Nem bem tinha fechado a porta atrás de mim e já sentia vontade de voltar e dizer que estava mentindo. Que ainda a amava, apesar de tudo. Mas eu tinha sido honesta ao dizer que seria incapaz de pedir que ela largasse a sua vida para vir morar comigo. Talvez até pudesse dizer que iria com ela para onde ela quisesse, mas uma vez já arrisquei deixar minha cidade e tentei construir minha vida com minha ex esposa em outra cidade, e não dera certo. Eu podia me enganar ao pensar que dessa vez seria diferente, mas não tinha certeza.
Então, sem saber o que fazer, apenas fiquei ali do lado de fora da cozinha, sentada no chão, encostada à porta fechada, ouvindo os soluços de Carolina.
Não sei quanto tempo fiquei ali, mas quando finalmente levantei, sentindo meus músculos protestando por ficar tempo demais na mesma posição, nenhum som se fazia ouvir no cômodo ao lado. Olhei rapidamente para o relógio de pulso, vendo que já passava das cinco da manhã, e em breve eu estaria saindo para ir trabalhar, embora minha disposição para isso fosse zero.
Preocupada com o silêncio dentro da cozinha, abri a porta lentamente, espiando o seu interior antes de entrar por completo. Carolina estava sentada na mesma cadeira em que a deixei há mais de uma hora, seu rosto agora repousado no seus braços cruzados em cima da mesa. Ao me aproximar mais, percebi que ela dormia tranquilamente, apesar da mancha molhada na manga do cardigã deixar claro que ela estivera chorando quando parara naquela posição.
Sem mal pensar no que fazia, me abaixei um pouco ao seu lado, passando uma mão por baixo dos seus joelhos e a outra ao redor da sua cintura, erguendo-a nos braços com facilidade. No seu sono frágil, Carolina acordou, de início parecendo assustada, mas logo relaxou quando me viu, se aconchegando nos meus braços como se ali fosse o lugar mais confortável que ela poderia estar. E sem qualquer palavra, tanto minha quanto dela, a levei até o quarto que Liz costumava usar, no andar de baixo, sabendo que Carolina não tinha subido as escadas em momento algum para se acomodar em um dos quartos de hóspedes.
O quarto não era tão grande quando os demais da casa, mas Liz tinha feito um excelente trabalho deixando-o bonito e confortável depois que lhe dera carta branca para decorar como quisesse.
Lentamente depositei o corpo frágil na cama bagunçada, puxando a colcha grossa para cobrir suas pernas que tinham ficado completamente de fora, quase deixando sua calcinha à vista. Mas antes que eu pudesse me afastar, uma mão gelada me deteve.
Me voltei para perguntar o que ela queria, mas me vi incapaz de falar qualquer coisa quando senti seu polegar descrevendo círculos na minha mão, seus olhos cravados no meu rosto, me encarando com tanta intensidade que me tirou a linha de pensamento. Por muito pouco não sentei naquela cama apenas para ficar mais perto dela, querendo remover aquela única mecha que caía no seu rosto, se perdendo na curva do seu pescoço delicado.
Foi com muito esforço que desvencilhei nossas mãos, recuando um passo antes de sucumbir à tentação.
- Precisa de algo? - perguntei por fim no tom mais neutro que consegui empregar à minha voz, rezando para que ela não respondesse "você", porque se isso escapasse da sua boca, eu sabia que estaria perdida.
- Eu só... queria te olhar pela última vez.
E ainda assim, de alguma forma aquelas palavras ditas num sussurro fraco conseguiu ser pior do que eu poderia esperar.
A constatação de que aquela seria a última vez que veria aquela doce garota quase me fez ruir em desespero, como se uma parte de mim tivesse sido arrancada. Antes, quando nos separamos depois daquela fatídica tarde de sábado quando Victor aparecera, eu estava com tanta raiva que só queria distância dela. E mesmo quando a raiva diminuíra e a saudade começara a se fazer presente, ainda havia a mágoa que continuava querendo-a longe. Só agora percebia o quanto meu orgulho tinha camuflado a falta que sentia dela. Mas eu sabia que deveria me afastar. Deixar que algo acontecesse entre nós novamente seria a maior besteira que eu poderia fazer, mesmo querendo mais que tudo ao menos abraçá-la. E foi por isso que lhe dei as costas naquele momento, sem falar uma palavra sequer, fechando a porta atrás de mim. Eu precisava daquela distância para pensar com clareza. Precisava ir embora e deixar Carolina ir.
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𝗗𝗼𝗰𝗲 𝗣𝗲𝗰𝗮𝗱𝗼 - G!P
FanfictionOnde após ser traída pelo namorado Carolina Marzin busca consolo nos braços da sogra, Bárbara Passos *Bárbara intersexual* ⚠️A fanfic terá abuso sexual⚠️ |Adaptação, história original está no perfil: whyjaurelesba|
