Estão tremendamente enganados aqueles que acham que Fórmula Um é apenas sobre os vinte carros competindo mundo afora por diversos finais de semana do ano. O esporte é tão político quanto esportivo, é um show, é luxuoso e cheio de tradições e eventos; a imagem das equipes é quase tão preciosa quanto seus resultados em pista. Todos na comemoração de aniversário da escuderia de Maranello estavam cientes disso, mas alguns sentiam tudo de forma mais intensa, já tinham marcas deixadas por toda a pressão intensa do mundo espetacular do esporte.
Celeste estava infeliz aquela noite, não poderia se importar menos com quantos anos a escuderia italiana estava completando ou quão prestigioso isso fosse, mas não é como se tivesse muito controle de sua própria rotina desde que se mudou de volta para Mônaco, onde o empresário tinha os olhos azuis fincados na garota o tempo inteiro. A francesa bufou depois de posar para mais uma foto com homens engravatados que ela não fazia a mínima ideia de quem eram, mas que pareciam muito interessados em garantir uma foto posada a seu lado, que tipo de vantagem eles achavam que teriam ao ter sua imagens associadas a ela, ovelha negra da família, ela não sabia, mas não se daria o trabalho de explicar isso a nenhum deles. Poucas coisas a desagradavam mais do que toda a situação em que se encontrava, os sorrisos falsos que distribui, a obrigação de tentar recordar o nome de todos, e suas pequenas peculiaridades. Celeste sempre se considerou extrovertida, mas nesses momentos gostaria de se esconder em sua própria individualidade e se tornar invisível a todos os olhos que a buscassem apenas por interesse, detestava se sentir usada, como se fosse suja apenas por permitir que aquelas fotos fossem tiradas e estampassem revistas no dia seguinte.
Mas como uma piada do universo, o inferno de Celeste estava apenas começando, bastou um olhar ao outro lado do salão e ela soube disso com clareza, encontrou as irises verdes iguais as suas agonizando em um mar de desespero ao perceber a situação que se encontrava, como uma presa cara a cara com seu predador. A testa da garota se encharcou em gotas salgadas e frias, suas mãos se apertavam involuntariamente a sua silhueta no vestido, estava começando a se arrepender e muito da sua última ação rebelde no dia, de sua briga mais recente com seu pai para que ela enviasse os documentos para que a universidade em NY a aceitasse de volta no próximo ano. Então ao receber a mensagem de sua mãe dizendo que estaria na Itália no mesmo final de semana que eles, achou que seria genial convidá-la para o evento que ela mesma não suportava a ideia de ir.
— Mãe! — Exclamou com uma mescla de receio e animação, a mais velha sabia disso, apesar da distancia de sua filha, necessária já que não poderiam nunca conviver juntas todos os dias sem causar a próxima guerra mundial que levaria o mundo ao fim com elas, a conhecia como ninguém, como Nicolas nunca conseguiu, ou tentou conhecer. O corpo esguio de Celeste foi tomado pelos braços da matriarca, seu cheiro marcante sufocando suas vias aéreas e manchando seu subconsciente de lembranças agridoces.
— O ar de Mônaco sempre te fez bem — comentou fitando a garota dos pés à cabeça, Celeste sorriu com cautela sem saber bem como aceitar o elogio. — Filha, a postura — corrigiu, como sempre fez, mesmo que amasse a filha com todo o coração, sempre parecia achar um pequeno detalhe que a incomodava, em seu corpo, seu comportamento, suas roupas, nada nunca agradaria completamente a mulher que criou Celeste, e saber disso a machucava, fez com que ela começasse a ver todas suas ações com a mesma criticidade, e quando percebeu, a jovem era tão crítica a si mesma quanto sua mãe fora sua vida inteira. Apesar de não demonstrar para quem olhasse de fora, nada em si mesma seria suficientemente bom para ela, como nunca fora para sua mãe. Mas mesmo sabendo de toda a cobrança excessiva, sua mãe nunca fora tão ruim quanto seu pai, e por isso a tinha convidado para o evento, por isso e porque sabia o quanto seria divertido a reação de Nicolas ao encontrar sua ex-mulher em um habitat naturalmente dele.
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Ruin my life • Mick Schumacher
Fanfiction18 spin-off Mick e Celeste nunca tiveram muito interesse em se conhecer. Ambos viam de famílias inseridas no meio do automobilismo, tinham amigos em comum, eventos em comum, e mesmo assim estavam confortáveis ignorando a existência um do outro. M...