Capítulo III - Velhos Amigos - Parte 5

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De repente, o menor começou a sentir um peso extra na luta, o fazendo recuar. Seu oponente parecia estar se fortalecendo de alguma forma. Seus golpes estavam mais diretos e fortes. Sem perceber, o médico estava indo para um canto mais sombrio da sala, onde não conseguia enxergar o inimigo nitidamente, vendo apenas os flashes entre uma colisão e outra de suas espadas. Ao último, conseguiu enxergar o outro com o olhar sério e intimidador, como o olhou para o rei há poucos minutos. Mesmo assim, isso não podia deter o que protegia o rei, que fazia o máximo para parar de recuar, obtendo cada vez menos sucesso. Acumulando forças para desferir mais um ataque, centrado ao rebelde, sentiu um forte impacto em sua espada, o fazendo doer o pulso. Sua espada havia feito um trinco profundo. Sua completa atenção se direcionou a espada a ponto de se partir. Não sabia o que fazer, esta podia ser a sua única defesa. Virando o rosto para frente, foi surpreendido por outro golpe, tão forte quanto o último. Instantaneamente, sua espada se dividiu em pedaços. Os olhos arregalados do cientista assistiam os cacos se espalharem pelo ar como se o tempo estivesse reduzido. A luz emitida pelo último brilho ia se apagando, refletida pelas partes do aço que caiam. Recuou. Analisou instintivamente o seu estado antes de atacar. Seu pulso doía como se tivesse rompido algo. Mesmo com a espada quebrada, o carpo machucado e com o oponente caminhando em sua direção, não podia desistir, tinha que continuar para proteger seu futuro, mesmo que ele não fosse fazer parte. Firmando o pé para manter o equilíbrio, sentiu uma forte ardência em seus dedos, por onde rasgou a espada inimiga. Forçando-se a conter a dor, mantinha-se segurando o cabo, ainda sem sentir alguns de seus dedos, recebeu outro ataque, desta vez jogando o que sobrou de sua espada para longe. Retirando uma adaga de seu cinto com a mão esquerda, sentiu um golpe de cima para baixo rasgar a pele de seu peito, que o fez largar sua arma secundária. Antes que pudesse pegar outra, sentiu o rebelde segurar seu braço e o deslocando para trás, fazendo-o gritar seco. Recebeu uma joelhada no estômago e, antes que pudesse se defender do próximo ataque, foi chutado para longe. A atenção do invasor estava centrada ao cientista, que tentava se levantar enquanto virava o rosto para o seu oponente. Era isso, mesmo depois de insistir tanto, tudo aquilo pelo que lutou seria em vão. Toda a sua vida seria esquecida junto de tudo o que fez. A sua força já não era suficiente, mesmo que conseguisse se levantar, não ficaria mais de pé por muito tempo. Ainda assim, com toda a dor que sentia, tentava se manter consciente. Ao que sua visão tentava ficar nítida, viu o brilho da lâmina inimiga aparecer. De uma vez, o vulto corpulento do imperador investiu ao invasor, fazendo um grave som metálico ecoar de sua grande arma. Enfim, enxergando uma brecha, o rei conseguiu atacar o invasor, que conseguiu se defender com dificuldade e, com a força do impacto, rolou pelo salão, firmando-se ao final. Pouco desnorteado, agora o invasor tinha o rei como o oponente.

— Majestade. — retornando um tom sarcástico corrompido em raiva, falou o rebelde — É uma honra entrar em batalha com tão poderosa imagem. — se erguia, mantendo o mesmo tom, enquanto o rei permanecia com a postura.

A chuva torrencial afora, abafada pelas paredes do castelo continuava, enquanto os dois se encaravam. O trovejar voltou a fazer parte da acústica do local.

— Nenhuma palavra para este humilde servo? — acalmando seu fôlego, o invasor continuou — Peço perdão. Sua imagem não deve ter contato com pessoas como nós. Pessoas comuns que apenas tentam ajudar o nosso amado reino, o protegendo com nossas próprias vidas. — aos poucos graduava a voz — Também não deve escutar os nossos lamentos, enquanto ardemos em chamas!

O imperador permanecia em pé, empunhando sua espada estática na direção do invasor. O robusto não tinha a agilidade ao seu lado porém, a força dos ataques era impetuosa. Por um instante, o alto olhou ao seu antigo médico, certificando-se de que ainda estava vivo. Os líderes inimigos voltaram a se encarar. Para o rebelde, falhar acabaria com a única chance de salvar o reino daqueles que diziam protegê-lo. Para o imperador, perder a batalha simbolizaria o fim de Kohan como um todo. De uma só vez, cheio de fúria, o invasor investiu contra o rei. O imperador esperou silencioso, para em seguida se defender dos ataques do outro com sua grande espada larga. Mesmo que recebesse alguns golpes, o rei permanecia com o mesmo vigor, devolvendo os inúmeros e rápidos ataques inimigos em poucos e destrutivos, dando tempo para que o médico recuperasse sua consciência por completo.

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