𝗗𝗼𝗰𝗲 𝗣𝗲𝗰𝗮𝗱𝗼 - G!P

Perdão

Eu estava há quase meia hora encarando aquele estúpido envelope, trancada no escritório da minha casa, depois que chegara do trabalho. Era o começo de um novo final de semana de folga, em que eu, mais uma vez, não tinha nada para fazer a não ser ler.

E agora aquele envelope chegava para quebrar a rotina apática que eu tinha conseguido estabelecer com tanto esforço.

Era uma carta de Carolina.

Liz me entregara assim que eu cheguei, e desde então eu estava ali sem saber se abria ou não. No fim, simplesmente rasguei o envelope, tirando de dentro duas folhas dobradas ao meio.

"Phoenix, Outubro de 2016

Bárbara

Se não escrevi antes, foi por falta de coragem, e também por achar que você simplesmente rasgaria minha carta. Espero que não tenha rasgado essa.

Sei que você deve estar me odiando pelo que fiz, e tem toda razão de estar assim. O que fiz foi errado e sujo, embora, no começo, achasse ser a coisa certa a fazer.

Naquela noite, quando cheguei à sua casa, estava com tanta raiva por Victor ter me deixado sozinha, que só pensava em me vingar. E durante aquele jantar, enquanto você estava tentando ser tão simpática comigo, eu me deixei levar pela raiva. Minha mente foi traçando aos poucos o plano perfeito, que incluía você me ajudando a fazê-lo provar do mesmo veneno. Para mim, não havia forma melhor de me vingar de Victor, do que traí-lo com a própria mãe. E naquela mesma noite, depois de ir para o meu quarto, eu planejei cada movimento que deveria tomar perto de você. Escolhi as roupas que deveria usar para te seduzir, pensei no que deveria falar ou fazer para forçar você a me enxergar com outros olhos. Confesso que encontrar aquele livro de poemas não fazia parte do plano, mas quando vi que você estava se abalando com as palavras contidas nele, mesmo conhecendo cada um daqueles poemas, me deixou mais motivada. Porque eu percebi que não era pelos poemas em si, mas pela forma como eu falava. Ou talvez apenas por ser eu a falar.

A namorada do seu filho. A doce e jovem Carolina, em forma de tentação e pecado, como você mesma disse.

Sei que em vários momentos fui além dos limites. Na verdade, fui muito mais além do que a minha coragem me permitia. Mas continuava determinada a me vingar de Victor.

O que eu não esperava era começar a gostar de você de verdade. Eu queria desistir do plano. Mas os dias foram passando e nós fomos nos aproximando cada vez mais. E eu já não sabia mais como fazer para te contar a verdade sem que você me odiasse. No fim, foi exatamente isso o que aconteceu.

Mas eu desisti de verdade da vingança.

Naquele dia, quando fomos para Port Angeles, sei que você percebeu que eu estava nervosa e distante. Eu me encontrava no meio de um dilema, sem saber se contaria a verdade ou simplesmente deixaria aquilo para trás. Eu não queria ir para a cama com você tendo uma mentira pesando nas minhas costas.

Mas aos poucos eu fui percebendo que não era mais uma mentira. Eu realmente tinha me apaixonado por você. Pode ter começado como uma vingança infantil, mas não foi pela mãe do meu namorado que eu me envolvi. Foi por essa mulher incrível, carinhosa e atenciosa que você é.

Eu tinha traçado um novo plano. Eu voltaria para Phoenix ao final daquela semana, terminaria com Victor e então voltaria para ficar o resto das férias com você. Se você me quisesse, é claro.

Mas então Victor chegou de repente, nos pegando de surpresa. A forma como ele agiu, como se nada tivesse acontecido; como se ele não tivesse me deixado sozinha por duas semanas, quando eu era a namorada dele, para correr atrás da ex, trouxe de volta toda a raiva que sentia por ele. E quando ele ainda teve a coragem de mentir, dizendo que nada aconteceu entre ele e Tainá, foi o que faltava para me fazer despejar tudo.

Eu queria magoar Victor. Era o que eu mais desejava naquele momento. O que eu não percebi era que estava magoando a única pessoa que tinha sido honesta e se importado de verdade comigo. E esse é o meu único arrependimento.

Você pode não acreditar em mim – e por que acreditaria depois do tanto que menti? –, mas agora estou sendo completamente honesta. Eu amo você. Não sei quando me dei conta disso, mas sei que nunca senti por ninguém, o que senti e ainda sinto quando penso em nós duas.

Sinto muito por tudo. De verdade.

Sempre sua,

Carolina.

P.S.: Eu não estou mais com Victor. Talvez isso nem deva lhe interessar, mas gostaria que você soubesse. Nós voltamos juntos para Phoenix, mas esse foi o último dia que o vi. Soube, por uma amiga em comum, que vocês não estão mais se falando. E, mais uma vez, peço desculpas por ter sido a responsável por estragar a frágil relação que você tinha com seu filho.

P.S.S.: Ainda tenho aquela camisa branca. Pensei se deveria devolvê-la ou não, mas queria ter algo que me fizesse sentir que você não está assim tão longe de mim."

Pov Carolina

O susto que levei ao chegar em casa depois de passar o dia patinando com Milena, foi tão grande que gritei. Cheguei a pensar que ela nunca responderia minha carta. Corri para pegar o envelope, abrindo-o tão rápido que quase rasguei junto com o único papel que havia dentro. Mas ao abrir a folha, a decepção que me atingiu ao ver as poucas palavras escritas em letras elegantes, foi maior do que se ela tivesse mandado o sermão que eu imaginara que receberia, caso ela respondesse a carta.

"Carolina

Pode ficar com a camisa. Não me importo.

E sobre Victor, nossa relação já estava fadada a ficar como está agora. Você apenas acelerou as coisas. Não se culpe. Não por isso.

Você tem razão em dizer que não tem o direito de pedir o meu perdão. Mas saiba que você já o tem. Você tem o meu perdão por ter sido infantil a ponto de não saber o limite de uma vingança e até que ponto estava disposta a brincar comigo como se eu fosse um fantoche.

Pode ser que um dia te perdoe completamente, porque eu também, de alguma forma, me apaixonei por você. Só não sei se esse dia chegará. Mas saiba que, se ele chegar, você será a primeira a saber.

Fique bem.

"Bárbara Passos"

Xxx

;-;