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  Com o impacto repentino de nossos sentimentos mais fortes, batendo, fazendo estrondos, dentro de nós para sair. O acúmulo deste em um outro plano material seria capaz de causar uma mínima fissura entre o espaço, desta forma, liberando agora a personificação do nosso sentimentalismo que tanto tempo foi aprisionado.

-Tudo começou pela manhã, eu vi com meus próprios olhos aquele brilho, e logo um monte de pessoas saindo dele. Mas, todas pareciam uns com os outros, mas não de dentro daquele negócio, mas com as pessoas da rua!

  Naquela altura do final de tarde, era de se supor que o estado da cidade era vivenciado como um inferno, no entanto, foi bem pior do que este suposto esperado. As ações humanas contra seus sósias pareciam até mesmo tentativas de suicídio de tão irreal, e de certo modo, irônico de assistir. Não demorou para que, a tomada do lugar pelas cópias, fosse respeitada por aqueles que estavam longe, temendo conhecer a si mesmo e ter sua vida roubada por uma perfeita cópia sua, tirando o fato deste não segurar seu emocional e sua aparência monocromática cinzenta reluzindo como vidro.
  Como um inconveniente, em meio a gritos de desespero, disparos e fragores, agora ouvia um som metálico e tremido ecoar perante um beco vazio da cidade. Uma visão de outro ser monocromático, no entanto, branco com olhos fulgentes azuis, uma estatura de aproximadamente 1,60m. Sua articulação era esquisita, se movimentando independentemente, claro, fazendo alguns ruídos pela movimentação das peças. Ainda que com este ser, ali na área coberta por sangue, cadáveres e cópias vivendo uma vida rotineira, a presença do ser metálico aparentava ser nula.

-Formas de vida orgânica realizando sua função social... ERRO! Formas de vida orgânicas abatidas! - Naquele pequeno intervalo de tempo, com seu rosto minimalista virando-se aos lados, não compreendia o sentido da ignorância humana em ignorar completamente seus semelhantes caídos ao chão, apenas seguindo o mesmo padrão. A inteligência artificial deixou de documentar em seu disco rígido o acontecido, com a ausência de importância, decidiu armazenar suas próprias conclusões. -Eles estão presos na rotina, não notaram os defuntos largados ao chão? Alguns apresentam mesmas características físicas e vestimentas, aparentemente irmãos gêmeos, mas em grandes quantias.

  Mesmo que tentasse compreender tal situação a qual se encontrava, o que poderia ser facilmente resolvido com a distinção da coloração acinzentada das pessoas, o robô não continha um visor tão aprimorado, seu mundo era escalado entre o preto e o branco. As funções deste, anômalo do convencional, era de realizar o registro de conversas e situações que este conseguia captar vindo de um asilo, como uma forma de se obter conhecimento involuntário das pessoas, assim, não precisando captar totalmente as cores por receio disso se tornar um problema, dessa forma, apenas captando a ausência e presença de luz que viria a produzir cor.
  Naquela área perigosa, com inúmeros sentimentos vestindo seus parasitas, o robô não tinha uma cópia, ele não tinha sentimentos, mesmo que sendo mais sentimental que os próprios. Voltando a caminhar, pisando sobre os corpos que até então não eram nada de acordo com seus registros, foi em direção de um dos monstros dissimulados, um simples cidadão com uma blusa, calça jeans e tênis. Com sua postura firme e voz soada do Balabolka, este começou suas dúvidas:

-Por que não ajuda aquele caído?

-Ele não me ajudou quando eu estava caído. Por que eu deveria ajudar ele então?

-Ele faz parte de sua raça, e etnia.

-Ele faz, mas não me é importante.

-O que deve ser importante para que se preocupe?

-Algo que me dê algum valor social. Olhe em sua volta, ninguém se importa com estes, apenas consigo mesmo.

-Isso não apresenta sentido lógico, você anseia valor social, mas não executa valor ético ou moral.

ArtificialWhere stories live. Discover now