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...

Eu sorri. Não deu para evitar. Ele estava vestindo um terno preto com gravata cinza. Os óculos haviam desaparecido e ele era alto.

E tinha aquele sorriso no rosto...
Era exatamente disso que eu precisava. Seríamos vistos. Ele poderia terminar comigo no fim da noite. Sem olhares complacentes de Jennie, sem suspiros de pena de Soobin e sem nenhum movimento de cabeça de “tá bom, agora conte a verdade” de Jimin. E seria próximo da verdade. Meu namorado postiço só estava reorganizando um pouco a ordem dos eventos da noite para mim. Não havia mal nenhum nisso. Especialmente se mantivesse longe de mim a doença contagiosa chamada Jennie.

— Oi — falei, me aproximando do carro, onde ele continuava parado mantendo a porta aberta, como se ainda não estivesse inteiramente comprometido com a ideia.

— Você está ótimo. — Olhei para o cabelo dele, que dava para ver melhor agora de perto. Uma bagunça. Uma bagunça que aparentemente ele havia tentado ajeitar.

— Senta um pouco. — Apontei para o banco do carro. Ele ergueu uma sobrancelha, mas fez o que eu pedi.
Peguei uma escovinha da bolsa e a usei para ajeitar seu cabelo. Quando o afastei da testa e penteei de um jeito legal, assenti, satisfeito. — Ficou muito bom.

Ele balançou a cabeça com um suspiro.
— Vamos logo com isso.
Depois ficou de pé e me ofereceu o braço dobrado. Segurei a mão dele, em vez de aceitar o cotovelo, e o puxei para o ginásio.

— Ei, espera aí — ele falou, e meu corpo levou um tranco com a parada brusca, o que não foi nada engraçado
— Preciso de um pouco de informação. Você quer convencer os seus amigos de que a gente se
conhece, certo?
— Ah, é. Bom, vamos ver...
— O nome já é um bom começo.
Eu ri. Não tinha nem falado meu nome.

— Kim Taehyung. Dezoito anos. Formando aqui no adorável Yonsei Universit Sinchon Campus. Faço parte do conselho estudantil e normalmente não preciso implorar por companhia. Tipo, hoje foi a primeira vez.
— Registrado.
— E nas próximas duas horas você será Kai william. Penúltimo ano na SUC, motivo pelo qual meus pais não aprovam o namoro, aliás. Eles acham que você é velho demais para mim.
— Eu sou.

Eu não sabia ao certo se ele estava falando de Kai ou de si mesmo.
Pensei tê-lo ouvido dizer que estava terminando o colégio.
— Quantos anos você tem?
— Se estou no penúltimo ano, devo ter pelo menos uns... sei lá. Vinte e um?
Ele estava falando do Kai. Revirei os olhos.
— Sim. Mas são só três anos mais que eu.
— É, você tem dezoito, mas ainda assim, ainda está no colégio.
— Só tenho mais cinco semanas de colégio, e você agora está falando como os meus pais.

Ele deu de ombros.
— Eles parecem ser bons pais.
— Bom, agora não tem mais importância. No fim da noite você vai ter que terminar comigo. De preferência na frente dos meus amigos. Tente
não exagerar no espetáculo. Seja rápido e discreto. Depois, como o verdadeiro Kai, você pode ir embora para sempre, e a história acaba aí. — Um nó se formou na minha garganta quando eu disse isso, quando pensei em Kai indo embora como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Apaguei a imagem da mente e sorri para ele.
— Eu consigo fazer isso.
— Que bom. E a sua irmã? Ela vai dificultar as coisas lá dentro? Vai correr pelo ginásio gritando o seu nome?

— Não. Minha irmã nem imagina que eu vou estar lá dentro vestido dessa maneira. Ela está mais interessada no garoto. Mas, se eu perceber que ela está se aproximando, dou um jeito de tirá-la de perto e conto tudo. Ela é legal, vai colaborar.

— Você não acha melhor mandar uma mensagem para ela? Só por precaução.
— Eu faria isso, mas, na pressa, esqueci o telefone. — Ele apalpou os bolsos para provar que estava falando sério.
— Ela vai ficar de boa?
— Ela vai ficar de boa.
— Tudo bem, acho que acertamos tudo, então.
Ele riu para mim, como se eu tivesse esquecido alguma coisa óbvia.

«𝐅𝐀𝐊𝐄 𝐋𝐎𝐕𝐄»  [Em Revisão] Onde histórias criam vida. Descubra agora