Capítulo 12

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Ao ver Zuhal, Yaman instantaneamente apertou os punhos. A última vez que viu aquela mulher foi há alguns meses, quando Ikbal morreu e suas coisas foram entregues a ela. Naquele mesmo dia Yaman havia deixado claro que não queria vê-la nunca mais.

Ao perceber a raiva de seu marido, Seher alcançou a mão dele e o fez abri-la. Apesar de não se sentir confortável com a presença de Zuhal ali, ela não queria que Yaman fizesse uma cena e ficasse zangado. Ela prezava pela paz naquela casa e não podia arriscar uma outra crise envolvendo Ziya, que devia estar em algum lugar da casa.

— O que você está fazendo aqui? — Yaman perguntou assim que se aproximou. Ele ignorou completamente a mão estendida do advogado, que se apresentava, e focou seu olhar em Zuhal.

— Yaman, querido. Não há motivos para tensão, só vim aqui porque preciso de sua assinatura nesse documento. — Ela pegou a pasta azul que estava na mão do advogado e entregou a ele. — Agora que estou livre, pretendo continuar meu trabalho na empresa.

Sem dar importância, ele amassou o papel em sua mão.

— Como você ousa vir em minha casa falar um absurdo desses? Você nunca vai voltar a pisar os pés na minha empresa. Agora saiam os dois daqui antes que eu chame o segurança.

A explosão dele pareceu assustá-la por um momento, mas logo ela se recompôs e respondeu.

— Se você prestar atenção no documento, verá que tenho tanto direito de pisar na empresa quanto você. Não sei se você lembra, mas quando estava viva, minha irmã passou as ações dela para o meu nome.

Yaman desamassou o papel e deu uma rápida lida no documento absurdo.

— Enfim. Você pode ficar com isso hoje. Amanhã meu advogado vem buscar o documento assinado. — Ela deu um sorriso e voltou seu olhar para Seher, que permanecia ao lado de Yaman. — Seher, muito bom vê-la novamente.

Nenhum dos dois falaram nada enquanto ela e o advogado iam embora. Seher ainda estava digerindo o que havia acontecido e Yaman já estava andando rumo ao escritório com o celular na mão.

Ela decidiu respeitar o momento dele de raiva e não o seguiu. Em vez disso, ela foi em direção ao quarto de Yusuf. Devido ao dia agitado, ela só havia falado com ele na parte da manhã, antes de levá-lo até a escola.

Naquela noite ela não viu mais Yaman. Ele havia se trancado no escritório e de vez em quando era possível ouvir seus gritos no telefone. A invasão de Zuhal na empresa o tirou do sério.

Na manhã seguinte, quando já estava pronta para sair do quarto e ir ajudar Ella com os preparativos do casamento, seu marido entrou. Ele parecia totalmente esgotado.

— Bom dia, você está bem? — ela perguntou.

Haviam olheiras em volta de seus olhos. Ela pôde perceber que ele quase respondeu automaticamente que estava bem, mas viu que a verdade era bem óbvia.

— Um banho vai ajudar. Preciso estar na empresa em 1 hora.

Ele se dirigiu até o closet que dividiam e tirou uma roupa limpa. Cenger havia se encarregado de mudar as coisas que estavam no anexo para o quarto deles na propriedade principal.

— Você não dormiu a noite inteira, precisa descansar! — ela o seguiu.

— Vou ter tempo para descansar quando resolver esse problema com Zuhal. Até lá, não vou dormir até ter certeza de que ela não pisará em minha empresa.

Ele já estava quase chegando ao banheiro quando ela puxou seu braço.

— Ao menos coma alguma coisa antes de sair, por favor. — Ela o conhecia o suficiente para saber que todo aquele estresse o faria esquecer de suas necessidades básicas. A última coisa que eles precisavam naquele momento era dele doente.

— Tudo bem. — Ele suspirou. — Desço para tomar o café da manhã com vocês.

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Mesmo exausto, Yaman insistiu em voltar para a empresa naquela manhã. Seher ainda tentou persuadi-lo a ficar e descansar, mas ele se recusou e foi trabalhar. Essa situação com Zuhal o estava atordoando muito. Ela sabia que ele odiava tudo o que fugia de seu controle.

Não podendo fazer nada para ajudar seu marido, Seher decidiu então ajudar Ella com os preparativos do casamento. Burak chegaria naquela noite e se juntaria a elas nos preparativos. O casamento iria acontecer no sábado daquela semana, então a casa ficaria bastante agitada com as empresas de organização montando os ambientes externos.

Com a ajuda extra de Burak, Seher iria poder dar atenção ao seu restaurante e não deixar Ella sobrecarregada com tudo sozinha.

Ainda naquela semana uma empresa iria iniciar a reforma do espaço. Apesar de manter o conceito geral, algumas alterações seriam necessárias, então Seher teria que ir todos os dias para ver a que passo a reforma estaria.

Ella e Seher passaram o dia escolhendo os detalhes da decoração das mesas do evento. No dia seguinte seria a degustação do bolo, então Ella e seu noivo iriam resolver isso juntos.

Quando estava próximo da hora do jantar, Yaman voltou da empresa. Seher estava ajudando Yusuf com sua tarefa de casa quando Cenger foi avisá-la da chegada do marido.

Ele estava lavando o rosto no banheiro quando ela entrou no quarto.

— Precisamos conversar. — Ele falou, assim que notou sua presença no quarto.

Ele saiu do banheiro enquanto enxugava o rosto com a toalha. Sua aparência indicava que ele parecia tão exausto quanto naquela manhã.

— Você não descansou nada, não é? — ela o olhou.

— Descansarei essa noite. Infelizmente não há mais nada que eu possa fazer a respeito de Zuhal. Está nas mãos dos advogados agora.

— Você acha que há alguma chance de recuperar as ações? — ela perguntou enquanto sentava ao lado dele na cama.

— Ikbal tinha as ações em seu nome por causa de seu casamento com meu irmão. Mesmo que ela tenha passado as ações para o nome de Zuhal, elas ainda estão vinculadas a Ziya. Os advogados vão se basear nisso para o processo, mas isso pode demorar um pouco.

— Espero que ocorra tudo bem. — Ela o olhou por um momento. — O que você queria falar comigo?

Ele deu um suspiro e olhou para ela.

— Não sei até que ponto você está interessada nisso, — ele começou — mas acho que tem o direito de saber. Quando Selim foi preso, deixei algumas pessoas de olho nele. Sempre faço isso quando meus inimigos são presos, para ter um maior controle da situação. Hoje um desses meus contatos me avisou que os homens de Camgoz tentaram assassiná-lo lá dentro.

Seher ficou em silêncio por alguns segundos, digerindo a notícia. Ela não sentia mais nenhum tipo de empatia por Selim, mas não pôde evitar o choque de saber aquilo. Não por ele, mas pelo garotinho que era seu melhor amigo na infância.

— Não sei sobre o estado de saúde dele, mas parece que passou por uma cirurgia e vai precisar de outras.

— Quando isso aconteceu? — ela perguntou.

— Semana passada. — Ele a observou por alguns segundos. Não conseguia decifrar o que ela sentia naquele momento.

— Cada um colhe os frutos que plantou, afinal. — Ela falou finalmente, enquanto olhava para um ponto fixo na parede. Seu olhar parecia perdido — a justiça divina não falha.

— Como você se sente em relação a isso? — ele perguntou. Sabia que sua esposa podia ser bastante misericordiosa, mas não sabia até que ponto.

— Eu não sei. — Ela deu de ombros e o olhou. — Sinto tristeza pelo meu amigo de infância, mas não sei o que sentir pelo Selim crescido que fez todas aquelas atrocidades. Suponho que ninguém merece ter sua vida ameaçada, mas quem sou eu para falar uma coisa dessas? — ela olhou brevemente para um ponto no lado direito do corpo dele, onde ela havia atirado.

Ele ficou em silêncio por um momento e então a puxou pela mão, para que ela pudesse deitar a cabeça em seu ombro.

— Não pense nessas coisas. — Ele tirou uma mecha de cabelo que caia sobre o rosto dela. — Pelo menos agora sabemos que ele não pode mais nos importunar.

Ele não poderia estar mais enganado.


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