto observo uma garota de um grupinho da escola ficar para trás, ela olha para mim, uma expressão confusa, eu sorrio para ela, e aceno devagar.
