Era meu primeiro mês de férias nessa casa “nova”, eu havia me mudado há pouco mais de um ano, para iniciar no novo emprego que eu conseguira, e que me permitira o luxo de pagar pela minha própria residência e me dava a total independência que eu tanto sonhara. Era um novo começo. Vida nova, casa nova, eu pensei. Minha rotina era muito corrida, geralmente quando eu saía do trabalho acabava indo pro pub encontrar alguns amigos, depois retornava pra casa e desabava na cama.
Mas agora que eu estou sem toda aquela pressão do trabalho, eu pude dar atenção há certos detalhes que antes me passavam despercebidos, e que hoje se tornaram fonte do meu tormento. De início eu passei dias, semanas tentando me convencer da normalidade das coisas. O vento que fazia as portas baterem, o som do galho batendo na janela que parecia o som de batidas vindas de dentro do armário, o gato da vizinha que entrava no meu quarto e arranhava o chão todas as noites.
Porém, o que aconteceu ontem foi algo absolutamente sem explicação. Depois de preparar meu jantar, eu liguei a TV, minha ideia era passar a noite assistindo meus programas favoritos. Depois de algumas horas eu devo ter adormecido, pois acordei com um toque leve na minha bochecha que logo começou a arder, eu passei a mão de leve, talvez algum inseto tivesse me picado, foi quando senti a pele levemente úmida, instintivamente levei a mão até o nariz e reconheci aquele odor na hora. Corri para o banheiro e encarei o pequeno, mas profundo arranhão que enfeitava o meu rosto. O sangue escorria em pequenos filetes. Uma sensação ruim começou a me envolver, alguém estava ali. Eu prendi a respiração, o lugar estava absurdamente calmo e silencioso, nem o vento soprava, um pavor começou a me envolver, minha respiração se tornou irregular, a porta do banheiro estava entre aberta, deixando uma pequena brecha por onde a luz adentrava no quarto, eu fechei meus olhos com força e abri totalmente a porta, podia jurar que havia uma silhueta sentada na poltrona perto da janela, fechei meus olhos com força e liguei a luz. Não havia nada lá, eu deveria ter ficado aliviada, mas não. Por que a sensação de que eu não estava sozinha era perturbadora demais, fui até a cozinha, tomei um copo de água e voltei pra cama, estranhamente caí em um sono profundo e sem sonhos.
Quando acordei hoje, o sol estava alto. Mas aquela sensação ainda estava comigo, de que havia alguém na casa. Mandei mensagem pra alguns amigos, a maioria não me deu muito crédito, eu pensei por um minuto, então decidi ligar para a corretora gentil que me havia vendido a casa, lembro que ela elogiara os meus olhos no dia em que decidi comprar o lugar, ela talvez pudesse me ajudar, mas ninguém atendeu, eu suspirei, quase desistindo. Á noite se essas coisas voltassem a acontecer eu procuraria a polícia. Se houvesse realmente alguém na casa eu provavelmente já saberia, talvez fosse coisa da minha cabeça. Decidir esperar foi meu erro.
Eu devia ter saído enquanto podia, deitada aqui, paralisada de medo, eu sinto o peso de alguém, ou alguma coisa ao meu lado na cama, eu quero levantar e correr, sair daqui, mas não consigo, meus lençóis são retirados de mim devagar, uma mão desenha o contorno do meu braço, agarra meu pescoço, depois o queixo, seus dedos são longos e finos, com uma força sobre humana, ele me obriga a encará-la. Eu não quero olhar. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, e um riso assombroso escapa da boca da coisa, enquanto eu fito seu rosto grotesco, eu sinto uma leve familiaridade, parte dele está podre, como um cadáver em decomposição, mas eu reconheço aquela face, os olhos, o cabelo, o sorriso. Numa voz rouca, profunda e estranhamente gentil, ela sussurrou no meu ouvido.
-Sabe, eu gosto especialmente dos seus olhos. – Então, suas unhas afundaram na minha face.