Isa

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       Estou novamente naquela grande república onde aconteceu o aniversário de Tom. Tirando que agora há muito menos pessoas, e que a bagunça geral é causada por apenas seis meninos e não por centenas de estudantes bêbados. O local não mudou nada. Ando pelos corredores tentando evitar os caras sem camisa que estão salpicados aqui e ali e eles parecem felizes em me evitar também, sempre que me veem se cobrem e mudam de caminho. Acho que meninas causam um efeito estranho em uma república de rapazes. 

      Yun está na ultima porta do corredor com Marcos. Ele disse que vai dar um jeito nele antes de me levar para casa.  Ando até um local familiar, uma porta imponente com uma tapeçaria chinesa mostrando um lindo dragão dourado.  Tenho o impulso de tocá-lo, mas paro quando vejo Yun caminhando em minha direção com uma toalhinha branca manchada de sangue.

    - Ele está bem? - Pergunto apontando para o sangue. Dou uma olhada na tapeçaria e depois nos olhos negros de Yun que não param de me observar. - Eu não toquei. - Acrescento. 

     Ele parece envergonhado e instantaneamente noto que se lembrou do que aconteceu ali da ultima vez. Reprimo a lembrança porque aquele não  é o Yun que conheço agora. 

     - Não... não tem problema. E ele está bem. - Sorri. - É brigão e já está acostumado com isso. - Balança a toalha manchada. - Vem, entra. - Yun abre a porta revelando um quarto incrivelmente arrumado. 

- Não devíamos leva-lo ao hospital. Ou coisa parecida? 

Ele balança a cabeça. - Acho que ele não ia gostar de mais gente sabendo que ele levou a maior surra. 

    Finjo que concordo e entro no quarto. Tinha uma parede de tijolos onde uma estante negra cheia de livros estava perfeitamente organizada. Um sofá de couro marrom em um canto, um guarda roupas simples, um frigobar ao lado da cama e uma mesinha baixa com alguns papéis e livros amontoados. As outras paredes eram marrons e a cama... era enorme e estava coberta com uma cocha vermelha onde escritos chineses estavam estampados por toda parte. Eu não fazia ideia do que significavam.  Ando até a estante e dou uma olhadela nos livros que estão ali. A maioria são de Economia. 

      - Pode se sentar. - Yun diz apontado a cama. 

       Olho apreensiva para o móvel alto, mas caminho até lá e me sento com dificuldade. Minhas pernas ficam balançando para cá e para lá.  

     Yun que até agora estava me observando ri de uma forma tímida quando me ve naquela situação. Então ele atira a toalha em um balde preto ao lado da estante e pega outra no armário. 

    - Quer beber algo? água? chá? Vodca? - Da forma brincalhona que ele diz a ultima parte eu presumo que ele não tenha vodca ali no quarto, mas não coloco minha mão no fogo também. 

     - Água. - Respondo. 

     Yun caminha até o frigobar e retira de lá uma garrafinha com água e uma bandeja com gelo. Ele coloca dois gelos em meu copo com água e o envolve o restante com a toalha. 

      - Aqui. - Pego o copo de sua mão. Assim que bebo sinto gosto de canela. Talvez seja só a minha imaginação. 

      Yun senta ao meu lado muito próximo. O cheiro de canela agora me invade por completo. Ele é muito mais alto que eu de forma que meus olhos ficam na altura de sua mandíbula. A pele de seu pescoço é muito branca e posso ver as veias fazendo caminhos azuis tortuosos naquela pele de mármore. Ele faz com que  eu entregue o copo e toma um gole antes de coloca-lo sobre o frigobar. Ele havia retirado o casaco e agora eu podia ver seus braços finos e analisar com Yun era magro. Antes que dissesse ou fizesse qualquer coisa ele pega minha mão direita e a segura de forma firme fazendo com que eu solte uma careta de dor. 

Azul é Verde e VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora