Capítulo 6

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Durante os festejos, Liam permaneceu em um dos locais mais afastados de onde todos se divertiam, apenas observando as pessoas conversando e os casais dançando. Seus pais pareciam até mais jovens enquanto dançavam ao som dos alaúdes.

Tentando não prestar atenção a tudo aquilo que lhe era estranho, olhou para o pequeno embrulho que ainda estava em suas mãos; na hora que seus pais foram entregar o presente à Bean Uí Eira, uma capa vermelha, que sua mãe teceu e bordou em dourado, ela não tivera coragem de entregar o seu, não após ter visto todos os outros presentes luxuosos que ela havia ganho, e o manteve escondido apesar de sua mãe ter olhado, incentivando-a a entrega-lo e Eira ter lhe sorrido do jeito mais caloroso possível.

Ela sabia que o melhor seria devolvê-lo ao seu devido lugar, afinal ela não iria presenteá-lo mais, só não sabia como faria depois de tudo que aconteceu. Afastou-se mais, passando pelos guerreiros que estavam de vigia, sentindo seus olhares curiosos enquanto andava na direção de uns bancos de madeira que ficavam próximos a um monumento de pedra dedicado aos deuses. Liam foi até um deles, aquele onde costumava às vezes se sentar com Eira para conversarem, limpou a neve ali acumulada e ficou a observar todo aquele mundo coberto de branco enquanto ainda se ouvia de longe o som dos instrumentos.

— Oh pequenino, me perdoe por, no final, ter desistindo de dar-te a ela. Mas como eu poderia fazê-lo se todos aqueles presentes que ela ganhou são dignos de quem ela é. Fui uma tola ao pensar que tivesse um presente digno para ela; todos aqueles presentes eram melhores que o meu.

— Sabe que meu melhor presente é a sua amizade.

Quando Liam olhou, Eira estava em pé, ao lado do banco. Nesse momento ela percebeu o quanto ela era linda, com seus cabelos vermelhos com algumas tranças presas com enfeites coloridos e o restante solto, o vestido que usava e a capa que sua mãe fizera colocada nas costas; ela teve absoluta certeza de que nenhuma outra garota era tão perfeita quanto sua Eira.

"Sua Eira? Como assim? De onde veio esse pensamento? Ela não é minha, para eu chamá-la assim...."

— E o que eu mais queria hoje era ter minha amiga do meu lado, — ela continuou sentando-se no banco — mas parece que você prefere ficar com a neve verdadeira do que comigo.

— Não é isso Eira, é só que... Primeiro eu acompanhei meu pai em uma missão, ele me obrigou, dizendo ser bom para meu treinamento ir com ele também nas missões que não for muito perigosa para mim. Por isso não pude ficar com você durante o dia todo e depois eu queria te dar algo, mas infelizmente não posso te dar nada como aquelas coisas que você ganhou.

— Sabe quais foram os melhores presentes que ganhei hoje? Esses enfeites no meu cabelo que o ferreiro fez, e uma pessoa pequena feita de feno que ganhei do cuidador dos cavalos. E também essa capa que sua mãe fez. Por que foram presentes feitos com carinho. Os outros são mais para meus pais. Eu daria todos aqueles presentes em troca de trazer meus irmãos de volta.

As duas ficaram em silêncio. Liam tentava encontrar algo para dizer, mas a única coisa que conseguia pensar era fazer como o pai e bater a cabeça em alguma árvore; já que ele sempre fazia isso quando magoava a esposa talvez servisse para algo. O problema é que não havia nenhuma árvore por ali e ela não queria se afastar de Eira, não com ela tão triste. Como se sentisse que precisava de ajuda, o pequeno embrulho, que estava no colo de Liam, se mexeu.

— O que é isso? — perguntou Eira secando as lágrimas do seu rosto.

— Isso? — ela apontou para o embrulho, que ainda se mexia — Bem, era seu presente.

Trilogia Guardiã - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora