Azul é Verde e Vermelho

Hanna

Minha vingança custou mais esforço do que eu esperava, tinha apenas a intenção de jogar uma bola de basquete na cara de Marcos, mas após uma tentativa fracassada de arremessar uma de vôlei na quadra com os meninos do time de basquete percebi que não tinha forças o suficiente para causar o impacto que eu desejava. Tive de treinar muito com os rapazes e fazer bastante exercício o tempo todo. Mudei até mesmo minha alimentação durante quase um mês e meio. Comi muitas proteínas e frutas, além de beber quase o triplo de água. Meus treinos na academia foram muito produtivos, e além de agora eu ser forte o suficiente para quase quebrar o pescoço de alguém ao lhe arremessar uma bola na cara. Também fiquei com o corpo muito mais bonito. Estou quase tão magrela quanto a Mine, não tenho praticamente nenhuma gordurinha indesejada em lugar nenhum. Isso meio que compensou o fato de minha vingancinha ter dado muito mais impacto negativo na vida das garotas do que imaginei. No final deu tudo certo, mas como eu ia adivinhar que o Marcos ia desmaiar? Na verdade fiquei meio mal quando vi que ele precisou de pontos na testa, mas não o suficiente para me arrepender. ELE MERECEU. Na verdade quem merecia era o Yun já que foi ele quem jogou a bola, mas Yun não me irritava tanto quanto o Marcos então eu acho que fiz tudo certo.

Já que as meninas narraram a maior parte do que aconteceu depois que eu quase matei o gótico esquentadinho vou dizer apenas um resuminho de como foi minha semana subsequente. Marcos já estava na escola segunda feira com a testa costurada. Tivemos que ir falar com o reitor, pai do Yun, que é um cara muito chato como o filho, porém que graças ao Senhor resolveu não nos expulsar. Mas acho que foi só porque o Yun gritou para todo mundo ouvir que atirou uma bola no rosto de Isa. Mine ficou estressada a semana toda e quando fica estressada ela se mata de estudar, ou seja, MIne leu muitos livros e escreveu muitos roteiros nesse meio tempo. Isa aparentava estar muito Zen, desenhava todo dia na estufa com o Tom e estudava com Mine na cafeteria. Parece que no começo da faculdade de artes plásticas você tem que estudar muita filosofia e história, nada contra, mas ainda bem que eu não sei desenhar. Passei a semana toda tendo aulas teóricas de Ballet, o que era meio chato, uma vez que estudei ballet a vida inteira. Mas havia gente na sala que por incrível que pareça não tinha ballet como base curricular. Tirei notas muito altas nas avaliações dessa semana, talvez eu roube a colocação de Mine esse mês no ranking. Minha semana teria sido uma maravilha se não fosse por...

***

- MARCOOOOOOS. - Grito assim que abro a minha bolsa com as roupas extras que havia deixado no armário durante o treino. - EU VOU TE MATAR...

Agora eu estava presa ali usando um macacão de dança e minhas roupas estavam cobertas por uma gosma amarela que tinha cheiro de... que isso? Tem cheiro de carro... Como algo pode ter cheiro de carro? Pego a bolsa e fecho o zíper amenizando aquele cheiro de... SÓ CONSIGO PENSAR EM CARRO, às vezes eu gostaria de ter um cérebro plenamente funcional. Pego meus sapatos no armário e vejo que também estão cobertos por aquela meleca. Mas por dentro estão limpos, coloco meus tênis que antes eram brancos e agora são amarelos e saio pelo corredor a fora usando meu macacão de dança que é muito mais apertado e que mostra muito mais do meu corpo do que eu gostaria. Convenientemente Marcos está parado próximo dali. Assim que o vejo um ódio inexplicável toma conta de mim. Sinceramente é muito difícil eu sentir raiva de alguém, contudo esse menino me tira do sério.

- Marcos me explica isso aqui. - Levantei a bolsa bem a vista dele e todas as minhas suspeitas foram confirmadas quando vi um sorriso de canto brotar em seu rosto.

Começo a correr em sua direção, quero acertar essa bolsa na cara dele e fazer com que fique coberto da mesma meleca que minhas roupas estão encharcadas. Mas assim que dou cinco passos deslizo para frente descontroladamente e caio de bunda no chão. Sinto uma dor que é indescritível, como se toda a carne que havia ali tivesse ido para os lados e meus ossos tivessem encontrado o piso duro da UC. Marcos não consegue parar de rir. Antes que eu tivesse tempo de me levantar ele já está parado ao meu lado agachado de forma que seu rosto fique bem próximo do meu. Ele tem cheiro da coisa amarela... cheiro de carro. Seus olhos não são tão verdes assim, estão mais para um castanho cor de bo***. Faço cara feia.