Rebeca

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   A minha manhã foi péssima, estava me sentindo pior do que o normal, não podia faltar na escola por ser início de semestre, e como não falava com ninguém, não teria a matéria. E além disso teve o vizinho, não sei o que ele quer, mas vive insistindo em uma conversa comigo, tento ser seca, mas ele é insistente.
   No horário do almoço, sai da escola como o cotidiano e fui caminhando até o ponto. Esse horário é o que mais tem gente, por causa da universidade, me sinto incomodada, mas sigo em frente, sem olhar para ninguém, só foco no chão.
   Uma mão toca meu ombro, fico balançada, no meio de tanta gente fico confusa de quem fez isso. Subo o meu olhar, e é Antônio, em todo o seu entusiasmo que eu conheci, sem tirar o sorriso do rosto, se aproxima de mim.

- Rebeca! Se eu soubesse que você viria para cá teria te oferecido uma carona. - Ele lembrou do meu nome, algo ridículo, mas nem os professores lembram de mim, mesmo depois de 2 anos. - Você vai para casa?

- Vou, mas não precisa, vou de ônibus. - Espero que ele não insista no convite

- Ônibus lotado, o carro só vai ter eu e você. E você chega mais rápido. - Antônio estava certo, e eu precisava ir para a terapia daqui a pouco, mesmo que eu achasse que não adiantasse nada, era obrigada a ir.

- Tudo bem, aceito a carona. - Ele sorriu para mim, com aquela felicidade que era quase contagiante, pegou o celular e estava chamando o Uber, provavelmente decorou o endereço que me perguntou cedo.

- Vai demorar 5 minutos. - Confirmo com a cabeça e fico olhando os carros passarem. - Você sempre é quieta, assim?

- Não gosto muito de conversa, acho que me acostumei a não ter ninguém para conversar.

- Não tem amigos na escola?

- Você acha que alguém vai querer falar comigo? As pessoas nem gostam de chegar perto de mim achando que eu sou contagiosa. Não entendi porque você tá tentando se aproximar de mim.

- Você parece ser legal, não sei o que aconteceu, mas quero ser seu amigo. - Olho para ele confusa, é estranho ouvir isso, dou os ombros e ele continua no interrogatório. - Você mora com seus pais?

- Eles morreram a dois anos. E não precisa pedir desculpas nem falar que sente muito. - Ele fica quieto, e eu continuo. - Moro sozinha, minha tia manda dinheiro todo mês para pagar as contas, a escola e outras coisas.

- Também moro sozinho, mudei ontem para fazer faculdade. Onde eu morava não tem, meus pais me mandam dinheiro também, pra eu focar nos estudos. - Um carro branco se aproxima da gente e para. - O Uber, vamos. Foi silencioso até em casa, nos despedidos e cada um foi pra o seu apartamento, naquele dia não vi mais ele.

O Céu Nunca Esteve Tão AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora