Capítulo I - A Floresta Sombria - Parte 3

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Depois de uma noite bem dormida, algo necessário para se entrar em uma floresta como aquela, o cientista observava atentamente um largo caminho entrava ao tenebroso arvoredo. As árvores do lugar pareciam estranhamente corruptas, formando um miasma que impedia grande parte da luz passar entre a vegetação. Algumas das árvores estavam secas e aparentavam estar mortas, mas de alguma forma, se mantinham de pé. Uma estranha mistura de vegetação, algumas que não deveriam estar por lá, ressaltavam uma oculta propriedade do local. Tudo parecia mais escuro, como algo que infectou cada um dos troncos e foi responsável pela discreta névoa, deixando um aspecto semelhante a uma fuligem preta, idêntica a carvão. Agora o cientista entendia o motivo pelo qual várias pessoas criavam lendas sobre o local, até para alguém cético como ele, a floresta conseguia causar arrepios.

O cavalo não acusava medo, como se nem ele fosse capaz de identificar que algo sombrio estava a frente. Sentindo um leve balançar em alguns de seus fios de cabelo, o cientista sentia um macabro vento que ia e vinha de dentro da floresta, como se ela estivesse respirando. O caminho parecia uma grande boca, demonstrando um arco profundo, reverenciado por toda a vegetação que seguia nas suas laterais. Ao chão, algumas largas placas de pedra formavam uma espécie de piso antigo e despedaçado. Diferente do que ele havia pensado, não havia um único barulho nítido por lá, mostrando ser desabitado pelos animais. Estreitando os olhos para o lugar onde nenhuma outra pessoa se atrevia a ir, o cientista adentrou a passagem da floresta.

Mantendo seus galopes calmos, o médico retirou de uma das malas o caderno em branco que trouxe, procurando documentar algo. Seu anseio disputava espaço com sua guarda alta que estranhava toda a falta de movimento. Quanto mais se distanciava da luz da entrada, mais se entregava a fraca escuridão ao redor. O ar parecia impregnado com algo inodoro; provavelmente não tóxico por estar em meio as árvores, mas o suficiente para torná-lo mais pesado.

Os cascos do animal saíram do chão de pedra e tomaram um som mais abafado em cada uma das vezes que pisavam em partes de terra cada vez mais frequente. Recordando do mapa que ele mesmo havia feito, retirou uma folha grande de papel e foi desdobrando. Tudo o que tinha era baseado no que o grosso livro de histórias dizia. Ele não teria que ficar muito tempo lá dentro, apenas algumas horas já seriam o suficiente para encontrar o local e sair com a planta em mãos.

Depois de alguns minutos, já não havia mais o piso de pedra ao chão, e o cientista começava a enfrentar uma mata mais densa, com um caminho mais fino e de pouca luz ao que continuava. Teve uma leve dor de cabeça momentânea, algo que foi curado com alguns goles de água vindo de seu cantil. O cientista permanecia com a guarda alta. Tudo que viu até agora, além das folhagens escuras e do caminho aberto entre elas, eram vultos que surgiam tão repentinamente quanto desapareciam. Calmamente, ele parou o cavalo para que pudesse olhar o mapa. Ele sabia para onde ia, mas uma olhada a mais nunca seria dispensável em meio a uma floresta tão traiçoeira como esta. Ao retirar a grande folha de papel de sua bolsa, a estendeu diante dele, certificando-se de onde estava. Restavam mais algumas horas para chegar ao seu destino, então pensava em repartir o caminho em dois, com um acampamento ao meio da noite. Ele não queria se apressar, com medo de perder algo importante em meio ao matagal.

De repente, o cientista ouviu o barulho de um bater de asas muito veloz, como o de um inseto, porém mais forte. Sua atenção foi cortada imediatamente, o levando a algo que pousou em um galho a sua frente. Abaixando o mapa, o médico analisava que tipo de inseto seria aquele, assim como o pequeno fazia ao que estava a cavalo. O cientista nunca viu uma criatura como aquela. Era um pouco maior que um louva-deus. Estava sobre quatro patas, deixando duas altas como o seu dorso. As pontas se bifurcavam, como pequenas mãos. A cabeça era ainda mais incomum, muito parecida como as de um humano, porém mais arredondada. Uma boca aparentemente pequena abaixo de seus grandes olhos escuros e separados que observavam curioso como o forasteiro. O médico pensou em desenhá-lo, mas sua curiosidade não o deixava parar de olhar. Seu espanto não foi suficiente para que abrisse sua boca, algo que ele se arrependeria se fizesse. Sem se despedir, a estranha criatura abriu voo, mantendo a direção que seguia antes de se encontrar com o cientista. Ele ficou olhando para o caminho que a criatura tinha seguido. Talvez aquele ar corrompido estivesse fazendo mal a sua sanidade, o criando miragens em sua mente. Não era igual a nada que ele tinha visto antes. Ainda pouco perplexo, manteve o galope pelo caminho tênue.

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