Josh Beauchamp
Gosto do meu trabalho. De verdade. E acho que sou bom no que faço, porque estão até dizendo que vou ser promovido.
Mas hoje?
Não estou conseguindo me concentrar em merda nenhuma.
Só olho para o relógio. Como uma daquelas pessoas que odeiam o trabalho e ficam verificando as horas o tempo todo só pra se decepcionar ao descobrir que passaram apenas cinco minutos.
Só que a maioria dessas pessoas espera ansiosamente pelas cinco da tarde. O horário em que podem correr para o happy hour, a ioga, ou simplesmente ir para casa.
Esse horário não significa nada para mim. Quero que chegue logo as oito.
Quando vou poder ver Any Gabrielly pelada.
O pensamento me enche de pavor, ou no mínimo pânico. Ela é minha melhor amiga. Isso é... errado.
Mas, depois daquele beijo, tive certeza de que a única coisa errada foi não ter pensado nisso antes.
Sexo sem compromisso com a garota mais gostosa que conheço, de quem não vou querer me livrar logo depois?
É incrível.
Tento voltar minha atenção para o computador. Sou gerente de produto da equipe de e-commerce, um dos responsáveis pela seção masculina de golfe.
E adoro isso. É meio careta pirar tanto num emprego convencional, e jamais esperei que fosse acontecer comigo. Considerando que eu não sabia muita coisa sobre internet antes de vir para cá, muito menos sobre golfe, até que tudo rolou com bastante facilidade.
Meus dias são gastos pensando em melhorias para essa seção do site e preenchendo os documentos necessários para implementar algo, começar a fase de testes e tal.
Gerenciar o ciclo inteiro de determinado produto é bem gratificante, e não me arrependo de ter seguido meus instintos e desistido de cursar direito.
Apesar de meus pais terem ficado putos.
— Quer ir comer um burrito?
Noah Urrea está com as mãos apoiadas na divisória que separa nossos cubículos, apoiando o queixo na mão com cara de quem está morrendo de fome.
Olho para o relógio.
— São onze e sete. Acabei de tomar café da manhã.
— Fica muito cheio depois do meio-dia — ele diz.
Abro a boca para argumentar, mas desisto. Dou de ombros e desligo o computador. Por que não? Não estou conseguindo fazer nada direito mesmo. Não com o sexo garantido desta noite.
Noah tem razão sobre o Burrito King — sim, esse é o nome do lugar. Ficamos só dois minutos na fila, em vez dos vinte de sempre.
— Vamos comer ali — ele diz enquanto esperamos que nossa senha seja chamada.
— Ainda está evitando Shivani? — pergunto.
O grunhido dele me confirma isso.
Balanço negativamente a cabeça enquanto encho meu copo de coca.
— Eu avisei, cara. Você precisa parar de sair com garotas do trabalho.
— E onde mais vou conhecer mulheres? Nem todo mundo consegue entrar num bar e sair de lá com vinte números de telefone.
Ignoro o comentário. Ele continua.
— Bom, eu não teria esse problema se você me deixasse sair com Gabrie...
— Não — interrompo antes que ele termine a frase.
— Mas ela está solteira agora.
— Como é que você sabe?
— Encontrei com ela no Starbucks outro dia. Acho até que me deu mole.
— Acredita em mim: não deu, não.
Any considera Noah um idiota completo, e dá pra entender por quê. O cara é um dos meus melhores amigos do trabalho, mas tem a péssima mania de falar com as mulheres olhando para os peitos delas. Ele tem a manha de passar uma hora falando com uma mulher num bar e errar o nome dela depois de tudo isso. E ainda se pergunta por que não consegue o telefone de ninguém.
— Ei, por falar na Gabrielly... — Noah comenta.
Viro a cabeça na direção que ele indicou. Não é ela, mas Sabina.
Ela parece sentir nossos olhares. Seu rosto se acende.
— Ela é muito gostosa — Noah murmura enquanto caminhamos na direção daquela morena maravilhosa.
— Ei, comam comigo! — Sabina diz, apontando para as cadeiras vazias em sua mesa. — Não tomei café da manhã e estava morrendo de fome. Any achou cedo demais pra almoçar.
Ela fez o convite a nós dois, mas sem tirar os olhos de mim, e me dou conta de que é a primeira vez que nos falamos sem Any por perto.
Noah e eu nos sentamos, ele um pouco perto demais de Sabina, mas ela não parece se importar.
Dez minutos depois, já estou sentindo um clima esquisito no ar. Apesar das várias tentativas de Noah de falar com Sabina, ela sempre dá um jeito de direcionar a conversa para mim.
"Você estava nesse show, Josh?"
"Josh, isso não lembra aquele dia em que a gente..."
"Sei lá o que vou fazer no fim de semana. Você tem algum plano, Josh?"
Sabina sempre foi paqueradora. Eu achava que era uma coisa da personalidade.
Mas, agora que Any não está por perto para dar uns cortes, começo a me perguntar se não tem algo mais.
Termino meu burrito e me recosto na cadeira. Noah tagarela sobre seu tio, que vai conseguir ingressos para o Super Bowl.
Olho para Sabina — não posso evitar, com ela me encarando desse jeito —, que abre um sorriso tímido e discreto.
Retribuo por reflexo, mas uma coisa fica bem clara: Any não comentou com Sabina o que combinou comigo.
As duas são próximas. Apesar de não namorarmos, sem chance que Sabina ficaria dando em cima de mim se soubesse que eu veria sua amiga pelada em, hã, oito horas e dez minutos.
Não que eu esteja contando nem nada do tipo.
— Ei, Beauchamp. Está viajando?
Olho de novo para Noah, que me encara impaciente.
— Desculpa, o que foi?
— Eu estava dizendo que podemos ir os quatro naquele karaokê que meu primo falou, na sexta. Sabina está livre, e você consegue convencer a Any a ir. Que tal?
Ele me lança um olhar informando que está recorrendo ao código de ética da amizade masculina para me obrigar a dizer sim. Sou obrigado a morder a língua para não perguntar qual das duas garotas vai ser o alvo de seus esforços na sexta à noite.
Mesmo assim, preciso confessar que adoro karaokês, e ele tem razão: com certeza consigo convencer Any a ir, porque ela adora cantar. Depois de uma ou duas taças de champanhe, ninguém tira o microfone da mão dela.
— Claro, por que não? — respondo.
O sorrisinho de Sabina se escancara, e tenho a primeira impressão de que meu acordo com Any tem potencial para ser um pouquinho mais complicado do que imaginava.
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Mais Que Amigos (Adaptação Beauany)
FanfictionSerá que vale a pena arriscar uma grande amizade em troca de um amor inesquecível? Aos vinte e dois anos, a jovem Any Gabrielly leva a vida que sempre sonhou. Tem um namorado inteligente e responsável, um emprego promissor e a companhia de seu melho...