10° Capítulo

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Ele simplesmente não falou nada. Só me abraçou fortemente e senti o tecido da minha blusa molhar aos pouquinhos. Levantei a cabeça de seu peito para ver melhor a cara do meu pai. Pai, meu pai. Como era bom ter alguém para chamar disso.

- Por que você tá chorando pai?

- Eu-eu, eu não estava aqui com você quando você precisou, não estava aqui quando você desmaiou. — Disse tudo isso segurando o choro. — Eu sou tão, mas tão burro que não percebi que minha filha estava doente. Me perdoa?

- Perdoar pelo o que?

- Por não ser o pai que você precisa. Ter que ficar pendente da Judite pra saber de tudo sobre você.

- Bom.... Você pode ter seus defeitos, como preferir seu trabalho mais do que sua filha. — abri um sorriso irônico. — Mas eu gosto, gosto desse pai, não teria pai melhor para mim. — Enxuguei as pequenas, e não muitas lágrimas que escorreram por seu rosto não barbeado.

- Me explica o que a médica disse para você?

- Ahn, ela disse que tive um treco de ansiedade por conta do estresse escolar, eu não entendi muito bem... — falei me confundindo nas palavras para ele não perguntar mais. — Mas não quero falar disso agora que você chegou! Queria saber se você fez algo de mau para o Gabriel?

- Não tem como não fazer. — Deu de ombros.

- Pai, eu já te disse sobre o assunto pessoal e profissional.

- Tá, tá. Mas eu não enfiei uma estaca no coração dele, com touca no cabelo e luvas para não mostrar as digitais, e depois peguei o corpo, e as provas, e levei para uma cidade do interior para enterrar tudo, em seguida me levar em um banheiro de uma casa abandona que ninguém nunca vai, para não ser descoberto. Por mais que eu queria. Eu só tive uma conversa bem séria com ele.

- Tem certeza? Achei a discrição do crime muito detalhada para não ser verdade. — Soltei uma risada.

- Talvez... — Ele entrou na brincadeira.

- Tá, tá. Mas agora me leva pro ct?

- Não, filha. Acabei de voltar de lá. Eu tô muito estressado com os jogos da Libertadores, hoje é só treino físico então não precisam de mim lá. E o mais importante, minha filha quase morreu...

- Meu Deus, para da ser dramático. - O interrompi.

Ele simplesmente ignorou e continuou.

- Então, quero passar todo o meu tempo com ela. - Me envolveu em um abraço bem apertado, como se eu fosse um sabonete muito escorregadio e que fosse pular de sua mão a qualquer hora. Talvez eu fosse...

Passamos a manhã toda sendo pai e filha. Ficamos assistindo filmes dos anos 90/80, como Top Gun, Gatinhas e Gatões, Curtindo a Vida Adoidado, Karatê Kid, De Volta para o Futuro. Foi um sentimento especial. Nunca tinha sentindo isso na minha infância inteira. Uma figura masculina que me protegesse e me amasse, então foi um belo mix de emoções. Para alguém que nem sempre teve o pai presente, mas isso não anulava o fato de que eu necessitava ir para o ct enquanto os jogadores estavam lá.

Estávamos vendo a famosa e popular cena de Top Gun, a da praia. Em que Tom Cruise e Val Kimer aparecem sem vestimenta nenhuma a não ser bermudas jeans. Ainda por cima, jogando vôlei e todos suados. O surto de qualquer pessoa que possua olhos.

Falando em olhos, os do meu pai estavam bem fechados, e da boca saindo um ronco que dizia "estou no meu décimo quinto sonho". Essa era minha deixa para ir embora.

Deixei o filme rolando para não ter perigo do Abel despertar. Retirei cuidadosamente a cabeça dele na minha perna, e troquei rapidamente por uma almofada fofa. Ele nem sequer deu sinal de vida. Peguei a chave do Audi do meu pai, e desci para a garagem.

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⏰ Última atualização: May 20, 2023 ⏰

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Don't worry Darling | Matheus DonelliOnde histórias criam vida. Descubra agora