Capítulo 04- Operação Magari.

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O silêncio indicava que o chuveiro havia sido desligado, o homem sentado no chão, encostado na parede se levanta e sem nada dizer, entra em seu carro e vai embora.  Atrás de uma pilastra, outro homem viu tudo, mas respeitou a dor do amigo, pensava no porquê de seus melhores amigos, se amando tanto, estavam afastados. Decide naquele momento que precisava fazer algo, por eles e também pelas crianças,  Yusuf,  Umut e Melisa.
A caminho de casa, Yamam liga o rádio do carro e sua playlist toca a canção  Magari ( Quem sabe) de Renato Zero.
"Quem sabe tocasse a mim
Cuidar dos teus dias
Despertar-te com um café
E te dizer que nunca envelheces...
Dissolver os nós dentro de ti
A mais obstinada melancolia... Quem sabe
Quem sabe tocasse a mim
Tenho experiência e capacidade
Transformista por vocação
O que não se faz para não morrer... Podes confiar de me deixar teu coração
Nenhuma dor o fará murchar... Quem sabe
Quem sabe tocasse a mim
Um pouco daquela felicidade... Quem sabe saberei te esperar
Amanhã e depois de amanhã... E depois
Eu como uma sombra te seguirei
A ternura é um talento meu
Não te desapontarei na justa distância eu
Serei como tu queres
Eu tenho algumas habilidades também... Me testa...me testa
Encanador, garçom
Na necessidade eu faço
Nada me assusta
Menos competir com o amor mas desta vez deverei conseguir te olhar no rosto sem enrubescer... Quem sabe
Se tu me conhecesses, por certo não me negarias duas asas, pois tenho uma grande desordem na minha mente e somente tu poderás me curar... Fica!
Eu estou pronto a parar, pois o céu assim quer, pegar-me em voo e depois não me deixes cair desta altura, sabes que não se salva jamais...
Me amas? Quem sabe...
Me amas!?!? Quem sabe"
_Será que posso me atrever a desejar reconquistá-la minha doce princesa. Murmurou Yamam enquanto estacionava o carro. Ao entrar em casa sua cunhada lhe entrega  uma correspondência, trata-se de uma notificação para que comparecesse no escritório de advocacia Ferit Aslan na manhã seguinte.
Na mansão Kerimoglu, Seher contava histórias para as crianças que acabaram adormecendo, com a ajuda de Sinan as colocou na cama. Depois os três adultos, Seher e os irmãos, juntos tomaram um café. Conversaram sobre as possíveis surpresas que seriam desvendados através da leitura do  testamento, a volta  de Sinan para Ankara, a permanência em definitivo de Melek que assumiria os interesses de Seher na empresa dos Kerimoglu e também sobre  as expectativas de Seher acerca de Yamam.
_ Dirá a ele que é  pai?
_ Não pretendo Sinan, se possível inventarei um pai para os meninos, ele me expulsou de Istambul logo após  me prometer amor, em três anos jamais me procurou. Eu sou a mãe de Melisa e Umut e isso bastará para eles.
_ Não poderá esconder as crianças por mais tempo minha amiga.
_ Melek, eu sei, mas quando ele descobrir, não necessariamente serão  filhos dele.
_ Não concordo, mas respeitarei sua decisão.
_Obrigado amigo.
_ Se Mahur, fizesse isso comigo não a perdoaria.
_ Sinan, sua esposa jamais foi rejeitada, não teria por que agir assim.
_Não consigo imaginar minha vida sem Mahur e a pequena Ada.
Seher sorri ao lembrar da doce ruivinha de olhos azuis, que com seus três aninhos já era capaz de cativar todos à sua volta como o pai.
Às  dez horas da manhã,  Seher chegou,  acompanhada de Altan, ao escritório de advocacia,  ao ser encaminhada a sala, seguida de seu mordomo, que também foi convidado, olhos verdes e escuros se encontram, ela não estava surpresa pois ele estava representando Yusuf Kirimli, ao olhar à  sua volta, vê  Selim Sangu, e tio Firat ( era assim que ela se referia ao advogado,  amigo de longa data do seu pai).
_Bem vinda minha menina, está  cada dia mais linda!
_ Diz isso por causa do seu amor tio Ferit. Mas obrigada.
_ E as crianças, como estão? Soube por Adini que teve problemas com Melisa.
_ Foi um susto mas ela está bem.
Yamam que a tudo observava, estranhou quando o advogado perguntou pelas crianças no plural mas imaginou se tratar da menina e de Yusuf.
O testamento foi lido, Yusuf Kirimli receberia 25% das ações, Seher Kerimoglu, 50% e a fração restante seria igualmente dividida entre Umut Kerimoglu e Melisa Kerimoglu. Um quinhentos mil dólares seria depositado a favor de Altan. Mas havia uma cláusula que citava Selim Sangu, caso Seher não se casasse em trinta dias, 20% das suas ações seriam imediatamente repassadas a ele.
Ao olhar para trás, Seher vê o homem sorrir descaradamente. Yamam parecia perdido em pensamentos, tentava processar a existência de Umut Kerimoglu. Imaginava de quem se tratava, talvez um primo, ou parente distante que Seher nunca havia  mencionado. Desperta do seu devaneio ao perceber que o tom de voz de Seher  estava visivelmente alterado.
_Pelo sorriso de deboche, essa ideia ridícula de casamento partiu de você, Selim Sangu.
_ Exatamente, como sei que não há ninguém na sua vida, eu serei o único candidato a te salvar. E  tem mais, todos nós sabemos que uma mulher jovem como você precisa de cuidados especiais de um homem, terei prazer  em satisfazê-la. O sorriso agora se ampliou,  mas Seher, com um soco, o desfez, o homem cambaleou mas partiu para cima dela que novamente desferiu outro, irado, novamente selim avançou sobre ela, Yamam menção de avançar no sujeito mas Seher com um movimento de mão o fez parar.
_ Não interfira, este maldito me prejudicou muito até hoje, mas agora acabou.  Se voltando para o homem atordoado, ela continuou: _Eu abriria mão de tudo se fosse necessário, mas não me casaria com um usurpador como você. 
_ Eu me caso com você, Seher.
_ Yamam,  não pense que me enganaria novamente como fez a três anos atrás.  Não preciso de você. Tio Ferit, me desculpe pelos estragos, Altan vai ressarci-lo pelos prejuízos. Selim antes de deixar o local deu algumas instruções ao mordomo.
_Altan ,  por favor, cuide Umut e Melisa, estarei fora até  amanhã à  noite. Por favor me dê  a chave do carro. Se importa de voltar de táxi?
_Não minha menina, mas não é  melhor que eu a acompanhe?
_Não,  preciso estar sozinha. Providencie para que haja um jantar na mansão amanhã,  convide, Melek, Sinan, tio Ferit, o Coronel Adini, Serkan e o tio de Yusuf. Ao se virar para Yamam que completamente surpreendido a olhava, ela volta a falar. _Por favor, leve consigo a Nedim e Leyla, a irmã dele.
Da porta ela voltou. _Senhores, amanhã no jantar saberão a minha decisão sobre o que será feito. Erguendo o celular ela acrescenta: _ Desligarei, não quero ser encontrada. Os três,  completamente apáticos apenas a assistem partir.
Após dirigir por cerca de duas horas, período em que não pensou em nada, apenas se atreve à  atividade de conduzir, buscando assim se acalmar. Seher chegou em uma das propriedades da família que mais amava, uma pequena casa de praia que mais parecia pertencer a uma vila de pescadores, graças a Altan ela estava limpa e bem cuidada, do carro, a jovem retirou os alimentos que comprou em uma loja de conveniência, os deixou na cozinha e foi caminhar pela praia… agora sim se permitiria pensar em tudo que aconteceu naquela manhã. Descalça,  deixava suas pegadas na areia, se sentia só,  divagava entre pensamentos bons e ruins, Yamam se propôs a casar-se com ela, mas o fez a anos atrás  também  e não cumpriu suas promessas, no dia seguinte ao pedido de casamento, ao chegarem juntos no quartel encontraram o pai dela, revelando assim que o sargento Seher K. era a herdeira dos Kerimoglu. Por se sentir traído, pois sempre pensou que a jovem, retirada daquela adega em meio ao incêndio, era apenas um dos funcionários. Não bastando o fato de sua condição financeira ser exposta, Yusuf Kerimoglu também humilhou Yamam dizendo que não daria mais uma de suas filhas à  família Kirimli que não possuía  tradição,  origem nobre e consequentemente riqueza, para ousar desejar sua filha. Movido pela raiva, ele a transferiu para Ankara. Seher, que foi obrigada a seguir o pai naquela manhã, recebeu a comunicação em casa, voltou algumas vezes ao quartel mas Yamam havia tirado uma semana de licença e não estava na cidade.  Entendendo que tudo havia terminado, ela se apresentou no quartel de Ankara, três dias depois de viver a noite mais inesquecível de sua vida.
Em sua sala no quartel, Yamam andava de um lado para o outro, tentava se acalmar, a notícia de que Seher era mãe de gêmeos,  dada pelo advogado logo após  a saída abrupta dela ainda parecia irreal. Ele chama seu amigo, o Tenente Serkan, em sua sala.
_ Você sabia que Seher tinha gêmeos?
_Sim, Umut e Melisa.
_ Desde quando?
_ Desde que a levei para fazer o ultrassom, com cinco meses de gravidez. Lembra que eu, todo mês, tirava dois ou três dias de licença? Ele afirma com a cabeça.  _Pois bem, acompanhei Seher em todas as consultas.
_ São  seus?
_O que?
_Não finja que não entendeu. Eles são seus filhos?
_ Seher apenas diz que são dela. Agora se me der permissão, tenho relatórios para assinar, Como Seher não está e eu preciso cuidar disso.
_ Mais uma coisa. Vocês estão juntos?
_ Juntos para o que der e vier, meu amigo. Nunca conheci uma mulher mais incrível.  Ele se retira e sem olhar para trás,  sorri ao ouvir o barulho das coisas que estavam sobre a mesa do Major Kirimli  serem lançadas ao chão. _ Operação,  Magari começa agora. Murmurou o amigo de ambos que decidiu fazer o teimoso Major sentir ciúmes.
Anoitecia, sentada na areia, Seher se perde ao observar o ir e vir das ondas, a espuma e suas bolhas, buscava se concentrar nestas coisas tolas para descansar a mente de tantas dúvidas, sentiu fome e resolveu voltar para a casa que apesar de pequena, era confortável.
Ao sair do quartel Yamam observa o sempre calmo e sorridente Serkan, visivelmente nervoso e resolve saber a razão.
_Aconteceu alguma coisa, Serkan?
_Sim, não consigo
contato com Seher, ontem ela estava mal, hoje seria a leitura do testamento.
_Eu estava lá, venha, vamos tomar um café e eu te conto.
Depois de ouvir com detalhes a narrativa, Serkan ficou em silêncio.
_No que está pensando, tenente?
_Em um lugar onde ela possa estar, não acho bom deixá-la sozinha. Nunca se sabe se este Selim pode aprontar. Ele conhece todas as propriedades dos Kerimoglu.
_Tem razão,  não havia pensado nisso.
De repente Serkan alterando a voz, diz ter tido uma idéia. 
_ Se conheço aquela teimosa, ou ela está na casa da praia ou na cabana. O que acha de nos dividirmos?
_Me passe a localização.
Tomando direções contrárias, ambos partem para missão de cuidar da segurança da capitão Kerimoglu.
Do sofá da sala, por causa da grande parede de vidro, Seher podia ver o surgir da lua que aos poucos iluminava o mar, o que mais amava naquela casa era isso, enquanto tomava seu café ela assistia o espetáculo da natureza em todo o seu esplendor, acabou adormecendo.
Na estrada, Yamam corria, temia  que aquele sujeito se vingasse de Seher, sorriu ao lembrar da surra que ele levou. Se lembrou dos treinos que fazia com sua subordinada que sempre persistente, buscou superar seus limites. Ele tinha que concordar com seu amigo, ela era incrível.
Ao longe Yamam avistou um carro que lentamente acessou a estrada que levava à  localização, decidiu então,  parar ali e seguir a pé no intuito de surpreender o visitante. Ao descer do veículo,  ele a passos largos, passando por um pequeno bosque, cortou caminho.
Na casa, Seher ainda dormia, mas acabou sendo despertada pelo ruído de uma porta sendo aberta. Rapidamente ela se coloca de pé e se esconde atrás de um aparador, o vulto sorrateiramente invade a sala.
_ Seher, vim satisfazer suas necessidade e convencê-la a se casar comigo pois sou sua melhor opção. A luz da lua reflete na arma e pela sombra, a oficial consegue ver que o homem estava armado.
Estava prestes a atacá-lo quando ouviu um som oco, seguido da queda do corpo inerte de Selim Sagu. Olhos verdes e escuros se encontram… ele chuta a arma para longe e faz duas ligações, uma para polícia e outra para Serkan avisando do ocorrido, tudo isso sem tirar seus olhos dos verdes que assustada, ainda o olhava.
_ Tem algo que possamos usar para amarrá-lo?
_ Não sei.  Ela estava visivelmente em choque.
_ Seu lenço,  me dê  seu lenço. Ela tira o lenço que prendia seu cabelo em um rabo de cavalo e o entrega. O movimento do cabelo caindo como cascata pelas costas dela o encanta, sempre encantou. Ele balançou a cabeça tentando voltar à razão, amarra o transgressor e só então, se aproxima dela.
_ Está bem? Ele te tocou?
_ Não,  Você chegou bem na hora mas como soube que eu estava aqui?
_ Serkan imaginou dois lugares, nos dividimos e aqui estou eu.
_ Obrigada, ela disse se sentando. A polícia chegou, registrou a ocorrência  levando, a seguir,  Selim sob custódia.
Assim que saíram, Seher pediu a Yamam que fizesse o mesmo.
_ Tem certeza?
_ Sim, preciso tomar uma decisão.
_ Vai aceitar minha proposta é se casará comigo?
_ Nem cogito essa possibilidade.
_ Mas…
_ Por favor, Yamam, eu realmente desejo que você vá  embora. Ela o interrompe, não desejava discutir o passado e muito menos o futuro com o homem, que apesar de ser o pai dos seus filhos, a deixou pelo caminho uma vez.
Se dirigindo para o carro, Yamam decide que não perderia aquela mulher pela segunda vez. Decidindo então, passar a noite ali, no carro. Temia que Serkan aparecesse…
Ainda sentada no sofá, olhando a paisagem, Seher tomou a decisão que revelaria no jantar do dia seguinte…

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