02

35 8 4
                                    

DOMINIC


Consigo sentir mãozinhas minúsculas ao redor do meu pescoço, enquanto olho para os caixões à minha frente. A hora de dizer adeus é tão difícil. Meus olhos estão inchados de tanto chorar, mas estão ocultos pelos óculos escuros, vetando ainda mais pena nas pessoas presentes.

Alguns parentes e amigos estavam presentes e eu senti o quanto Rachel e Nathan eram amados. Passo meus olhos pelo rosto de cada pessoa e paro em um específico, seus olhos e narizes vermelhos me mostrava o quanto chorou, e está sem acreditar. Foi ela que recebeu a notícia primeiro, imagino que não foi fácil. Já considerava a Rachel como amiga, pelos meses que se passaram.

Ela levanta o rosto e me olha. Com os óculos escuros ela não consegue saber se a estou encarando. Mas consigo ver que a dor no seu rosto é por causa do meu sobrinho, que neste momento está no meu colo, com a cabeça deitada no meu pescoço. Emma. Esse é o nome da babá do Nick.

Nicholas tentava entender o que estava acontecendo, expliquei que os seus pais não poderiam mais estar presente na vida dele, expliquei o lugar que eles estariam morando e vi a tristeza e as perguntas que me rondam. Ele é um garotinho esperto, mas ele ainda não sabia a proporção que a perda dos pais o faria sentir, ele ainda não entendia completamente as coisas.

Os caixões começaram a descer e mais uma vez prometi que seria a pessoa que Nicholas precisaria. Lágrimas desceram silenciosas pelo meu rosto, não as sequei, esse gesto chamaria ainda mais atenção para mim e não queria isso.

Aos poucos as pessoas foram indo embora, passando por mim para mais uma vez mostrar suas lamentações. Não conseguia falar, gestos de cabeça era o mais comum, não media esforços.

Ryan que ficou o tempo todo ao meu lado, em silêncio, mostrava o quando estava amargurado com tudo, Rachel era sua melhor amiga. Olho para ele e vejo que sua atenção está numa figura distante, observando tudo. Prendo meu maxilar, meus dentes rangendo quando reconheço a pessoa.

— Vou me livrar dele. — Ryan fala, mas nego com a cabeça.

— Não, eu vou. Leve Emma e Nick para a casa da Rachel, por favor.

Assente.

— Vai ficar bem?

Não preciso responder, ele sabia que não.

Emma se aproximou para pegar o Nicholas do meu colo. Logo seu perfume floral e delicado foi sentido por mim. Ela pede permissão para pegá-lo do meu colo e assinto. Sua forma carinhosa de passar os braços por ele, o aninhando delicadamente em seu corpo, me mostrou o quanto é apegada a ele.

Saio de perto dos três sem dizer nada, para me aproximar do homem que mais odeio no mundo.

Assim que vou me aproximando, ele tem a audácia de me dirigir aquele sorriso sarcástico, isso faz meu sangue esquentar ainda mais.

— O que está fazendo aqui? — meu tom de voz rude não faz efeito nenhum com ele.

— Vim me despedir da minha filha.

Automaticamente dou gargalhada. O som aumenta quando continuo olhando para ele, desacreditado.

— Você é engraçado. — Volto a ficar sério. — Você nem se importa. É uma pena não poder te proibir disso também, não vai fazer diferença.

Me viro, o deixando parado no mesmo lugar. Antes de ir em direção ao meu carro, paro agora onde está localizado o túmulo da minha irmã e me despeço.

Agora tudo será diferente sem ela.

***

Sinto o toque no meu ombro e me viro para encontrar meu amigo me encarando, e percebo que passei horas sentado no banco do Central Park perdido nos meus pensamentos. Já se encontra escuro, olho para o meu relógio para vê-lo marcar onze horas da noite.

DominicOnde histórias criam vida. Descubra agora