18 spin-off
Mick e Celeste nunca tiveram muito interesse em se conhecer.
Ambos viam de famílias inseridas no meio do automobilismo, tinham amigos em comum, eventos em comum, e mesmo assim estavam confortáveis ignorando a existência um do outro.
M...
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Celeste lembrava exatamente do dia em que percebeu que era uma foragida na própria vida.
Estava acostumada com sua rotina agitada, seu pai não ficava tanto em casa e sua mãe se esforçava o máximo mas também não era tão presente, eles eram como uma máquina em funcionamento perfeito. Enquanto sua mãe vestia o pequeno corpinho magricela da garota, dando beliscadinhas em suas coxas e beijando o topo de sua cabeça, seu pai cozinhava o café da manhã mais rápido de todos, enchia um pote de cereais e um copo com bico de suco de laranja, Celeste os consumia no carro, a mãe sempre tinha as chaves e seu pai sempre dirigia com um sorriso. Depois, até atingir idade o suficiente para ir a escola, ela era deixada na casa dos avós, sua nona era uma mulher incrível e doce, e ela amava percorrer os dedos nos vincos de seu rosto que ainda assim era bem preservado, mas amava ainda mais seu avô, ele quem lhe levava doces e brinquedos escondido e colocava a pequena de cabelos escuros e olhos verdes curiosos nos ombros e jurava para ela que estavam voando juntos.
"Comigo, você vai voar até onde quiser, Celeste" ele cantarolava enquanto a francesa pequenina gargalhava.
A vida de Celeste era feliz com essa rotina, e na sua inocência juvenil achou que a teria para sempre. Mas os prazeres da infância não duram para sempre, e para ela acabaram cedo demais. Nicolas não era amoroso, nunca fora, mas era um bom pai, e acima de tudo era um exemplo, fazia os olhos da garota brilharem. Ela sempre fora travessa, mas ao lado dele sempre sentiu que teria que ser responsável, ela queria mais que o amor dele, ansiava pelo dia que ele a respeitaria e talvez, quem sabe, a admiraria também. Contudo, ela percebia cada vez mais o clima estranho que se formava em sua casa, seus pais já não conversavam, funcionavam como máquinas e passaram a agir exatamente como uma, os almoços eram silenciosos, as festas em família também, desde que não tivessem público não se falavam mais do que o necessário. Nicolas não era amoroso com a filha mas sempre idolatrou Serena, sua esposa, ou idolatrava, agora mal se olhavam.
Em uma das festas de família Celeste tinha um laço no do topo dos cabelos negros, sua mãe quem o colocara, era azul bebê, assim como seu vestido, e ela amava laços e vestidos. Era natal, e a família Todt não poupava esforços para comemorar nenhuma data, aquele ano em específico seu avô concorria ao cargo de presidência da FIA, era a festa mais extravagante que já tiveram, por onde se olhava poderia flagrar figuras importantes. Mas para ela, com apenas seis anos, ninguém era mais importante que sua família, o resto se resumia a amigos do vovô ou do papai, e suas esposas, que por consequência acabavam por ser as amigas de vovó e mamãe, ou deveriam ser.
Celeste brincou por horas aquela noite, muitas das famílias tinham crianças e ela sabia todos os esconderijos da casa, então sempre escolhia sua brincadeira favorita, pique esconde. Enquanto jogavam, a garota se escondeu no local errado, na hora errada, dando risadas inocente e animadas, sentindo o coração bombear entre suas minúsculas costelas ela se espreitou para dentro de um dos armários da adega da família, ninguém a encontraria ali.