- Você chegou rápido, pensei que não viria como das outras vezes. — Dei um beijo na Manu e na Judite, menos nele.
- É... — Levantou colocando o prato de Manu na pia. — Resolvi finalmente mudar e começar a ser mais presente aqui para vocês.
- Não. — Neguei com a cabeça. — Você sempre volta por algum motivo, nunca é por nós, pode ter certeza. Eu só não sei qual é o motivo, mas eu ainda irei descobrir.
- Ju, pode pegar a Manu e deixar a gente um tempinho sozinhos? Quero conversar com ele. — Coloquei um leve sorriso em meu rosto.
- Claro! — Pegou minha irmã da cadeira e veio em minha direção com ela no colo. — Só pega leve com ele. Ele realmente quer mudar. — Murmurou baixinho enquanto passava por mim.
- Me fala logo o que você veio fazer aqui? Eu e você sabemos que não é por conta de família.
- Eu já disse que é porque eu quero mudar! Por que você não aceita isso? — Deu de ombro.
- Por que eu não aceito isso? Por que você não estava presente quando eu ficava chorando todas as noites me perguntando, se você tinha partido porque não gostava de mim? Por que você não estava presente, quando uma mulher que eu mal conhecia, falou para mim, uma menina de quatro anos, que eu tinha bloqueio emocional? E ainda explicou falando que eu transformava meus traumas em doenças para eu não ter que lidar com eles? — Fiz uma pausa para respirar pois estava com falta de ar. — Por que você não estava presente, quando me deixou aqui sozinha com a mamãe? Por que você não estava presente quando me deixou ver ela morrer sozinha? Por que você não estava presente quando eu fui assediada ao vivo. An? Onde você estava em todas essas ocasiões? Acho que em nenhuma. — Quase nem tínhamos começado a discutir e eu já explodi de vez, para ver como eu odeio meio pai e a cada segundo perto dele é mais um segundo de raiva.
- Espera eu não sabia do negócio do assédio, quando foi? Judite não me falou nada.
- É!! Você sabia que hoje eu fiz minha primeira entrevista no profissional? E eu fui assediada nela? Não é obrigação da Ju te contar nada, é sua obrigação como "pai", como você diz, saber disso.
- Por isso eu estou aqui, para mudar isso. Me arrependo demais de ter feito isso. — Não! Você não se arrepende. — O interrompi. — Me arrependo sim filha, eu sou seu pai, por mais que eu não estive presente em nenhuma dessas ocasiões, eu senti falta de vocês. E você sabe que eu fui para Portugal por conta do trabalho.
- Não! Você não é meu pai, não dá para ser uma coisa que você nunca experimentou ser. Você só é chamado de "papai", por conta dessa droga de genética, fora isso, você é só um homem estranho em nossas vidas. — Dei um tapa forte na mesa, e coloquei um sorriso irônico em meu rosto. — Você também sabe que não foi para Portugal por conta do trabalho, você foi por conta de futebol.
- E eu trabalho com o que Gabriela? — Fez uma pausa. — Vendendo arte na praia? Acho que não. Eu trabalho com futebol.
- Sim. Sempre colocando o trabalho e o futebol em primeiro, além de tudo e de todos. — Fui subindo as escadas com raiva, não queria mais ficar perto dele.
- Volta aqui pra gente conversar melhor. Se eu falei que eu vim para mudar, foi para mudar eu prometo.
- Não, por favor, não promete o que você nunca vai conseguir cumprir. Nessa brincadeirinha de "eu prometo", você já me machucou tanto, então eu imploro para você não fazer isso com a Manu também, ok?
- Perdão. Nem eu já sei mais o que falar. Sei que eu não fui o melhor pai do mundo, mas eu tô aqui para mudar isso.
- Sabe de uma coisa pai. — Fiz outra pausa pois estava quase chorando de tanta raiva que eu tinha dele. — Machucar alguém, é como pegar uma pedra e jogá-la no mar, você nunca sabe o quão profundo ela foi.
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Don't worry Darling | Matheus Donelli
FanfictionFutebol sempre amado por todos e nunca odiado por ninguém, a Gabi era assim... Até que esse esporte arruinou completamente a vida dela. Pai sempre ausente pois treinava um time, nunca ficava em casa, e quando aparecia, virava a vida dela de cabeça p...