Capítulo 5

339 154 300
                                    


Um pouco de felicidade surgiu no coração da pequena Eira, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Apesar de ficar furioso com ela, seu pai apenas a proibiu de sair de casa por alguns dias, algo que ela já estava acostumada a fazer, e disse-lhe que quando quisesse ir novamente para a floresta, deveria pedir permissão. Já Liam foi poupada de uma boa surra graças a mãe, mas Carrick a proibiu de sair, exceto para a arena de treinamento. Quando os castigos das duas foram finalmente suspensos pelo bom comportamento de ambas, elas tiveram permissão de se encontrarem quando não estavam cumprindo seus deveres, ou seja, Liam com seu treinamento e Eira com o aprendizado da tecelagem e fabricação de cerâmicas. Então elas faziam coisas que gostavam quando estavam juntas; Eira mostrava a sua amiga as tapeçarias que estava fazendo e as plantas que ajudava a cuidar, enquanto Liam ensinava sobre tudo que conhecia na floresta, como também, escondido das duas famílias, a manejar uma espada e a atirar com arco e flecha.

Os dias passaram e as estações mudaram, da primavera para o verão, depois chegou o outono e por fim o maravilhoso inverno trazendo consigo a neve que Eira tanto amava, e com esta, vinha a festa de comemoração pelo sétimo verão da pequena. Apesar de toda a neve que caia e se acumulava no chão, uma grande tenda fora armada e uma enorme fogueira acessa para aquecer todos que estariam ali presentes e as comidas foram preparadas para agradar, principalmente a Eira, que se sentia muito sozinha por não ter mais nenhum de seus irmãos perto de si. O mais estranho é que ela realmente estava sozinha, pois desde o momento que acordou ela pensou que passaria o dia todo com a Liam, mas já era noite, todos já se aproximavam do local do festival, mas ainda não havia visto sua amiga.

O forte estava cheio de amigos de aldeias e clãs vizinhos, pessoas vinham para o banquete para mostrar como estavam prosperando e, por isso, apresentavam alguns presentes para a filha de Devin. Com isso, tentavam causar inveja uns nos outros, pois mesmo com as alianças estabelecidas, ainda existia rivalidade entre as tribos, muitas vezes causadas por localização ou fertilidade das terras; ou pelo que conseguiam produzir, fossem lindas joias com ouro e pedras que retiravam da terra, cerâmicas de excelente qualidade, devido a argila boa que existiam em suas terras; ou ainda por algum método novo de tecelagem capaz de fazer tecidos mais finos e trabalhados. O problema é que essas coisas, para Eira, eram completamente sem valor, tanto os tecidos finamente trabalhados como joias magnificas.

Essa entrega de presentes estava sendo realizada antes do início da festa e estava sendo um verdadeiro suplício para a pequena, pois sua mãe, a cada abertura de baú, ficava maravilhada, mas para ela seria apenas mais um objeto a ficar guardado, pois não sentia nenhum interesse por eles. Mas como era ensinada desde cedo, sempre agradecia com um sorriso por mais que, de verdade, não gostasse do que estava na sua frente. Às vezes usaria uma daquelas joias ou um daqueles tecidos só para agradar à mãe, mas nesse dia, seriam como se ela estivesse carregando uma pedra nas costas.

Os únicos presentes que ela realmente gostou foram aqueles feitos com sentimentos, como o enfeite de cabelo que o ferreiro fizera, incrustado com pedrinhas coloridas em umas argolas de metal que ela estava usando preso por dentro de suas tranças e o do cuidador dos cavalos do pai lhe dera algo que parecia uma pessoa, uma mulher pequena, do tamanho do seu braço, o corpo feito de feno e um pedaço de tecido como se fosse um vestido; ela adorou, pois podia carregar para todos os lugares. Foram presentes feitos com carinho e, para ela, eram bem mais valiosos que aqueles colares e tecidos dados por aquelas pessoas que não conhecia.

Até seus pais mandaram trazer uma joia de um país distante e era tão grande que, seria melhor para ela, usar na cintura ao invés do pescoço. Ela sabia que eles fizeram isso para tentar alegrá-la, pois andava muito triste por seus irmãos estarem longe. Esse era para ser um dia feliz, mas estava sendo um dia triste, pois o que ela mais queria era rever seus irmãos de quem ela tanto sentia falta, principalmente de seus irmãos trigêmeos, Flynn, Aion e Jamie, que foram os últimos a irem treinar em outro clã, deixando-a sozinha. Ela não estaria se sentindo assim se sua amiga, ou melhor, sua irmã de consideração estivesse ali com ela, e não a tivesse abandonado...

Trilogia Guardiã - PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora