Aquele dia, provavelmente, estava sendo um dos piores na vida de Sal. Quando o azulado terminou o ensino médio em New Jersey, ele finalmente pôde respirar por estar livre do ambiente tóxico escolar que presenteou o menino com depressão e uma ansiedade fodida. Não era nada fácil ser alguém diferente no meio de tantas pessoas iguais que buscavam a perfeição e se achavam donas do mundo, fazendo piadas e agredindo quem era diferente delas. Nesse dia em especial, Sal Fisher estava prestes a começar outra jornada árdua em uma nova instituição de ensino, cercada por jovens adultos. Ele, por experiência própria, sabia o quão cruel pessoas maduras conseguiam ser, os adultos lançavam olhares nojentos para Sal. Lá estava ele, iniciando a faculdade de música em Nockfell, cidade onde seu pai Henry recebeu uma ótima oportunidade de emprego. O garoto não tinha planos para faculdade, mas também sabia que não poderia simplesmente terminar o ensino médio e viver mofando enquanto o pai dava duro no trabalho. Foi uma decisão um tanto quanto difícil, até mesmo Henry estava com medo do que o filho viria a enfrentar.
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6:00AM.
O despertador não parecia tocar, e sim berrar na orelha do garoto, que bateu a mão com certa força no aparelho. Ele se sentou na cama e esfregou os olhos, descendo a ponta dos dedos pelo resto da face. O estômago de Sal quase entrou em combustão quando sua ficha caiu, era como se cada toque nas cicatrizes em seu rosto, desbloqueasse uma memória do passado. Memórias sombrias de quando ele ainda era apenas um garotinho no meio de crianças e jovens cruéis.
Com um respirar fundo, ele levantou e andou firme até o banheiro. Tomou banho, escovou os dentes, penteou os cabelos e vestiu uma roupa adequada. Em sua bolsa xadrez toda enfeitada com bottons de bandas e alguns chaveiros, ele colocou apenas um caderno, canetas e o inseparável frasco de pílulas calmantes. Com a bolsa no ombro e máscara prostética em mãos, Sal desceu para o encontro do pai na cozinha.
— Bom dia, garotão. Dormiu bem? — Henry dirigiu a palavra ao filho enquanto bebericava sua xícara de café e lia o jornal local. Não obtendo reposta, Henry procurou o garoto em seu campo de visão. Ele estava parado em frente a porta de saída, paralisado com a mão na maçaneta.
— Sal? Estou falando com você. Vai sair sem tomar café? — Questionou outra vez.
Sal saiu do transe alguns segundos depois, respondendo o mais velho sem diretamente olhar para ele. — Perdão, pai. Não estou com fome hoje. — Ele sabia que era a ansiedade corroendo o seu interior, fazendo-o querer vomitar as entranhas. — Tenha um bom dia no trabalho, nos vemos a noite. — Assim o azulado se despediu do pai e seguiu caminho para o tão esperado inferno.
Nas ruas já era possível ver alguns universitários seguindo o mesmo caminho que Sal. Tão apáticos e desanimados quanto ele. Perdido em seus próprios pensamentos enquanto caminhava, Sal foi bruscamente interrompido quando dois jovens passaram correndo e gritando por ele. O garoto de cabelo ruivo tinha algo em mãos enquanto corria, e a garota de cabelos castanhos olhava para trás e gritava coisas como: "Rápido, ele vai nos alcançar." Enquanto ria. Sally quase pensou que toda aquela situação fosse sobre sua aparecia esquisita e aquela máscara, até sentir uma pancada em seu ombro que o fez cair de joelhos, juntamente da pessoa que trombou em si.
— Porra, cara, foi mal! — O garoto de cabelos castanhos e longos foi o primeiro a se pronunciar, levantando e juntando as coisas de Sal do chão.
— Err... Não foi nada. — A calça antes intacta de Sal agora tinha um rasgo no joelho esquerdo e um belo ralado. Ele ajudou o rapaz a juntar as coisas e colocou a bolsa de volta no ombro. Ficou parado no mesmo lugar vendo o menino voltar a correr em toda velocidade, foi então que ele percebeu que esse era o motivo de toda a correria dos outros dois jovens. Suspirou aliviado, mas logo sentiu o ardor no joelho. Não ligou muito e voltou a caminhar.
A entrada da faculdade estava tumultuada. Jovens fumavam e bebiam escondido em garrafinhas que eram para ser de água, mas julgando pela cara amarga que eles faziam ao beber, Sal teve certeza que aquilo não era água. Próximo aos portões, ele avistou os jovens de alguns minutos atrás. O ruivo massageava a cabeça com uma carranca de dor, enquanto a garota olhava para o rapaz alto de cabelos longos, rindo mais ainda.
— Caralho, Ashley! Você e o Todd são dois idiotas. Se tivessem quebrado o meu disco, os dois seriam obrigados a comer pedacinho por pedacinho! — O cabeludo Ralhava com os amigo.
— Relaxa, Larry... O seu disco está bem. — Todd, o ruivo, murmurou com um bico nos lábios.
— Eu estou todo suado e ainda esbarrei em alguém enquanto corria atrás de dois imbecis! — Ele abanava a si mesmo com a mão enquanto segurava o cabelo com a outra.
Sally observava a discussão de longe, esboçando um sorrisinho por baixo da máscara. Eles com certeza eram melhores amigos e não pareciam nada com universitários, pensou o azulado. O devaneio foi quebrado quando ele sentiu um líquido quente molhar sua calça, o ralado no joelho estava sangrando. Sal andou com passos apresados para dentro, sendo observado pelo grupo de amigos que antes discutia e mais uma multidão de pessoas. Não é todo dia que se vê um garoto de cabelos estupidamente azuis usando uma máscara patética.
— Cara, quem é aquele? — Ashley comentou com os amigos, observando o azulado passar apressado.
— Porra, foi nele que eu esbarrei enquanto corria atrás de vocês. Nunca vi ele por aqui. — Larry colocou a mochila nas costas e um disco de vinil embalado debaixo do braço. — Eu deveria ir me desculpar melhor? — Perguntou aos amigos enquanto andava com os mesmos para dentro do grande prédio.
— Bom... A culpa foi nossa também. — Disse Todd.
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When I met you. - sarry
RomanceUma nova cidade, novas pessoas e uma nova vida. Sal Fisher está prestes a enfrentar as dificuldades em ser um jovem diferente na universidade de Nockfell. Ele só não esperava mudanças bruscas e um tanto violentas. Fic de Sally Face com foco em Sarr...