07 - Igreja Matriz

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Ele deve ter sentido que eu estava com fome. Quer dizer, ele dissera que não iriamos jantar. Mas lá estávamos em um restaurante.

Não fizemos nada durante o jantar além de trocar olhares — sorrir não seria uma boa ideia, imaginei. Não fui ensinada a conversar durante as refeições. Teríamos todo o tempo da patrulha para conversarmos. E eu esperava ficar bem informada no final de tudo.

Terminamos de comer. Eu fui ao banheiro, escovar os dentes, não avisei para ele, ele sabia por que eu me levantara sem falar nada. Eu não planejava nada de estranho — como beijar ele mais tarde —, só queria mostrar que eu me preocupava com a saúde de minha boca. Embora isso provavelmente fosse desnecessário uma vez que eu era — uma deusa.

Saímos para caminhar após meu retorno. Não dei tempo para que ele respirasse ao ar livre e comecei a perguntar. Ele até pareceu um pouco surpreso. Eu não planejava aquilo, aconteceu sem que eu pensasse.

— para onde os outros foram? — Perguntei com o modo deusial, que naquele momento parecia o meio mais seguro de proteger nossa comunicação.

— Estão guardando a região. — Respondeu em voz alta.

Eu fiz uma careta.

— Não é seguro falar em voz alta — sussurrei.

— Não tem problema, se algo estiver para acontecer eu saberei. Àquela hora fui pego de surpresa, mas agora estou atento.

Eu sabia que ele se referia ao encontro com Karini no campo.

— Como assim? — perguntei agora em voz alta. Eu era acostumada a falar em voz alta e o modo deusial me deixava um pouco incomodada.

— Esqueça. Vou explicar porque as pessoas nos olham e simplesmente nos ignoram.

— Tudo bem — assenti.

— A resposta é que elas não nos enxergam, não exatamente. Podemos escolher se somos vistos ou não.

— Como assim?

— Elas nos sentem independente de nos verem ou não, "há alguma coisa ali" elas pensam. O vento nos contorna, então ao cruzar — literalmente — por nós elas por um instante deixam de sentir o ar.

— Já permitiu ser visto alguma vez? — perguntei.

— Sim, uma vez. Jaresh não gostou muito. Várias testemunhas oculares de um homem sobre um tigre gigante. Depois disso nunca mais permiti.

Eu ri.

— Se eu não o conhecesse eu definiria assim se te visse, um homem pelado sobre um tigre gigante. Posso começar minhas perguntas?

— Claro que pode. Fique à vontade. — Ele deu aquele sorriso doce.

Era essa a resposta que eu esperava.

— O que está escrito em nossa roupa? — Essa era a minha maior curiosidade. Eu ficava vendo aquelas letras estranhas e não conseguia identificar nenhuma.

— Esse é o maior segredo da ordem, somente Jaresh, Aline e — graças à minha habilidade de ler mentes — eu sabemos. — Ele falava normalmente.

— Mas não poderia me contar? — eu pisque os olhos tentando parecer de algum modo uma pobre garotinha implorando.

— Não há uma lei que me impeça de falar. Até porque ninguém deveria saber. Acho que eu não devo.

— Tudo bem — Abaixei a cabeça, eu realmente queria saber aquilo. Fiquei um pouco decepcionada.

— Pesando melhor — falou ele no modo deusial — O nome dele é ######.

A Ordem Secreta - Histórias de Uma DeusaOnde histórias criam vida. Descubra agora