Capítulo 5

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— Como está Ziya? — Seher perguntou quando Yaman retornou do quarto, onde havia colocado Yusuf para dormir.

— Bem, na medida do possível — ele falou enquanto a ajudava a tirar a mesa do jantar — a ausência de Ikbal o está fazendo bem, mas ele ainda está lidando com alguns terrores noturnos.

Ambos ficaram lado a lado em frente a pequena pia da cozinha. Pareceu algo automático eles começarem a trabalhar na louça suja enquanto conversavam. Já haviam feito isso algumas vezes, há muito tempo, quando ainda estavam naquela casa alugada com medo do serviço social levar Yusuf.

— Como ele lidou com a nossa partida? — ela começou a lavar os copos, enquanto ele enxugava os talheres.

— Ele acha que vocês estão visitando a sua mãe em Antep.

Ouve um silêncio entre eles, onde tudo o que se ouvia era o barulho da água da torneira. Seher podia sentir que Yaman queria falar algo, mas parecia hesitar. Por fim, ele falou.

— Como vai ser daqui para frente? — ele não precisou explicar para Seher entender.

Deus sabia o quanto ela queria dizer que ia ficar tudo bem, mas só estaria enganando a si mesma.

— Não podemos voltar para onde paramos — Ela engoliu em seco. Não gostava de falar sobre isso, ou sequer pensar. Já podia sentir os olhos ardendo novamente, ameaçando derramar mais lágrimas.

— Talvez, se tentarmos...

— Yaman — ela o olhou. Seu nome ainda soava estranho em seus lábios, como se fosse a primeira vez que o falasse. — Nós nos machucamos muito. Não podemos simplesmente passar por cima de tudo que aconteceu e fingir que está tudo bem.

Ela se afastou. Não queria que ele visse seu estado ao falar aquilo.

— Já passamos por tantas coisas, por que não conseguiríamos passar por isso também? — ele a seguiu.

— Você não entende? Se formos voltar com esse casamento, precisamos primeiro amadurecer como um casal. — Ela fez uma pausa para tentar manter o tom de voz baixo, afinal, Yusuf dormia no cômodo ao lado — nós dois cometemos erros em não nos priorizar naquele momento de crise. Não estou o culpando por proteger o seu irmão, eu também fiz isso pela minha irmã, mas precisamos aprender a proteger o nosso casamento.

Ela respirou fundo para não derramar nenhuma lágrima. Prometeu a si mesma que não o faria.

— Você está certa — ele tinha um semblante cansado, quase derrotado. Não queria continuar a discussão — daremos tempo ao tempo, mas por favor... — ele a olhou — não vamos fechar esse assunto. Vamos aprender com nossos erros e tentar novamente em algum momento. Eu quero que você saiba que eu não disse aquilo naquele dia apenas para fazê-la ficar. Eu realmente te amo.

Antes que pudesse se policiar, ela deu um leve sorriso triste. Aquelas três palavras habitavam em seus sonhos mais bonitos.

— Eu sei.

xxx

A viagem de volta a Istambul demorou cerca de 6 horas. Não foram trocadas muitas palavras durante o percurso, apenas o essencial. Yusuf passou a maior parte do tempo assistindo desenhos no celular de Seher, que normalmente não o permitia passar tanto tempo assim, mas como ela precisava colocar a própria cabeça no lugar, preferiu entreter a criança.

Yaman também preferiu se perder nos próprios pensamentos enquanto dirigia. Ele estava feliz com a volta de sua família, mas precisava arrumar um jeito de reconstruir seu casamento. Talvez a mudança de casa ajude nisso, no fim das contas.

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