8 - O melhor amigo

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LUNA VALENTE

Matteo havia acabado de me pedir perdão, e lembrei que, estávamos na escola. Por causa deste empecilho, disse:

- Matteo, se levanta. Se a diretora nos pega aqui... - Nem deixou que eu terminasse de falar e tomou ar para que pudesse reerguer seu corpo. Desejava, internamente, que pudéssemos nos reerguer rapidamente. Contudo, ele teria que me provar que estava realmente falando a verdade. Doía não confiar, mas, estava muito abalada pela cena da noite anterior. Só estava mais contida devido ás palavras da minha mãe.

- Luna, você me perdoa? - Ele insistia em me pedir perdão, e falava belas palavras perto de mim. Por mais que a minha vontade fosse de beijá-lo, apenas tentei me esquivar de um contato mais próximo.

- Matteo, obrigada pela rosa, pelo gesto... E agradeça à minha mãe por eu estar falando com você, porque, se não fosse por ela, eu teria desviado de você.

- Sua mãe? - Ele me perguntou.

- Sim. Ela mesma. - Respondi.

- O que ela fez? Ou, o que ela disse? - Cheio de curiosidade, como sempre parecia ser, perguntava, Mais uma vez, eu o respondia.

- Eu e minha mãe conversamos. Só isso. Ela me disse para aceitar a realidade, e seguir em frente. Principalmente, e durante toda a vida, ela me ensinou a perdoar. - Suspirei, e como ainda faltava um certo tempo para que pudéssemos estudar em sala de aula, sentei em um dos brancos bancos de madeira daquele jardim florido. Nem estava molhado, embora tivesse chovido muito na noite anterior.

- Eu não sei o que dizer. - Ele estava cabisbaixo, mas, logo olhei firme e fixamente em seus olhos.

- Eu não vou guardar rancor. Talvez eu ainda toque nesse assunto... talvez isso ainda venha ser uma ferida entre nós, mas, eu te perdoo. Eu prefiro ter amor no meu coração. Prefiro ter compreensão e perdão, do que ficar guardando mágoa, ódio. - Supirava. - Pensa bem, e olha para esse mundo. Por que ocorrem tantas guerras? E as disputas pelo poder, Matteo? Não seria falta de amor ao próximo?

Ele parecia entender muito bem o que eu desejava dizer, embora ainda não tivesse sido muito clara sobre qual era, naquele momento, a minha intenção. Não me importava se o ocorrido poderia se espalhar como o vento que toca a minha pele todos os dias, nem sobre os maus pensamentos e as fofocas que poderiam surgir sobre nós dois. Só queria ser, ou pelo menos tentar ser, uma pessoa melhor, mais compreensiva, porque isso me deixaria muito mais pronta para viver a realidade. Meu desejo não era combatê-la, pois, seria a mais inútil das tarefas, mas vivê-la de forma digna, resiliente e sem me abalar tanto pelas fortes emoções. Para mim, talvez, poderia ser uma missão quase impossível, mas - sem dúvidas - seria uma forma de tentar combater grande parte da maldade que poderia tentar estar à minha volta.

- Seria falta de amor sim. Eu não quero ficar sem amor... Não quero ficar sem você. - ele insistia em nós. Parecia que realmente falava a verdade.

- Eu te perdoo, Matteo. Sim, eu perdoo. - suspirei e olhei em seus olhos mais uma vez - Minha mãe mesma admitiu que nunca me deixou enxergar as desgraças do mundo, e mesmo assim, ela fez questão de me dar um choque de realidade mais cedo. Tudo isso me fez bem, e eu aprendi que posso ser melhor do que antes, que posso aprender a perdoar, mesmo que seja uma atitude extrema. Deus perdoa, sim? Por que eu não perdoaria? - suspirei mais uma vez, e continuei, mexendo as minhas mãos perto do meu rosto, e falando pausadamente - Eu só quero me afastar um pouco, porque eu preciso me recuperar. Eu admito, pela primeira vez, que nós dois nos entregamos a um caminho sem volta muito rapidamente... Não que tenha sido ruim, mas, saltamos alguns passos e nem nos conhecemos como deveríamos.

- Luna, você está terminando comigo? - Ele parecia que iria chorar.

- Não. Eu só tô sendo sincera demais com você. Preciso de um afastamento para colocar a cabeça no lugar, porque, por mais que você assegure que aquilo não foi uma traição, meu coração doeu quando vi a cena.

Doce DeleiteOnde histórias criam vida. Descubra agora