Capítulo III - O Sangue da Fera - Parte 1

3 2 0
                                    

A fera corria ao seu lado. Independente de quantas vezes estralasse as rédeas, ela continuava o acompanhando; cada vez mais de perto, sem olhar a frente, como se conhecesse o terreno como sua casa. Virando o seu rosto para frente, o cientista checou quanto do caminho ainda faltava. Forçando a boca, não conseguia ao menos medir quantos quilômetros faltavam. A luz estava exatamente do mesmo tamanho de antes, quando ele havia acabado de fugir da cabana. Era como se ele não estivesse se movendo em meio a floresta, como se todo o seu esforço não servisse de nada. Rapidamente, ele enfincou sua espada a bainha; não conseguiria enfrentar aquela criatura com uma lâmina comum. Rapidamente o sorriso macabro da fera a menos de um metro dele se torno uma feição duvidosa ao que viu o arco longo carregado nas mãos da presa. Com um único tiro, o cientista conseguiu dar um tiro kohaniano, acertando bem ao olho da criatura.

A besta grunhiu, perdendo o rumo e se chocando com várias árvores pelo caminho, destruindo os seus troncos. "Maldito!" gritava o monstro com a voz cada vez sendo menos ouvida. O cientista apenas retornou o arco ao seu corpo sem olhar para trás. Não importava quão longe ele precisava ir ou quanto tempo demorasse, ele tinha que chegar até o fim daquela floresta maldita, para voltar ao "mundo real".

As patas do cavalo arrebentavam com tudo que chegava a sua frente. Mesmo que raro, os golpes precisos da espada do cientista contra as plantas que apareciam no caminho eram dados, cortando o ar profano daquele lugar. Seu braço, assim como metade do seu corpo, estava repleto de manchas esverdeadas; o sangue do que ele continuava destruindo. Mais uma vez, começou a ouvir passos rápidos vindos do fundo esquerdo. Virando o seu rosto para trás, viu "ele", aquela coisa massiva saltando de um lado para outro pelo caminho, acelerando o andar, se tornado mais rápido que o cavalo. O olho da fera sangrava, ao mesmo tempo que vaporizava da mesma forma a quando ele a libertou. Mais uma vez, o médico retirou o seu arco composto e levou a mão a aljava. "Três" pensou ele, notando o número de flechas que ainda tinha; ele perdeu a maioria depois de capotar do cavalo dois dias atrás. Mas, se ele não atirasse, não conseguiria sair de lá.

— Por que corre? — questionou a voz sinuosa em um tom alegre — Vós pertenceis a este lugar. — o quanto mais ela falava, mais o ficava grave e a sensação de ser atravessado com ela crescia — Tudo o que é teu pertence a nós, criança... — sua voz foi interrompida de uma vez por uma flecha que entrou de vez em sua boca, chegando a garganta.

A besta começou a cambalear mais uma vez. Se perdendo de novo na floresta. O dorso do cientista estava virado ao lado e sua cabeça e braços para trás depois de atirar uma de suas últimas flechas. Todos os tiros precisavam ser certeiros e banhados em sua raiva. "Mais duas", ressentiu ele enquanto levava uma das mãos as rédeas novamente. As flechas também não eram suficientes para parar a criatura que gritava por ele. Cada vez mais as palavras se enfureciam, tentando levar o medo a ele.

De novo, agora, pelo outro lado. Atingir o outro olho seria um tiro de sorte, e ele tinha apenas mais duas flechas, então decidiu mirar no que mantinha a fera correndo: suas patas em forma de mãos. Ele puxou a corda do arco, olhando por menos de um segundo para frente, para se certificar que não existia nenhum perigo em seu caminho. De uma vez, a flecha atingiu a pata da criatura, mas dessa vez, não fazendo efeito algum ao estilhaçar com a velocidade do alvo. Os pés dele eram vistos quase que como um vulto de tão velozes. Rapidamente, o cientista retirou a espada com a outra mão e balançou para frente, para cortar outra planta carnívora. Essa quase o fez perder o equilíbrio a ponto de cair do cavalo. O animal também estava assustado, correndo pela adrenalina que recebia de um predador como aquele.

A fera se aproximou de uma vez ao cientista, recebendo de surpresa uma lâmina curta em sua perna, que a atravessou. O grito de dor do monstro ecoou para muito mais longe que antes, ainda que um pouco abafado pela flecha que permanecia em sua garganta. Aquilo não morria de forma alguma. Tudo que ele tentou até agora parecia em vão, servindo apenas para deixá-la com mais raiva.

A Lenda de KohanOnde histórias criam vida. Descubra agora