Capítulo 3

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Seis verões depois

— Eu não devia ter saído — dizia Eira enquanto andava pela floresta — Mas aquele pássaro estava me chamando só que acabei me perdendo e não consigo voltar ao forte.

Os longos cabelos vermelhos escapavam de suas tranças e o vestido azul se encontrava agora todo amassado, mas ela continuava a andar por entre as árvores sem notar serem as mesmas de antes, até que cansada sentou-se em um tronco que estava ali caído.

— Como vou fazer para voltar para casa? Se minha mãe perceber que não estou em casa, eu peço aos deuses que o forte permaneça de pé! — as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, nublando seus lindos olhos verdes — e se eu não conseguir voltar mais? Eu quero minha mãe!

— Floresta não é lugar de criança que chora e chama pela mãe!

Eira olhou para o estranho que havia chegado; seu cabelo, negro como a escuridão, era curto e levemente enrolado, a pele morena talvez devido ao sol ou era sua cor natural, não sabia. Era mais alto que ela e parecia ser forte por baixo da túnica e do braccae que estava trajando e carregava a espada presa no cinto mostrando que deveria ser um dos meninos que estavam treinando para se tornarem guerreiros.

— Estava chamando pela minha mãe porque estou perdida. — respondeu Eira secando as lágrimas e erguendo o queixo.

— O que me faz repetir que floresta não é lugar de criança.

— Mas você também é criança.

— Tenho 11 verões e estive na floresta quase todo esse tempo. Agora me diga o que veio fazer aqui sozinha.

— Eu estava na janela da minha casa quando vi um pássaro voando em volta dela e ele começou a chamar meu nome. Depois veio em direção a floresta ainda me chamando. Vim atrás dele, mas não o encontrei. Tentei voltar ao forte, mas não conseguir.

— Você mora no forte da colina? Eu nunca a vi lá. Nem mesmo nos banquetes, eu me lembraria de tê-la visto.

— Eu não tenho permissão para sair de casa — a pequena passou a mão nos cabelos, fazendo com que alguns cachos caíssem no seu rosto.

— A cor de seus cabelos.... — O estranho falou com surpresa e admiração na voz — Então você é a Bean Uí Eira.

— Eu mesma! — ela respondeu com um enorme sorriso, mas depois sua expressão mudou, demonstrando que ela estava tentando entender algo — Como sabe que sou eu?

— Pelos seus cabelos Bean Uí bheag. Todos sabem que és a única a ter essa cor de cabelo na aldeia. Por isso não tinha como eu não saber que se tratava de vós! — o estranho se aproximou e ajoelhou-se à sua frente — Perdoe a minha insolência, mas não a conhecia e jamais poderia imaginar que seria a senhora aqui chorando perdida na floresta.

— Eu poderia perdoar se soubesse o que é inso... inso...

— Insolência?

— Sim! Já ouvi meu pai esbravejar isso com alguns guerreiros, mas não entendo o que significa.

— Significa que faltei com respeito a vós.

— Um... Ainda não entendi.

— Apesar de o Eolaí dizer que somos todos iguais, sabemos que devemos respeitar-lhe, a sua esposa e seus filhos. Nunca lhe falaram sobre isso?

— Minha mãe falou algo assim, mas como vejo poucas pessoas não me lembro muito sobre isso.

— Entendo. — O estranho levantou-se do chão onde havia permanecido ajoelhado — Permita-me acompanha-la de volta a sua casa em total segurança.

Trilogia Guardiã - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora