14 - Memórias

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Devia ser por volta das sete da noite, já havia escurecido. Entramos no cinema e olhamos os cartazes. Um cartaz chamou especialmente a minha atenção, A Caçadora de Sonhos. Sim, realmente o mesmo nome do livro que Resh havia escrito para Sheila. Eu vi o trailer por uma tela que havia antes de comprar os ingressos, e a personagem principal realmente se chamava Sheila.

O filme era sobre Sheila, uma jovem que entrava nos sonhos das pessoas em busca de seu amor que havia sido aprisionado em um sonho. Ela tinha que encontrar qual era o sonho.

O filme começou, eu sentei ao lado de Lao ele segurou minha mão e sorriu para mim. Depois se virou para a tela.

Uma voz narrava:

"Eu sempre quis saber até onde o amor pode levar uma pessoa. Arrependi-me de descobrir para onde ele podia me levar. Meu único amor foi preso em um mundo de dimensões infinitas, e em algum lugar nesse mundo ele está apenas me esperando para voltarmos para casa. Tudo por puro egoísmo daquela mulher. Maldita Bruxa."

Durante a narração, as cenas não eram tristes. A menina estava lutando contra diversos seres sobrenaturais de sonhos, ação total. Os olhos de Lao brilhavam. Era o tipo de filme onde somente com ajuda de efeitos especiais os golpes poderiam ser executados, mas para Lao aquilo era como um livro de artes marciais, porque qualquer golpe ele iria copiar automaticamente.

O filme me decepcionou um pouco. Eu não esperava tanta ação, e eu estava esperando que houvesse uma daquelas cenas melosas que criaria um clima entre mim e Lao.

A cena veio no final.

Ela conseguiu encontrar seu amado, e era a cena perfeita para o clima rolar entre nós dois.

Eu olhei dentro dos olhos de Lao.

Ele olhou para mim.

Ele veio.

E como ela havia dito. Foi mágico.

Eu sentia um calafrio no corpo, minhas mãos suavam ao longo que eu o segurava pelo pescoço e ele me puxou para seu colo. Meu corpo estava aquecendo e meu coração queria pular para fora, era assustador e ao mesmo tempo estranho. Mas fora isso era uma sensação ótima, era, como de dizer, prazeroso. Eu não queria largar. Não queria me separar sequer um segundo. E ele sentia a mesma coisa, eu podia perceber pela força de seu abraço. Não sabia que alguém podia ser delicado e bruto simultaneamente.

Eu imaginava se todas as vezes seriam assim, ou se seria apenas a primeira vez. Se todas as vezes seriam apaixonantes como essa. Não queria esperar muito para saber.

— Charles... Meu poder voltou.

Congelei naquela hora. Meus olhos o fitaram, eu esperava que ele comentasse algo.

— Co-como as-sim?

— Não se preocupe. — Ele sorriu e balançou negativamente a cabeça, como que debochando. — Amiga interessante você fez hoje.

— Sim. — Respondi.

— Você poderia me prometer uma coisa?

— O que?

— Da próxima vez que for beijar outra mulher, certifique-se de no mínimo saber o nome dela.

Só então eu havia me dado conta de não saber o nome dela.

— Tudo bem.

Eu ri.

O filme terminou e nós saímos.

Saindo pela porta do Shopping onde ficava o cinema avistamos o Líder, Rose e Resh.

— Estávamos a sua espera Lao. — Falou o líder.

— Charlotte, temos que resolver algo. Poderia voltar para a Ordem? Vamos ficar fora por um tempo. — Falou Resh.

— Sim, claro Resh.

Eu não queria ficar longe de Lao. Mas a única pessoa que eu respeitava mais que Resh era minha mãe, e ela já se fora.

Sai de perto e acenei para eles me despedindo.

Foi o fim do meu dia normal. Eu mal podia esperar pelo reencontro com aquela menina, ela era o tipo de amiga em quem se pode confiar.

Invoquei Angus. Montei nele sumindo da vista de todos os humanos.

Voei para o leste, me distanciando dos deuses.

Eu não sabia para onde ir. Não sabia onde era a entrada para a ordem. Fui para minha casa.

Algum tempo depois eu estava em meu quarto. Deitada na minha cama de olhos fechados, eu não dormiria, mas eu podia ficar ali, apenas pensando na vida, descansando.

Era a primeira vez depois de muito tempo que eu estava sozinha, ainda mais em casa.

Tudo ali me lembrava de minha mãe. Eu não queria esquecer ela, mas cada quadro daquele quarto, da sala, cozinha, ou qualquer outro lugar, qualquer móvel que recorresse á lembranças de eu e minha mãe era como uma facada no peito.

Sem Lao para me apoiar naquele momento o que me restou foi chorar. E eu chorei, chorei, nunca imaginei que seria possível chorar tanto.

Comecei a imaginar e pensar; se realmente existisse o paraíso e o inferno, para onde minha mãe teria ido? Eu a conhecia como uma mulher pura, a dona de uma grande empresa que trabalhava em casa. Mas na ordem, não sabia como ela era. E se ela já tivesse matado pessoas? Será que Deus teria tido compaixão dela? Eu não acreditava em Deus, mas esperava que se ele existisse, tivesse ajudado a ela.

Foi então que ouvi um forte estrondo no portão. Fiquei assustada e corri para ver o que era.

— Belo palpite Fernanda. — Falou Flavia olhando para meu rosto com seu sorriso doce.

Aquelas meninas da União de Orion eram a prova viva de que as aparências enganam.

— Obrigada. — Respondeu Fernanda.

Senti minha energia sendo sugadas. Antes de apagar eu a vi.

Karini me segurava e me levava para um portal no horizonte.

Depois disso não vi mais nada.

A Ordem Secreta - Histórias de Uma DeusaOnde histórias criam vida. Descubra agora