22. Não continue nesse caminho

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– Preciso te falar tantas coisas...– suspirei fundo, tomando coragem.

-x-

Eu o olhava, tentando caçar palavras na minha mente confusa. Começar pelo começo seria uma ótima ideia, o único problema é que eu não sabia onde era o começo.

– Eu me sinto meio perdido.– disse depois de um tempo.– Digo... eu tenho muita coisa pra te falar, mas não sei como começar, entende? É meio confuso...– suspirei mais uma vez.– Eu posso parecer meio bobo, porque você tá aí dormindo e eu tô praticamente falando sozinho. Mas...– dei uma pausa, o analisando.– Desculpa... Apenas, me desculpa.

Uma manada de lembranças vieram na minha cabeça e os últimos acontecimentos fizeram meu coração bater rápido.

– Tá, eu sei que um simples pedido de desculpas não vai apagar tudo o que eu fiz e tudo que eu escondi de vocês. Mas me sinto tão arrependido, porque eu quase perdi você! E caralho, pensar na possibilidade de você estar morto me mata por dentro.– passei ambas as mãos pelo rosto e puxei meu cabelo pra trás, tentando arruma-lo, já que o mesmo estava caído sobre meus olhos.– Eu fiquei muito feliz quando comecei a me aproximar de todos vocês, me sentia tão acolhido, pra ser sincero era a primeira vez que eu 'tava sentindo isso...

Ele se mexeu um pouco na cama, o que me assustou, mas ele continuava dormindo tranquilamente. Me levantei do banco e andei até perto da janela, olhando pro céu nublado.

– Eu precisava de dinheiro na época... Eles não queriam saber de contratar um garoto de 15 anos sem experiência em trabalho. Eu voltava para a minha antiga casa apenas pra dormir e disfarçar a fome, já que por algum motivo meus pais resolveram se mudar e deixar o filho pra trás...– simplesmente deixei com que as palavras saíssem e não me importava com isso.

– Até um dia me pareceu bem conveniente pegar alguns biscoitos do mercado e sair sem pagar. No dia seguinte foi a mesma coisa, e no outro e no outro... Quando me dei conta já estava roubando carteiras e bolsas de pessoas que parecia ter milhões em casa. Tentaram me roubar uma vez, acredita? – soltei um riso nasal lembrando da cena.– Eu bati tanto no cara, que por um momento pensei que ele estava morto. Eu peguei o celular e a carteira dele e consegui a senha pela digital dele. Os anos passaram e vi que seria uma boa me manter dessa forma. Eu também descobri coisas novas, como por exemplo ganhar dinheiro fazendo favores de ir atrás de alguém e ma-- cortei minha frase e balancei a cabeça de forma negativa.– Você sabe o que eu quero dizer.–suspirei.– Parando pra analisar melhor, eu sinto nojo da minha pessoa.

Um barulho foi ouvido no céu e logo começou a chover. Pessoas corriam pelas ruas na tentava de se esconderem. Bobos... A chuva é tão divertida.

– Percebi que minha vida virou de cabeça pra baixo quando pulei o muro daquela maldita escola.– olhei para o rapaz por cima dos meus ombros e revirei os olhos.– Se não fosse pela nossa situação, eu estaria te enchendo de soco agora mesmo, Ushijima.– voltei a olhar pra janela.– Que porra de ideia foi aquela?! – falei a última parte mais para mim do que pra ele.

– É um jeito fofo de dizer que se sente grato, Tendou? – me assustei com a voz do rapaz e o olhei pasmo.

Ele estava acordado?!?!

– V-Você... Você 'tava acordado?! – eu o questionei e ele assentiu de forma simples.– Mas que porra! Fez de propósito?! – ele assentiu de novo. Cretino.

– Você parece melhor.– ele disse depois de um tempo.

– Pelo o que eu sei, você é a maior preocupação agora...– ele deu de ombros e eu rivirei os olhos mais uma vez.– Você tem merda na cabeça?

Monster [Satori Tendou]Onde histórias criam vida. Descubra agora