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Sábado 10:46

BEATRIZ 🍄

Eu pretendia tirar o dia para ficar atoa, mas achei melhor ocupar a mente limpando a casa. Meu pai passou a noite de ontem bebendo e eu não suportava o cheiro de álcool que se espalhava por cada cômodo. Tivemos uma briga feia enquanto ele se entupia de bebidas, no meio de toda a gritaria ele tentou vir para cima de mim mas eu consegui correr para a rua. Foi horrível, fiquei lá fora até três horas da manhã e só entrei quando tive a certeza de que ele havia dormido.

Ele saiu de casa cedo e não é nenhuma surpresa para mim o que vai acontecer. Ele vai gastar todo o dinheiro que ganhou na semana com bebida e mulheres, e vai chegar completamente bêbado louco para descontar todas as suas frustrações em alguém. E eu vou estar aqui.

Não sou nenhuma menininha indefesa para aceitar que meu pai bata em mim, eu só apanhei outro dia porque não tive tempo de correr ou trancar a porta do meu quarto, na maioria das vezes eu me defendo, não revido, mas empurro ele e faço o que posso, só que as vezes eu não consigo nem mesmo me proteger.

Eu evito ele o máximo que consigo, tento ignorar a sua existência, quando ele me pede alguma coisa eu faço, mas só para evitar discussões e poupar um pouco a minha saúde mental.

Vou procurar emprego e sou vou sossegar quando encontrar. Meus planos é juntar o máximo de dinheiro que eu conseguir para sair dessa casa assim que eu completar a maioridade.

Sei que vai ser difícil, mas só de me ver longe do armando, poder viver sem medo e livre...isso é meu maior sonho.

Eu já tentei viver em paz com ele, já me culpei por todo que ele fazia comigo, tentei dar amor para ele enquanto ele acabava comigo cada vez mais. Demorei muito para entender que a culpa não é minha e desde então parei de tentar concertar algo que não fui em quem causei.

-Oi - olhei para o lado e vi Davi me olhando, sorrindo com uma vasilha nas mãos - a minha avó viu quando sei pai saiu e me mandou te trazer esse bolo de chocolate que ela fez ontem.

Me levantei no mesmo instante sentindo uma felicidade imensa invadir todo o meu ser. É tão bom ter alguém que realmente goste de mim, as vezes me sinto uma criança sedenta por carinho.

Puxei Davi pelo braço e o abracei com força, senti seu pegueno braço me envolver em um abraço aconchegante. O choro estava entalado na minha garganta, eu sentia a dor agonizante no meu peito e a única coisa que eu queria era colocar para fora tudo o que estou sentindo, mas eu não queria que essa criança que eu amo tanto presenciasse uma cena como essa.

-Obrigada Davi - sorri para ele, pegando a vasilha de suas mãos e tentando forçar uma felicidade inexistente - Eu amo bolo de chocolate e o da sua avó é perfeito.

Coloquei a vasilha na mesa, tinha muito bolo e eu pretendia comer tudo com o Davi antes que armando chegasse. Eu jamais deixaria um pedaço sequer sobrar para que ele comesse.

-Esta tudo bem Beatriz?

-Claro pequeno, por que não estaria?

-Seus olhos, eles estão tão tristes.

Abaixei a cabeça, respirei fundo me segurando para sustentar o personagem até que ele fosse embora. A cada momento minha mente ia para a noite anterior e o medo me invadia por saber que hoje seria a mesma coisa.

-Eu só estou um pouco preucupada com a escola. Você ainda vai passar por isso, é uma dor de cabeça sem fim.

-Eu vou ser piloto de corrida, não preciso estudar.

Só por uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora