11. Hamjisan

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Escrito por: dntfarway 

Notas Iniciais: a primeira parte do capítulo é sinceramente uma das cenas mais melancólicas que já escrevi, só queria avisar mesmo... boa sorte vocês vão precisar


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Dois meses atrás

O sorriso de Yoongi o encarava, exposto naquele salão cinzento que entrava em grande contraste com a expressão gentil e congelada para sempre no tempo do músico, e todos os seus arredores eram tão vazios e escuros quanto um buraco negro.

Não fazia sentido. Para Jimin, nada naquele cenário tinha um significado; a figura encolhida atrás dos próprios joelhos de Jeongguk, próximo ao altar, os pais de Yoongi em pé, um ao lado do outro, recebendo as condolências de uma pessoa que o detetive nunca tinha visto na vida, Seokjin de cabeça baixa em uma das mesas do refeitório com Namjoon ao seu lado, o qual tinha um braço sobre os ombros do irmão mais velho e conversava baixinho com Taehyung e Juhyun.

Nem mesmo Jooyoung segurando sua mão, perguntando-lhe se queria comer alguma coisa, tinha um propósito.

Era como se o mundo inteiro estivesse entrado em uma programação diferente, mais avançada, e alguém houvesse esquecido de atualizar o personagem de Jimin. Agora, estava fora de sintonia com o restante da realidade, era um erro no código, um vírus que passou despercebido.

Precisava enviar comandos básicos para o cérebro constantemente e lembrar a si mesmo a razão para esses serem necessários para que conseguisse fingir que estava funcionando como os demais. Preciso inspirar e expirar porque meu corpo necessita de oxigênio; preciso piscar para não ressecar as córneas dos meus olhos; preciso assentir para demonstrar que estou ouvindo, mesmo que não esteja; preciso me mover para que o sangue corra normalmente pelo meu sistema. Estou nesse velório porque meu namorado morreu. Aquela pessoa sorrindo na foto era ele. O nome dele era Yoongi, nós íamos morar juntos, eu o amava com toda a minha vida.

Na maioria das vezes, Jimin ficava tão compenetrado naquele ciclo vicioso de lembretes que alguém tentava trazê-lo de volta para a realidade que não lhe pertencia, perguntando-lhe como estavam as coisas, prestando condolências, tentando animá-lo com alguma frase de conforto genérica. Por conta disso, precisava refazer todo o processo novamente, desde o começo — inspirar e expirar, piscar, assentir, se mover, amar. Não importava quantas vezes o repetisse, ainda não fazia sentido.

Talvez, se o detetive tivesse uma explicação, se ele tivesse as respostas para o que tinha acontecido, para o porquê de ter acontecido, seria mais fácil voltar a coexistir com o restante do mundo. O problema era que o Park não tinha nada. Tudo o que possuía era uma memória inacabada, uma presença que, repentinamente, sumiu sem deixar rastros. Era até como se Yoongi nunca tivesse existido de verdade. Jimin também precisava se lembrar que ele existia, tinha sido real.

— Filho, vou buscar um pouco de sopa — anunciou Jooyoung e acariciou seu braço para chamar-lhe a atenção, interrompendo o ciclo de lembretes mais uma vez. — Você quer alguma coisa para beber?

Assentir para demonstrar que estava ouvindo. O Park acenou positivamente com a cabeça.

— Tudo bem. Já volto.

Jimin observou sua mãe se afastar, caminhando entre as mesas pouco ocupadas do salão hospitalar, e desviou o olhar mais uma vez para o altar, onde, agora, Myungjun, o pai mais velho de Yoongi, estava sentado ao lado do caçula da família, abraçando-o pelos ombros caídos, e Jaehyun, o pai mais novo, continuava em pé, conversando com Yoon Hyunsu. O Park não sabia quando o homem mais velho tinha chegado. Observou-o por minutos, até o Yoon sentir os olhos encarando-o e desviar sua atenção para o detetive. Quando seus olhares cruzaram, Jimin sentiu sua garganta queimar e o corpo inteiro tensionar como uma rocha antiga. Sentiu-se repelido pela angústia brilhando nas írises de Hyunsu, como se esse conseguisse enxergar o erro que o mais novo era naquele momento.

Wanted | YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora