Antes
Enquanto andava a caminho de sua casa, um dos anciãos da vila a abordou e ofereceu-se para acompanhá-la.
Os anciãos eram os mais respeitados entre os prudentos. A sabedoria que carregavam era muito admirada e sempre que precisavam de conselhos iam até eles. De fato, para o povo não havia coisa alguma que não houvesse resposta, mesmo que para isso precisassem estudar mais a fundo um assunto que ainda não dominavam, passando horas na biblioteca. Os anciãos, no entanto, sabiam que nunca existiria alguém com respostas para todas as coisas e, eventualmente, os habitantes da vila acabavam percebendo isto quando chegavam à idade de se tornarem os sábios de seu povo. Sempre havia, porém, alguém para duvidar da sabedoria daqueles que viveram centenas de anos, contudo, em algum momento, dentro ou fora da vila, percebiam que eles estavam certos.
Os Sábios Prudentos tinham cada um sua especialidade. Conforme a necessidade aparecia, quem entrava para a assembleia passava a preencher uma lacuna que tinha muita demanda. O senhor Rerovius carregava consigo uma bagagem interessante sobre família. Seu pai fora o primeiro a sair da vila e nunca mais voltar e, sua mãe, desolada, não conseguia mais falar. A pobre mulher carregava tanta tristeza dentro de si que nunca conseguiu colocá-la para fora. Com a tristeza engasgada, as palavras ficaram presas. Ele fora, então, criado pelos avós. Este foi um dos primeiros casos a acontecerem na Vila de Prudenta. Enquanto crescia, via outras crianças serem afetadas por problemas na família. Então, quando chegou a idade de tornar-se um sábio ancião, não hesitou, escolheu preencher a lacuna que tanto fizera-lhe falta. Escolheu o amor.
Era senhor Rerovius que naquele momento se aproximava de Aiyra para acompanhá-la. Algumas pessoas não gostavam da forma como ele se comportava, pois passava muito tempo entre os mais novos. Contudo, ele sempre explicara que era nessa idade que precisavam aprender sobre o amor, caso contrário, sofreriam as consequências de decisões erradas pelo resto da vida. Assim que o viu, Guinu deu um pequeno sorriso com o canto da boca, sabia o que aquilo significava. Temia pelo que ele iria falar, pois seu destino com Ayira dependia de suas palavras, mas confiava em senhor Rerovius.
— Minha querida, espero que não te importes se eu acompanhar-te até a tua casa. — respondeu, sorrindo com ternura.
— Claro que não, senhor Rerovius. — disse, entendendo o braço. — Inclusive, eu sei porque o senhor está aqui.
— Oh, vejo que és uma menina perspicaz! — virou-se para encarar os olhos negros de Aiyra com seus pequeninos olhinhos azuis. — Por favor, explique-me.
— Ora, vejamos. O senhor está aqui porque tem visto Guinu conversar comigo nestes últimos dias. Eu entendo, mas não precisa se preocupar. Sei me cuidar. — sorriu orgulhosa.
— Sim, sim. — daquele ângulo, sua cabeça lisa e sem um fio de cabelo reluzia conforme ele balançava a cabeça. — Minha querida Aiyra, só quero que tomes cuidado. Guinu é um bom rapaz, mas acabas de completar tuas duas décadas. Precisas entender que tens muito tempo pela frente.
— Mas Guinu já completou duas décadas há quatro anos! Quanto tempo mais iremos esperar?
Senhor Rerovius arqueou suas sobrancelhas tão alvas e brilhantes quanto a lua.
— Sei muito bem que este bom rapaz a estima desde a infância. Não lhe fará mal esperar um pouco mais. — ele parou por um instante. — Quero que me acompanhes à biblioteca, sim?
— Senhor Rerovius, mas a Festa das Abelhas começa daqui a uma hora. Irei me atrasar. — protestou Ayira.
— Tudo bem, minha pequena. Não irei atrasar-te, apenas quero mostrar-te alguns livros interessantes. Não irá levar muito tempo, prometo que chegarás a tempo para as festividades.
— Está bem, senhor Rerovius. — disse, relutante. O sábio ancião, por sua vez, riu-se de tamanho desânimo.
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Tecidos Acrobáticos 🎪
Mystery / ThrillerAiyra acaba de completar duas décadas de vida e, na Vila de Prudenta, isto significa que está na hora de tomar muitas decisões importantes. Ela tem muitos planos e um deles é casar-se com Guinu. Entretanto, quando sua amiga vai embora e chega um boa...