A dor que percorria seu corpo a despertava lentamente, perdida em sua mente Lilian tentava procurar um sentido, estava tudo nublado até enxergar o demônio, com um despertar violento ela se levanta apressada, tinha lembrado o por que estava ali, ela queria ser forte, mais forte que qualquer um, queria mostrar que não precisava tanto das pessoas para proteger a si mesma, para proteger alguém... naquele momento ela tinha que se lembrar de tudo, com esse pensamento ela dobra o corredor e se dirige rapidamente aquela porta dupla que chamava bastante atenção, quando a abriu viu um coração em uma caixa de vidro, em cima de uma espécie de suporte feita com madeira escura, o restante se resumia em azulejos brancos e brilhantes, o coração ainda pulsava rapidamente, Lilian confusa começou a analisar o seu corpo percebendo que existia um buraco em seu peito.
Brava e impaciente ela se aproxima da caixa de vidro tentando abri-la, mas claro, não seria tão fácil, ela estava totalmente lacrada, sem indicação de uma parte removível, pensando em várias possibilidades Lilian achou que só tinha uma solução, ela arremessa a caixa com toda a força no chão a quebrando, alguns cacos o adentram, sete cacos no total, os mesmos eram capazes de lhe mostrar memórias dolorosas, antigas na maioria.
O primeiro lhe levou a sua infância, ela estava esperando em frente a uma loja de brinquedos, a sua volta tinha carros cobertos de poeiras estacionados aleatoriamente na rua, as lojas tinham portas ou vitrines quebradas, em meio a tudo isso o vazio se destacava, não tinha ninguém ali, era isso que ela pensava até ouvir alguém a chamar.
— Lilian, meu amor. — Seus cabelos eram negros e seu sorriso espantava qualquer mal, ao olhar seus olhos Lilian se lembrou de seu nome, Maria, ela não era sua mãe mas agia como a mesma, sempre ao seu lado a protegendo e espantando a solidão — Olha o que eu achei!
Em seus braços se via um coelho de pelúcia, ele deveria ser totalmente branco, mas o abandono lhe fez ficar bege, pela primeira vez os olhos de Lilian brilharam, aquele coelho, ela tinha um igual mas teria o perdido a muito tempo.
Naquela época Lilian se negava a falar, ou ao menos não via a necessidade de algo assim, Maria sempre tentava fazê-la feliz, ela tinha esperança de que a menina agisse como uma criança de novo, mas a única coisa que a garota conseguia pensar era na morte.
Seu coração se aperta e outra imagem aparece, ela estava em sua casa antiga, acabará de chegar da escola junto com o seu pai, o que seria mais um dia normal se tornou um pesadelo quando eles começaram a ouvir gritos vindo de seu quarto, abrindo a porta se percebe que lá sua mãe a olhava morbidamente enquanto alguma criatura a comia, seus olhos já não tinham mais vida, Lilian em algum momento pensou ter visto sua mãe se mexer, mas isso era consequência dos movimentos daquele monstro, ele a comia pedaço por pedaço esmagando toda a esperança que o coração de uma criança poderia carregar, seu pai acaba soltando um grito de dor fazendo assim a criatura se virar posteriormente, enquanto aquela coisa corre em sua direção Lilian finge um desmaio, ela ouviu seu pai morrer, pedir ajuda, implorar por misericórdia e por algum motivo ficar em total silêncio.
Quando abriu seus olhos não tinha mais nada ali, somente o sangue de quem a amava, somente corpos tão estraçalhados que seria impossível reconhecer quem seria o seu pai e quem seria a sua mãe, tudo o que lhe sobrou foi aquele coelho de pelúcia, durante muito tempo ele foi sua família, mas aonde ele está agora?
O terceiro lhe mostrou algo estranho, ela estava em um tipo de hospital olhando para o final de um corredor, ali Lilian viu Mateus, ele parecia perdido, mas assim que a viu correu em sua direção e a abraçou, depois disso se teve o vazio, ela não via mais nada.
O quarto deixou um gosto amargo em sua boca, ela comia algo, quando abriu os seus olhos a visão se fez de diversas pessoas sorrindo e tentando agradá-la, mas ela não sentia nada, não se sentia feliz então por que sorrir? Eles sorriam enquanto Lilian se afundava na própria consciência, ela se lembrava de seu coelho, se lembrava de Maria, mas e o resto? Como ela foi parar naquele lugar?
— Lilian, olha para mim.
Aquela voz a acordou de seu sonho lúcido, ela procurava incessantemente de onde ela vinha.
Seus braços estavam amarrados na cadeira, suas pernas não se mexiam por algum motivo, o desespero a preencheu e enquanto se debatia e gritava alguém encostou em seu ombro e falou:
— Lilian.
Finalmente aparecendo em sua visão se encontrava Mateus, a garota se acalmou e o observou decidida, ela não perderia ele de visão novamente, não se esqueceria, não podia esquecer. Um guarda se aproxima e o puxa para fora da sala, Lilian grita tentando impedir o que estava por vir, mas nada adiantou, o garoto desapareceu quando passou por aquela porta, Lilian repete infinitas vezes que não poderia se esquecer dele, não poderia esquecer o que aconteceu e não poderia esquecer quem ela é, mas nada adiantou, em alguns segundos a fatídica pergunta chegou: "esquecer do que?"
O vazio estava preenchendo e nada mudaria isso.
O quinto veio com uma pancada, ela caiu no chão sem reação, ao encostar em sua cabeça percebe que está molhada, olhando sua mão se vê o seu próprio sangue, a dor e a confusão a invadem juntamente com um grito:
— Você está maluco?!
Passos apressados vinham em sua direção, se ela tivesse que morrer ela aceitaria de bom grado, por isso não se mexia ou implorava por sua vida, ela estava mesmo viva?
— Sai de perto!
Lilian sentia mãos geladas a tocarem calmamente acariciando o seu rosto, posteriormente a levantando.
— Vem, vamos embora daqui.
— Qual é o seu problema? Por que você se importa tanto com um demônio?
Ao observar o rosto de seu salvador ela lembra o seu nome, Mateus, ele sempre esteve ao seu lado desde aquele dia, sempre cuidou dela, como ela poderia esquecer isso?
Caminhando para fora do galpão, Lilian depois de muito tempo sorri novamente.
— O que foi? — Ele pergunta preocupado, talvez a pancada tenha sido muito forte.
— Eu me lembro, eu lembrei o seu nome!
Durante todo o caminho os dois lançavam sorrisos e risadas incansáveis, eles estavam felizes naquela época, ninguém tiraria isso deles enquanto os dois ficassem juntos.
O sexto mostrava que o final estava próximo, eles andavam livremente em uma cidade abandonada, sua forma de proteção era se mantendo unidos, enquanto um tiver a visão do outro, nada os faltará.
Lilian saia saltitando e cantarolando algo, não sabia o que se falava na canção por isso soltava palavras aleatórias tentando imitar o som, Mateus sempre ria quando ela fazia isso, a garota realmente não murmurava mal, ele simplesmente gostava de a observar, durante muito tempo ela ficou sozinha, e os dois sabem que precisam um do outro para continuar vivendo, se ela não o tivesse impedido de se jogar daquele prédio ele...
O sétimo mostra a verdade, não importa o quanto se amem, alguém sempre vai os separar, desta vez foram grupos de soldados, eles lhes prometeram segurança, mas no fim só lhe causaram desilusão.
Quando Lilian pisou em frente ao grande muro que cerca toda a construção ela pode ver, ela sentiu que não deveria entrar, tudo acabaria se o fizesse, mas a escolha foi tirada de suas mãos, ela se esqueceu da existência de Mateus novamente, isso se deu por uma simples brincadeira entre um demônio e alguém disposto a aceitá-lo em seu corpo, uma simples piada escrita por um demônio com uma caneta preta.
"A liberdade nunca mais vai existir', quem a fará lembrar destas palavras? "
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O destino
Kısa HikayeUma garota sem memorias, sem sentidos, não é nada. Uma garota sem amor, sem felicidade, é tudo. Em um mundo onde dor é poder, ela vai controlar o destino dos outros, mas nunca o dela, pois o demônio sempre observa.