Do lado de fora do salão, poucos minutos daquela quadra, o pequeno Sal respirava ofegante escorado em um muro e com as mãos nos joelhos. Sem se importar com nada naquele momento, ele tirou a máscara e a arremessou com força no chão. Estava decepcionado com si mesmo e com sua instabilidade, não era mais uma criança, precisava superar aquilo.
— Foda-se essa merda toda! — A máscara rachada pelo impacto do chão agora estava despedaçada do outro lado da rua. Zonzo por conta da pouca bebida em seu organismo e com muita raiva, Sally colocou toda sua força naquele chute.
O cabelo bagunçado e os fios azuis de sua franja colados na testa suada, assim ele permaneceu, rendendo-se ao cansaço e sentando na calçada. Larry era legal demais para ser amigo de alguém como ele, pensava o azulado.
Enquanto isso, o grandalhão cabeludo se espremia no meio da multidão tentando alcançar Sally, que por ser pequeno passou por ali sem problema algum. Estava quase na saída quando foi puxado por uma mão de unhas grandes e pontudas pintadas na cor vermelho sangue, ninguém menos que Sunny. A garota parecia furiosa, marcando as unhas na pele de Larry e tentando puxá-lo para longe da porta.— Sunny, não posso agora. Falo com você depois, por favor, me solta. — Mesmo puxando o braço para se livrar do aperto, ela não soltava.
— Não, você me fez de otária! Por que tá fugindo? — Quanto mais Larry puxava, mais Sunny fincava as unhas em seu braço.
— Olha, não tenho tempo! — Larry não tinha intenção de machucar Sunny, mas com toda aquela insistência ele foi obrigado a puxar o braço com força, o que resultou em uma unha quebrada. Correu para longe dela e daquela festa.
Ele já tinha sacado que Sally era um garoto instável, provavelmente abalado psicologicamente. Também não passou despercebido a falta de confiança que vinha do menino, mais parecido com medo. Esses pensamentos atormentaram a cabeça de Larry enquanto caminhava pela rua vazia iluminada pela luz fraca de postes velhos, o vento gelado batendo contra a pele fez ele estremecer. Não sabia exatamente onde procurar por Sal, no entanto, resolveu ligar para o azulado. Estava chamando, ou seja, Sal recebeu a ligação.
— Não venha. — A voz rouca do outro lado da linha atendeu.
— Por que? Está frio e eu consigo ouvir o vento, você não foi pra casa. Eu posso te levar.
— Você não pode me ver. — Suspirou o pequeno de cabelos azuis, fitando o chão onde estava sentado.
— Vamos, Sal! Eu quero ser seu amigo, eu te levei pra festa e o mínimo que posso fazer é entregar você bem pro seu pai. Me diga onde está que vou agora mesmo. — encostado em um dos postes, Larry esperou que Sal cooperasse, já passava das 21:00h.
— Esquina do Bakker's Bar... — Sally encerrou a chamada o mais rápido que pôde, tirou um lenço do bolso e o amarrou no rosto, deixando apenas seus olhos a mostra.
Não conseguiu entender o porquê de ter dito á Larry onde estava, tinha algo dentro dele implorando para não ficar sozinho. Algo que fez seu coração acelerar pensando que agora teria que encarar o rapaz alto e insistente, este que ainda queria estar ao lado de Sal mesmo que sempre se metesse em enrascadas quando estavam juntos. Se ele soubesse o quanto Sunny ficou furiosa com Larry. Não demorou muito para que sons de passos se aproximassem na rua da esquina, Sally levantou assustado e deu de cara com o metaleiro descabelado pelo vento e cansado de tanto de correr.
Foram longos minutos intensos se encarando. Larry não havia percebido que o menor tinha o mais lindo céu azul no lugar dos olhos, estes que ficaram ainda mais vividos naquela noite. Sem perceber, com movimentos automáticos, Larry pousou a mão no topo da cabeça de Sal e deslizou os dedos entre os fios azuis até as pontas sem desviar os olhos do mar á sua frente. E foi quando ele viu aquele mar transbordar em lágrimas. Sally imediatamente cobriu os olhos com a manga do casaco e derramou lágrimas pesadas, ele não conseguia segurar os soluços e o desespero estranho que aquele momento causou em seus sentimentos. Sem demora, ele sentiu braços gelados em volta de si em um abraço quente. Larry precisou se abaixar um pouco para encaixar o pequeno em seus braços e o apertar ali, não era o momento para dizer nada, apenas ficar em silêncio.
E na festa o caos se instalava. Uma das unhas quebradas de Sunny sangrou por todo o piso branco enquanto ela gritava de raiva, a menina saiu pisando fundo no meio do povo em procura dos amigos de Larry. Ashley foi a vítima, ela fez a garota um tanto bêbada ligar para Larry pois sabia que ele atenderia, e bingo! Ele atendeu. Para a tristeza do castanho que agora acompanhava Sal até o apartamento, não foi a voz de Ashley que veio daquela ligação e sim um grito estridente cheio de fúria. Sunny ameaçou vender os órgãos de Larry para pagar o concerto das unhas e por deixá-la esperando, também deixou bem claro que eles teriam uma boa conversa na segunda-feira. Sally observou espantado toda aquela gritaria no telefone e logo sentiu um pesar que esquentou sua cabeça. Larry se meteu em confusão outra vez por causa dele e agora seria assassinado pela garota louca.
— Desculpa, acho que causei sua morte. — Comentou Sal tentando descontrair o clima, Larry parecia realmente preocupado.
— Tsc! Tudo bem, dou um jeito de me esconder até ela esquecer. — Riu soprado, entrando no grande prédio onde ambos moravam.
As coisas ficariam esquisitas se Larry subisse com Sal até o 402, então se despediram ali mesmo de um jeito meio atrapalhado. Não sabiam se um aperto de mão era o suficiente ou um simples "tchauzinho" ou se deveriam se abraçar, as mãos estavam nervosas e suadas.
— Me desculpa por isso. — Larry se desculpou de antemão antes de inclinar o corpo em direção ao menor e deixar um beijinho em sua testa. Depois disso, ele saiu correndo para o seu apartamento e deixou um Sally Fisher corado e tremendo para trás.
Coisas bem estranhas aconteceram, mas foram boas.
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When I met you. - sarry
RomanceUma nova cidade, novas pessoas e uma nova vida. Sal Fisher está prestes a enfrentar as dificuldades em ser um jovem diferente na universidade de Nockfell. Ele só não esperava mudanças bruscas e um tanto violentas. Fic de Sally Face com foco em Sarr...